Minas Gerais

Coluna

Vladimir Ílitch Ulíanov, Lênin

Imagem de perfil do Colunistaesd
Aos 29 anos, Lênin conclui o livro “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia” - Foto: Reprodução
Alexandre, irmão mais velho, morreu enforcado pelo Czar

Era o ano de 1870, na pequena cidade russa de Simbirsk. E no dia 9 de abril nascia Vladimir Ílitich Ulíanov, ou, mais tarde, simplesmente Ulíanov Lênin.

Família Romanov

Nesse ano em que Vladimir nasceu, reinava no Estado russo, o todo poderoso czar Alexandre II, da família Romanov, que morreu em um atentado a bomba, em 1881. Vladimir estava com onze anos. Nessa época, não existiam na Rússia, Constituições, eleições, Parlamento ou partido político.

Há mais de dois séculos, o império russo era uma espécie de propriedade privada da família Romanov, que se sucedia hereditariamente. Todo poder catalisava-se do czar pra baixo: o conselho de ministros era nomeado e demitido de acordo com sua suprema vontade.

Vladimir era o terceiro filho de seis irmãos

Não existia liberdade de palavra, e todo livro, revista ou jornal publicado era censurado. Mas, por ignorância ou descuido da censura, em 1872, foi publicado, em São Petersburgo, então capital da Rússia, a primeira tradução russa de “O Capital”, grandiosa obra de economia política escrita por Karl Marx, que na época morava em Londres.

Família Ulíanov

Seu pai Ilia Nicolaevitch Ulíanov, filho de camponeses, com muito esforço e trabalho, formou-se professor de Física e Matemática na Universidade de Kazan; tendo sido professor e organizador de escolas rurais, quando mais tarde subiria à função de inspetor escolar na cidade de Simbirsk.

Sua mãe, Maria Alexandrovna, era filha de um abastado médico, tendo recebido apurada educação. Os proventos de sua família permitia um nível de renda um pouco melhor que o das famílias de recursos médios.

Vida de Lênin foi sucessão de prisões e fugas

Vladimir era o terceiro filho de seis irmãos. Sua irmã mais velha chamava-se Ana, e o primogênito era Alexandre; os mais jovens eram Olga, Maniacha (Maria) e Dimitri. A todos se assegurava um belo futuro acadêmico, mas, provavelmente, medíocre quando o bem-estar da família foi subitamente prejudicado. Vladimir tinha dezesseis anos quando seu pai faleceu; embora com a pequena renda da mãe não os deixasse morrer de fome, suas economias sentiram o efeito assustadoramente.

Alexandre

Um ano mais tarde, nova tragédia ocorre na família Ulíanov, sendo essa mais decisiva, por seus impactos. Alexandre, o irmão mais velho, une-se a um grupo de estudantes revolucionários que assim como ele estudavam na Universidade de São Petersburgo, na segunda metade do século XIX. Eles haviam tramado contra a vida do czar Alexandre III, sendo presos e enforcados.

O apelido do irmão de Vladimir que fora enforcado, era entre seus companheiros “Lênin”, sendo esse seu nome adotado mais tarde em sua homenagem.

:: Leia mais notícias do Brasil de Fato MG. Clique aqui ::

Com a morte de seu irmão e a vergonha, a saúde de sua mãe ficou abalada. Os Ulíanov são então, excluídos da sociedade, mas, Vladimir se aplica aos estudos e recebe uma medalha de ouro ao se graduar no Instituto.

Direito

Para que ele pudesse cursar a Universidade, a família mudou-se para Cazã, onde começa a estudar Direito, mas, alguns meses depois ele é expulso, por haver participado de atos, subversivos, sendo denunciado com vinte e oito companheiros. Foi então exilado para uma aldeia, onde continua a estudar Direito por conta própria, sendo aprovado na Universidade de São Petersburgo. Começando a exercer um ano mais tarde a profissão judicial na cidade de Samara.

Vladimir possuía perfeitas condições de vencer como advogado, no entanto, sua carreira não seria essa, mas sim de um revolucionário. Ele já conhecia as obras de Karl Marx e nos anos seguintes aprofundaria seus estudos de filosofia.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Muda-se então para São Petersburgo quando inicia seu trabalho revolucionário. Mantém seu nome verdadeiro para fins legais e como sinal de respeito, mas, como doutrinador, orador de grupos socialistas nas indústrias em desenvolvimento, usava o nome Nicolai Lênin.

Situação da Rússia

A situação da Rússia, nunca foi das melhores para a maioria da população, mas naquela época aumentava de maneira assombrosa.

