Rio Grande do Sul

Coluna

Por uma Frente Nacional de Combate à Fome

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"Hoje, 2021, o Natal Sem Fome, os Comitês Populares de Combate à Fome, as Cozinhas Solidárias são gestos e respostas concretas, juntando a unidade popular com a solidariedade" - Foto: Maiara Rauber
“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando"

“Sois poetas sociais, porque tendes a capacidade e a coragem de criar esperança onde só aparecem o descarte e a exclusão. Poesia significa criatividade, e vós criais esperança. Com as vossas mãos sabeis como forjar a dignidade de cada pessoa, das famílias, e da sociedade como um todo, com terra, casa e trabalho, cuidados e comunidade”, diz o Papa Francisco.

Poetas sociais chamam/convidam para a Plenária nacional contra a fome, que vai acontecer no dia 26 de novembro, sexta-feira, 10h. Está na linha de frente do convite para a construção da Frente nacional de Combate à Fome o SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade), mais a Ação da Cidadania, a Conferência Popular nacional por Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, o Movimento nacional Fé e Política, o Periferia Viva, o Banquetaço, o CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional), Gente é para brilhar, não para morrer de fome, o MST, entre outras instituições e movimentos populares de todo Brasil.

O Brasil saiu do Mapa da Fome, segundo declaração da FAO/ONU em 2014, pela primeira vez na história. Mas voltou ao Mapa da Fome nos últimos anos, fruto do fim das políticas de soberania e segurança alimentar e nutricional, de agroecologia e produção orgânica, extinção do CONSEA (Conselho nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), da CNAPO (Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica), entre outras tantas instâncias e espaços que garantiam políticas públicas contra a fome e a insegurança alimentar e nutricional e coordenavam, governo federal e sociedade civil em trabalho conjunto, programas de governo de apoio á agricultura familiar e camponesa, à Economia Solidária, junto com ações  para ´saciar a sede de beleza´, como dizia Frei Betto no início do Fome Zero, ao mesmo tempo em que era prioridade matar a fome de pão.

Não há mais tempo a perder. Diz o convite para a Plenária nacional do dia 26: “Erradicar, superar, enfrentar, combater a fome é um dos desafios que a Humanidade tem de encarar. No Brasil, há registros de mais de 170 anos de lutas populares para a solução do custo de vida, da desigualdade econômica e social e para o aperfeiçoamento dos sistemas agroalimentares numa perspectiva onde caiba todo mundo e se respeite a natureza.” É preciso “convergir forças e inteligências para a superação da fome no Brasil”.

Alguns eixos de ação serão debatidos na Plenária, no processo de construção da Frente nacional:

Articulação territorial, acesso à comida e transição (eco)econômica: Espaço para que as organizações e movimentos possa compartilhar experiências vivenciadas nos territórios, dando-lhes visibilidade, compartilhando infraestruturas e metodologias, com a construção de um novo pacto civilizatório.

Formação na ação: Mapear e articular o patrimônio pedagógico-educativo no campo da educação alimentar, com apoio a Fóruns regionais e locais, agenda cultural e formação colaborativa

Comunicação e narrativas contra a fome: Trabalhar intensamente a narrativa contra a fome, compartilhar teias de comunicação, segurança e inteligência da informação.

Círculo colaborativo de defesa das políticas alimentares, visão do papel do Estado e governos e mobilização: Compartilhar informações, exercitar visão do papel do Estado, com mobilização e incidência política, apoiar novas legislações para erradicar a fome, com ação coordenada entre organizações de e em nível nacional.

A Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida, com Betinho na linha de frente nos anos 1990 e até hoje, serviu de referência de mobilização social contra a fome e construção e implementação de políticas e programas de segurança alimentar e nutricional. Hoje, 2021, o Natal Sem Fome, os Comitês Populares de Combate à Fome, as Cozinhas Solidárias são gestos e respostas concretas, juntando a unidade popular com a solidariedade, que vêm de homens e mulheres de boa vontade, de trabalhadoras e trabalhadores e suas organizações.

Mãos à obra, portanto, num grande mutirão, construindo uma Frente Nacional de Combate à Fome nos passos de Josué de Castro, Betinho e tantas-os outras-os que inspiram a boa luta e o cuidado com a Casa Comum.

Poetas sociais em ação, como foi Paulo Freire, o educador popular que completou 100 anos em 2021, sempre preocupado com os mais pobres entre os pobres e sua conscientização e libertação, e que disse: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, sem aprender a refazer, a retocar o sonho por causa do qual a gente se pôs a caminhar.”

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko