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Janeiro de 1959, Fidel marcha vitorioso em Havana

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No dia 1 de janeiro de 1959 o ditador Fulgencio Batista foge de Cuba - Foto: Reprodução
Guerrilheiros conquistaram a simpatia de camponeses locais

No início de 1958, Fidel ainda estava na Sierra Maestra. Seu exército agora contava com 300 homens. Em março de 1958, Raúl Castro lidera seus guerrilheiros e estendem seu controle à Sierra Cristal, situada a oeste de Sierra Maestra.

Infraestrutura de apoio

Os guerrilheiros, apelidados de los barbados, facilmente eram reconhecidos e estabelecem uma elaborada infraestrutura de apoio nas montanhas. Os camponeses locais se encarregavam de produzir feijão, milho e arroz. Construíram oficinas para confeccionar uniformes, mochilas, sapatos e até charutos. Um arsenal foi construído para consertar armas e fabricar bombas, minas e coquetéis molotov.

A batalha mais importante teve início no dia 11 de julho de 1958

Linhas telefônicas foram estendidas entre cinquenta e cinco postos de controle nas montanhas. Tais redes de comunicação capacitava os guerrilheiros a enviar e receber notícias sobre a movimentação das patrulhas do Exército de Batista que entravam em seu território.

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Um jornal periódico foi publicado por eles e a “Rádio Rebelde” começa a ser transmitida em fevereiro de 1958. A área era chamada de “Território de Cuba Livre na Sierra Maestra”.

A vida dos camponeses sofre um verdadeiro impacto com a chegada do Exército de Fidel. Eles pressionam os proprietários dos engenhos para aumentar o pagamento dos camponeses. Os camponeses analfabetos eram educados pelos guerrilheiros, além do que em seu hospital, tratavam não só os companheiros feridos, mas também das famílias dos camponeses. Esse esforço dos guerrilheiros recebeu amplo apoio na Sierra Maestra; mesmo os membros de uma colônia de hansenianos tornaram-se fervorosos admiradores de Fidel, contribuindo com caixas de suprimentos médicos para a causa rebelde.

Nova ofensiva militar de Batista

O Exército de Fidel ficava cada vez mais forte nas montanhas, além do que, o descontentamento do povo cubano só aumentava.

No dia 24 de maio de 1958, Fulgencio Batista incita uma nova ofensiva militar. Ele envia cerca de dez mil soldados, apoiados por tanques e carros blindados, para a Província de Oriente, no intuito de derrotar os rebeldes da Sierra Maestra. Mesmo com toda essa força, os guerrilheiros possuíam algumas vantagens. As tropas de Batista não tinham bom treinamento, especialmente no combate nas montanhas. Os guerrilheiros, por outro lado, eram bem treinados além de manterem uma rede de comunicação bastante superior à do Exército de Batista. Tinham informações precisas de cada deslocamento do inimigo na mesma hora em que este acorria.

O Exército de Batista era lento nas montanhas, quanto mais penetravam no território guerrilheiro, mais ciladas sofriam e mais isolados ficavam de suas linhas de suprimento. Muitos homens de Batista se perdiam e, tanto a comida como as munições diminuíam. Os alto-falantes bombardeavam os soldados de Batista, conclamando-os a se unirem à causa rebelde contra o ditador.

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A batalha mais importante teve início no dia 11 de julho de 1958, durante os 76 dias de ofensiva das tropas do governo contra os rebeldes. Ocorrida em El Jigüe, as tropas comandadas pelo major José Quevedo, foram cercadas e isoladas dos reforços, sem alimento e água, eles começam a perder a coragem.

Quevedo havia sido colega de universidade de Fidel. O Exército Rebelde propõe um cessar-fogo, prontamente aceito. Após conversar com Fidel, Quevedo diz a seus homens que a rendição seria a melhor solução para os interesses de Cuba. Os 146 soldados de Quevedo se rendem, os guerrilheiros ganham uma grande reserva de armas.

