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Ninguém perdeu, ninguém ganhou

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"A imagem de ambos – Bolsonaro e Zelensky – foi construída com discurso antissistema, anticorrupção e parceria com órgãos de repressão e amparados por uma enorme polarização política" - Presidência da Ucrânia/ AFP
A direita brasileira é talvez a mais conservadora do mundo. Sempre se ajoelhou aos EUA nos golpes

Luís Nassif faz uma brilhante análise em seu blog: “Xadrez de Zelensky, o ´heróico comediante´ inventado pela mídia – O maior especialista na ultradireita da Ucrânia lança um alerta sobre a maneira como a mídia minimiza o neonazismo da Ucrânia, para não fortalecer Putin” (Jornal GGN, 21.03.22).

Diz Nassif: “A atual cobertura da Ucrânia está expondo, pela primeira vez, na era Google, as vinculações entre a mídia corporativa brasileira e a internacional com os interesses geopolíticos do Departamento de Estado dos EUA.”

Nassif elenca seis pontos e pactos para fundamentar sua tese, ou seu Xadrez.

Ponto 1 – Com Departamento de Justiça e tudo – No Brasil e na Ucrânia o primeiro movimento consistiu no impeachment de Dilma Rousseff. Na Ucrânia, na queda de Viktor Yakonuvych, antecessor de Zelensky, e que era pró-Rússia. Ambos, Dilma e Yakonuvych, testaram a nova fórmula geopolítica, do golpe parlamentar somado ao chamado lawfare (o uso da Justiça como arma política).

No caso da Ucrânia, a participação americana ficou nítida em vários momentos. Havia o envolvimento do vice-presidente Joe Biden. (Sim, ele mesmo e seu filho, segundo Nassif, grifo meu.)

Ponto 2 – A fabricação do Mito – Bolsonaro e Zelensky. A imagem de ambos – Bolsonaro e Zelensky – foi construída com discurso antissistema, anticorrupção e parceria com órgãos de repressão e amparados por uma enorme polarização política: Bolsonaro contra qualquer cheiro de esquerda, Zelensky explorando o sentimento anti-Rússia. E apoiados fortemente pelo aparato da mídia e pelos algoritmos da mídia.  

Ponto 3 – O defensor do mercado – Assim como Bolsonaro, Zelensky surgiu como candidato preferencial de forças pró-mercado. E usando como retórica primária o combate à corrupção. No poder, seguiram caminhos semelhantes.

Ponto 4 – O aparelhamento dos órgãos de controle. Com o tempo, a face mais polêmica de Zelensky foi a maneira como passou a usar a política e os poderes judiciários para promover os interesses de seu grupo e intimidar rivais políticos.

Pacto 5 – Os oligarcas de Zelensky. Para tentar recuperar a popularidade, Zelensky proibiu três estações de televisão, controladas por Viktor Medvedchuk e a subsequente prisão do oligarca suspeito de traição. (...) Nada diferente do padrão Bolsonaro.

Pacto 6 – A OTAN e a União Europeia. Em crise com seus principais padrinhos, EUA e União Europeia, é bastante provável que Zelensky tentasse sua última tacada: a adesão à OTAN e à União Europeia. Nada justifica a invasão russa e os danos da ofensiva contra a população civil da Ucrânia.

Eis o resumo do Xadrez do Nassif. Ou seja, nos acontecimentos dos últimos anos no Brasil e na Ucrânia, há muito mais que aviões de carreira sobrevoando o espaço aéreo. E muitos interesses subterrâneos das superpotências, embora nenhuma guerra seja defensável. Os interesses dos impérios atropelam a democracia e os povos soberanos sem piedade.

Ou seja, todo cuidado é pouco. O mar não está pra peixe, inclusive nas eleições brasileiras de outubro. Se fizeram o que fizeram no início dos anos 1960, depois da intensa Campanha da Legalidade no Rio Grande do Sul, dando um golpe, instalando uma ditadura militar por mais de 20 anos, porque não hoje de novo!!!???

Tentaram impedir Lula sempre. Nas greves no ABC, Lula na cadeia! Depois, nas primeiras eleições presidenciais, Globo, Collor e Cia., impediram a vitória de Lula em 1989. E o neoliberalismo instalou-se no Brasil. Nos anos 2000, em cima de mentiras e perseguição, os Dallagnóis da vida, hoje desmascarados, prenderam Lula de novo por longos 580 dias. Depois de tudo, Lula foi inocentado.

Se fizeram o que fizeram com uma presidenta legitimamente eleita, a primeira mulher, Dilma Rousseff, com o impeachment, cujos resultados e consequências são vistos a olho nu hoje, 2022, e não se arrependeram, por que não repetir!!!???

Por que não fariam de novo em 2022!!!??? A notícia e manchete da semana alertam todos os gansos, como se diz no Sul: “Nazistas marcam data para assassinar deputado Leonel Radde (na verdade hoje vereador de Porto Alegre) e Lula”. E a matéria acrescenta a deputada federal Maria do Rosário como alvo (Brasil 247, 24.03.2022). Só o povo organizado em milhares de Comitês Populares de Luta é capaz de segurar os ditadores e neofascistas de plantão, os vendilhões da pátria, os que tripudiam a democracia e a liberdade.

Para dizer, finalmente, que hoje, vinte e cinco de março de dois mil e vinte dois, quando escrevo, nada, nada está decidido nas eleições de outubro. Ninguém perdeu, ninguém ganhou. A direita brasileira é talvez a mais conservadora do mundo. Sempre se ajoelhou aos EUA nos golpes e ditaduras. Se houver oportunidade e condições, vai fazer, sem pudor e sem vergonha na cara, o que fez tantas vezes na história do Brasil: matar, ou dar mais um golpe.

Sem ilusões, portanto. PREPAREMO-NOS! Unidade, trabalho de base, organização popular, resistência ativa, mobilização social são/serão decisivas neste momento histórico.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko