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A certeza da impunidade que alimenta o racismo

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Monark publicou pedido de desculpas e sugeriu a ida de convidados da comunidade judaica ao Flow Podcast; pouco depois, foi desligado do projeto - Reprodução/YouTube
Assim como os assassinos de Moïse, Monark contou com a certeza da impunidade

Por que Monark pode afirmar o que afirmou para uma audiência média de trezentos mil ouvintes?

Dias após protestos pelo assassinato brutal de Moïse Kabagambe, Monark teve coragem de afirmar que não se deveria proibir a criação de um partido nazista.
Num contexto de proliferação de células neonazistas no Brasil, o que Monark fez foi exercer seu privilégio dentro do contexto que lhe cabia, essa não é a primeira vez que ele faz declarações que podem alimentar o racismo, e servir de combustível para aumentar os ataques contra negros e negras.
Existe no Brasil uma insistência em questionar a existência de práticas racistas, expressão direta disso é a tipificação de racismo como crime inafiançável, sem que exista a execução da lei. Os casos de racismo são registrados como injúria racial ou, na investigação, é descartada a hipótese de motivações racistas para crimes explicitamente racistas.
Monark declarou que estava bêbado e que se expressou mal, antes disso ele afirmou que sua fala havia sido retirada de contexto, em menos de 24 horas o podcast da qual ele fazia parte perdeu alguns patrocinadores e ele foi demitido. Mas há o que comemorar?
Assim como os assassinos de Moïse, Monark contou com a certeza da impunidade, o mito de que somos um país racialmente democrático continua sendo pregado enquanto vemos aprofundar as mazelas sociais que atingem diretamente negros e negras, jovens e mulheres no Brasil.
Isso expressa a necessidade de, enquanto sociedade, pararmos de virar o rosto e ignorar o modo cruel como tratamos casos de racismo, desacreditando a vitima, recusando a reparação ou pior, como no caso do Rio de Janeiro, em que Eduardo Paes propôs que a família administre o local em que seu ente querido foi assassinado.
Este foi mais um caso que explicita o problema civilizatório que enfrentamos, para reagir é urgente que tomemos postos na luta antirracista sem cair em armadilhas hipócritas. Monark precisa ser preso, não apenas demitido.

Edição: Pedro Carrano