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Coluna

Marx e a Contribuição para uma Crítica da Economia Política

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"Fato é, que a crise de 1857 não produziu efeitos mais profundos, o que leva Marx à convicção de que precisava analisar mais detidamente a estrutura da sociedade capitalista" - Foto: Reprodução
Crise que abalou a Europa fez com que fez Marx e Engels se animassem

Era o final do ano de 1857, quando uma crise financeira abalou a Inglaterra e toda a Europa. Marx estava doente do fígado, Engels encontrava-se também com graves perturbações glandulares e ainda por cima, Jenny, esposa de Marx, também não estava bem, pois dera à luz a uma criança morta.

No entanto, essa crise que abalou a Europa foi o que fez com que Marx se animasse escrevendo a Engels: “Desde 1849, nunca me senti tão bem como agora”. Engels o responde com o mesmo entusiasmo: “A crise produz em mim o mesmo bem-estar físico de um banho de mar”.

Crise e movimentação política

A crise instalada, foi vista pelos dois amigos, como a possibilidade de ocorrerem grandes modificações políticas e mesmo, tão somente, nas nações onde a classe operária estivesse organizada, haveria a possibilidade do proletariado tomar o poder. Mas, isso não veio a ocorrer, como eles pensavam, pois as consequências da crise não foram tão drásticas.

Tal crise foi menos útil para o movimento socialista do que para os nacionalistas italianos, que desde o ano de 1848 vinham tentando promover a unificação da Itália.

O Capital é escrito após três outras obras de Marx sobre Economia Política

Marx escreve vários artigos sobre os acontecimentos na Itália, onde a Sardenha entraria em entendimento com a França, se insurgindo contra a dominação austríaca. O apoio de Napoleão III à Sardenha em troca de Savoia e Nice, que mais tarde seriam entregues à França. Marx desmascaria o exame dessa questão. Além do mais, Marx incentiva Engels a uma controvérsia deste com Lassalle a propósito dessa questão. A velocidade imperialista de Napoleão III, fez com que a Prússia fortalecesse seu imperialismo, contando com Bismarck1, o seu primeiro organizador.

Essa crise de 1857 também levou a Inglaterra, mais propriamente a burguesia inglesa a enfrentar com brutalidade o movimento nacionalista chinês que ameaçava prejudicar seu comércio com o oriente, impondo entraves ao tráfico de ópio. As forças armadas inglesas bombardearam Cantão1 e impuseram aos chineses uma devastadora derrota militar, garantindo a sobrevivência dos interesses comerciais britânicos.

Crise de 1857 levou a burguesia inglesa a enfrentar com brutalidade o movimento nacionalista chinês

Na guerra contra o nacionalismo chinês, a Inglaterra conta com a ajuda de Napoleão III, situação melancólica para o sobrinho de Napoleão Bonaparte.

Fato é, que a crise de 1857 não produziu efeitos mais profundos, o que leva Marx à convicção de que precisava analisar mais detidamente a estrutura da sociedade capitalista.

Economia Política

Começa então a estudar os problemas de métodos cujo esclarecimento considerava indispensável aos economistas e redige uma “Introdução Geral à Crítica da Economia Política”. Logo em seguida redige uma série de anotações como “Fundamentos da Economia Política”. Após a experiência desses dois trabalhos, escreve o livro “Contribuição à Crítica da Economia Política”.

Dos três trabalhos escritos, apenas o último foi publicado ainda em vida por Marx, sendo publicado em 1859. A primeira obra citada acima não foi publicada, pois Marx achou que ela aparentaria muito objetiva à vista dos leitores exigentes, pois antecipava conclusões que deveriam decorrer de análises que ainda não tinha sido suficientemente desenvolvidas. A segunda obra, no entanto, permaneceu como um escrito fragmentário, incompleto, por isso a primeira obra permaneceu inédita até 1903 enquanto a segunda até 1939.

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Marx ao final do Prefácio de sua terceira obra, “Contribuição à Crítica da Economia Política”, publicada em 1859, escreve:

“Este esboço sobre a trajetória dos meus estudos no campo da economia política tende simplesmente a demonstrar que as minhas ideias, qualquer que seja o juízo que mereçam, e por muito que se choquem com os preconceitos interessados das classes dominantes, são o fruto de longos anos de conscienciosa investigação. E à porta da ciência, como à porta do inferno, deveria estampar-se esta divisa: ‘Qui si convien lasciare ogni sospetto. Ogni viltà convien che qui sia morta!’”.

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Essa sua terceira obra publicada em livro, é um trabalho que antecipa as ideias constantes dos quatro primeiros capítulos de sua excelente obra, “O Capital”.

           

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal



1. Otto Eduard Leopold von Bismarck-Schönhausen (01.04.1815-30.07.1898). Príncipe de Bismarck, Duque de Lauenburg, foi um nobre e diplomata e político prussiano, personalidade internacional de destaque do século XIX . Foi o estadista mais importante da Alemanha do século XIX.

2. Cantão (Guãngzhõu – “Pedra Dupla”) a terceira maior cidade da República Popular da China, capital da província de Guangdong. Localizada no sul do país, a 120 km ao norte de Hong Kong, às margens do rio das Pérolas.

3. “Deixe-se aqui tudo o que é suspeito. Mate-se aqui toda vileza”. (Dante – A Divina Comédia) K. Marx, Londres, janeiro de 1859. Publicado no livro: “Contribuição à Crítica da Economia Política”.

 

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Edição: Elis Almeida