A família do Czar e dos aristocratas viviam no luxo. Os latifundiários possuíam enormes extensões de terra, constituíam uma parte particularmente próspera dos ricos que viviam na ociosidade. As indústrias se desenvolviam e seus proprietários acumulavam enormes fortunas.

Enquanto que o nível de vida dos operários, bem como dos camponeses, era, assustadoramente baixo. O Czar castigava o povo sempre que estes lhe causassem incômodo.

Operários, camponeses e o jornal: a construção do partido

Durante a fome de 1891, muitos camponeses morriam de inanição, Lênin sentia que os camponeses também formavam parte da massa oprimida, tanto quanto os operários das fábricas, e defendia que o Estado socialista não venceria enquanto os camponeses não fossem aliados ativos do proletariado.

Aos vinte e cinco anos, Lênin já era um revolucionário destacado, após fazer uma viagem ao estrangeiro e entrevistar o agitador Gueorgui Plekhanov1, conhecido como “O Pai do Socialismo Russo”, organiza então a “União para a Libertação da Classe Trabalhadora”, dando início à publicação de um jornal.

Lênin é preso novamente, alguns meses depois, quando completaria vinte e sete anos na prisão. Enquanto aguardava julgamento, estudava, escrevia e dirigia atividades no exterior por meio de um código em chave.

Uma integrante do grupo, Nadedja Kroupskaia fingiu ser sua noiva, para facilitar o envio de comunicações secretas de Lênin, o que lhe permitia visitá-lo na prisão. Em fevereiro de 1897, Lênin é julgado e condenado a três anos de exílio na Sibéria; meses depois Nadedja também é condenada e exilada.

Como forma de continuar os estudos e as atividades marxistas, ela declara novamente ser noiva de Lênin e pede ao tribunal que a enviasse para onde ele estava. O juiz, no entanto, diz a ela que só a enviaria se ela se casasse com Lênin. Lênin contava com vinte e oito anos quando se casa com Nadedja. Apesar de o amor não ter contado muito com o casamento, eles se consagram; tendo sido ela para ele não só partidária decidida, mas também uma fiel companheira.

:: Leia os outros artigos da série de Antonio Manoel Mendonça de Araujo sobre a vida de Karl Marx :: 

Aos vinte e nove anos, Lênin conclui seu livro que iniciou no exílio: “o Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, obra determinante no campo da economia.

Alguns meses mais tarde, ao terminarem suas penas, retornam para São Petersburgo, no que é preso novamente, mas consegue fugir, indo para a Suíça. De onde inicia a publicação do jornal “Iskra”, editado em Munique, na Alemanha, que tinha como lema: “Da centelha saltará a chama!”, verso de uma poesia de Puschkin2.

O jornal tinha como finalidade formar um partido revolucionário sigiloso, concentrado, que representaria o meio de ataque contra o czarismo opressor. Partido responsável pela construção da hegemonia da classe trabalhadora na sociedade. Clandestinamente, o jornal é introduzido na Rússia. 

Prisões, fugas e liberdade

A vida de Lênin, durante dezesseis anos, sempre foi constituída de uma sucessão de prisões e fugas, ocultamentos prolongados e súbitos contratempos. Vivendo praticamente por todos esses anos, fora de sua pátria.

Ele e a esposa sobreviviam apenas com os parcos recursos provenientes da quantia que recebia como diretor do jornal. Sua moradia não era das melhores nem tampouco sua alimentação.

Seu nome e seus escritos tornaram-se conhecidos na Rússia, suas ideias e teorias são colocadas na linguagem dos homens comuns. “Nenhuma pessoa tem o direito de viver da exploração do trabalho de outra pessoa. O trabalhador tem direito ao produto de seu trabalho”.

Lênin, lembra assim, aos trabalhadores, o que Marx dizia, de que os trabalhadores nada mais tinham a perder além dos seus grilhões que lhes mantém presos. Caso se unam, os grilhões serão rompidos.

 

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, Conselheiro do Sindicato dos Economistas (SINDECON/MG) e ex-Coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)


*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

1. Gueorgui Valentinovitch Plekhanov (11.12.1856 – 30.05.1918), revolucionário, filósofo e teórico marxista russo. Abandonou os estudos de Mineralogia para dedicar-se ao movimento populista revolucionário. Líder da Organização Terra e Liberdade, tornou-se dissidente quando o grupo passou a adotar práticas terroristas

2. Alexandre Puschkin (06.06.1799 – 10.02.1837), poeta, dramaturgo e romancista russo. Considerado o pai da literatura russa moderna

Edição: Elis Almeida