Rio Grande do Sul

Pandemia

Queda no volume de doadores e transplantes é motivo de palestra sensibilizadora

Medo da pandemia contribuiu para reduzir número de doadores; Famílias precisam ser conscientes e permitir doação

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Evento realizado procurou sensibilizar as famílias sobre a prática da doação de órgãos - Reprodução

O diálogo “Da doação ao transplante”, realizado nesta quarta-feira (12), contou com a palestra da médica Larissa Karsburg e relatos de integrantes de famílias doadoras, transplantados e de quem espera para receber um órgão. A atividade teve o propósito de tirar dúvidas e estimular a doação de órgãos frente a queda no volume de transplantes e doadores em decorrência da pandemia da covid-19. 

Após consecutivas altas, o número de transplante de órgãos, tecidos e células feitos pela rede pública caiu. No ano passado, foram 62,9 mil transplantes realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), número 22% menor do que o volume realizado em 2019 (81,4 mil). A lista de espera por órgãos chegou a 50 mil pessoas, enquanto houve queda nas taxas de doação e de transplante. No RS o número de doadores efetivos em 2020 foi de 182 para transplantes de rim, fígado, coração e pulmão. No ano anterior, 243 para transplantes dos mesmos órgãos. Uma queda de 76%.

Morte encefálica é a que permite doação

Com auxílio de ilustrações, fotos, estatísticas e pesquisas, a médica Larissa Karsburg, que atua na emergência do Hospital Tacchini e na UPA de Bento Gonçalves, detalhou o caminho e os protocolos para a doação. A especialista acentuou que apenas pessoas com morte encefálica são doadores de múltiplos órgãos. Essa causa é responsável por apenas 1% do total de mortes. E desse percentual, 42% dos familiares não autoriza a doação.

“Há dificuldade das pessoas entenderem o que é morte encefálica e profissionais da saúde não explicarem adequadamente. O Brasil não é uniforme em infraestrutura em saúde e isso também faz com que não consigamos notificar todas as mortes encefálicas”, acrescentou.

A comprovação técnica de que o paciente teve morte encefálica só ocorre em ambiente hospitalar, como UTIs, salas de recuperação ou emergências, sendo que apenas 10% tem essa como causa da morte. O universo que possibilita a efetiva doação de órgãos é muito restrito, reforçou Alessandra Andrade, do Coletivo de Proteção Infantil Voz Materna, realizador da atividade juntamente com o projeto Cultura Doadora, da Fundação Ecarta.

Protocolos e transparência

Os testes para o laudo de morte encefálica são feitos por médicos que não atendem o paciente e não atuam na unidade de internação do potencial doador. As etapas para dar início ao processo que pode resultar em transplante seguem protocolos rígidos.

Esse caminho depende de um conjunto de variáveis que envolvem a Central de Transplantes dos estados, equipes médicas capacitadas, setores de logística para assegurar rapidez no transporte dos órgãos, aviso ao paciente em lista com exíguas horas para realizar o procedimento, equipes de transplante a postos nas UTIs dos centros que realizam transplante, foram alguns esclarecimentos feitos na atividade.

“É um processo médico que não acontece sem a participação da sociedade”, ressalta a palestrante. Ela descreveu exemplo sobre a durabilidade de órgãos fora do corpo. O rim é de 24 horas, enquanto coração e pulmão apenas seis horas sem bombeamento sanguíneo.

A live contou com a interação de transplantados, como é o caso de Monique Perosa, de Caxias do Sul. Ela ganhou um coração novo há três meses e contou sua história no chat, durante a transmissão pelo Facebook. Ela agradeceu os familiares do doador do órgão que permitiu continuar a vida.  

Superação na lista de transplante

No Brasil, morreram 2.709 adultos e 56 crianças em 2020 a espera de um órgão, enquanto no ano anterior foram 2.484 adultos e 77 crianças. Rochelle Benites aguarda em lista por dois pulmões e contou seu sonho de atividade após o transplante: quero andar de bicicleta com meus filhos. Aos 37 anos foi diagnosticada com um tipo de fibrose pulmonar, passou a usar oxigênio 24 horas e tornou-se uma ativista pela doação de órgãos. Teve vídeos que viralizaram nas redes e hoje faz transmissões semanais, integra projetos e criou o Consciência Doadora.

Enquanto contava sua história de superação, se emocionou e comoveu os participantes do encontro virtual.

“Tive que me reconstruir, juntar meus pedaços, acordar todo dia e educar meus filhos.” Também destacou a importância das faculdades de Medicina e Enfermagem tenham disciplinas de formação sobre doação e transplantes de órgãos, inexistentes nos currículos.

Rochelle relatou os momentos de tristeza e de impotência, mas também de esperança. “Eu preciso estar viva pra ver meus três filhos crescerem. E eu vou estar. Preciso de dois pulmões, preciso viver. Me ajudem”, concluiu ao estimular o diálogo sobre a doação nas famílias.

Medo da covid reduziu lista

Em 2020 morreram no Brasil 2.709 adultos e 56 crianças a espera de um órgão, enquanto no ano anterior foram 2.484 adultos e 77 crianças. O ingresso de pacientes em lista no ano passado foi menor do que no ano anterior: 26.359 adultos e 1.220 pediátricos (até 18 anos) em 2020 e 39.469 adultos e 1.194 pediátricos em 2019. A chegada da covid-19 levou os pacientes a deixar de procurar atendimento em saúde temendo contrair o coronavírus, o que acabou reduzindo o número de ingressos em lista.

O estado gaúcho registrou o ingresso de 1.311 adultos e 90 pediátricos na lista em 2020; e 107 adultos e seis crianças acabaram morrendo a espera por um órgão. Em 2019, ingressaram 2.330 adultos e 136 pediátricos e foram a óbito 112 adultos e 12 crianças.


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Edição: Katia Marko