Em agosto começam as chuvas torrenciais próprias daquele período do ano, quando ocorriam também ciclones. O que obriga o governo a encerrar a ofensiva contra os rebeldes. Então, no dia 7 de agosto de 1958 o Exército de Batista, confuso e desmoralizado, sob o ataque constante dos homens de Fidel, retira-se para suas guarnições, não retornando nunca mais para a Sierra Maestra.

Contraofensiva

Essa desordem toda do Exército de Batista, faz com que Fidel planeje uma contraofensiva imediata, onde ele esperava que pudesse levá-los a uma campanha triunfal até Havana. A estratégia de Fidel era isolar e cercar as maiores áreas urbanas, apoderando-se do que restaria da Província de oriente. Sob seu comando e de Raúl Castro, eles permaneceriam nessa província por pouco tempo, para logo depois avançarem sobre Santiago.

Enquanto isso, duas colunas sob o comando de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, avançavam separadamente para oeste, em direção à Província de Las Villas.

Eles caminhavam somente à noite. A coluna de Che levou 40 dias para atingir Las Villas. Os guerrilheiros marchavam quilômetros com lama até os joelhos, os homens estavam famintos e exaustos. A coluna de Che, teria que lançar o golpe militar decisivo da guerra.

Em outubro de 1958, Che chega à Las Villas. Unindo forças com grupos revolucionários locais, juntos lançam uma ofensiva, que tinha por objetivo interromper as estradas que ligavam a província com o resto da ilha.

Enquanto isso, na Província de Oriente, Fidel desencadeia seu ataque na planície, fora da Sierra Maestra. Ele examinou minuciosamente cada detalhe, decidindo quantos combateriam, quem deveria manejar a metralhadora ou o morteiro durante a batalha. Os guerrilheiros aparentavam ter uma força muito superior que aquela que poderia se esperar de um pequeno grupo.

No dia 20 de novembro de 1958, rebeldes sob o comando de Fidel avançam contra o quartel de Guisa. A rede elétrica do quartel é cortada e, assim que a noite cai, desfecham uma saraivada de tiros. Após quinze minutos o tiroteio cessa. Meia hora depois, os rebeldes abrem novo fogo. Então, por meio de um alto-falante convocam os soldados de Batista a desertarem. Em seguida novo ataque começa ainda mais forte, com morteiros. E novamente recomeçam as investidas pelo alto-falante. Essa chamada guerra psicológica continuou por vários dias.

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Fidel então, fica sabendo de que mais tropas seriam enviadas para reforçar o quartel. Então, prepara um elaborado esquema de emboscada, montado com minas e armadilhas. Os reforços são forçados a retroceder sob fogo ininterrupto dos guerrilheiros. O Exército de Batista sofreu mais de 250 baixas, em 6 de dezembro de 1958. Resolvem então, abandonar o quartel. Fidel e seus homens, entram em Guisa sob os aplausos dos habitantes da cidade.

Ataque final

Os EUA por meio de William Pawley, homem de negócios, enviado a Havana tenta convencer Batista a renunciar, eles acreditavam em colocar alguém mais amigável e zeloso pelos seus interesses e que impedisse a chegada de Fidel ao poder. Batista rejeita o plano, mesmo lhe sendo oferecido uma casa na Flórida.

Em 18 de dezembro de 1958, Che e sua força já controlava toda a Província de Las Villas, e nesse dia, atacara a cidade de Santa Clara, a fortaleza de Batista. Enquanto isso, Fidel e seus companheiros começam a planejar o ataque final contra a cidade de Santiago.

No dia 31 de dezembro de 1958, após a tomada de Santa Clara, Batista viu que a sua situação era desesperadora. Então, às três horas da manhã do dia 1 de janeiro de 1959, ele e muitos de seus colaboradores embarcam em um avião para a República Dominicana, abandonando Cuba para sempre.

Fidel, após saber da fuga de Batista, prepara-se para marchar sobre Santiago. O comandante da cidade rende-se sem oferecer resistência. Fidel e seus homens, entram pacificamente na cidade e faz um apelo ao povo de Havana, conclamando-os a evitar a violência mas manterem-se vigilantes pela justiça. Ele diz: “A ditadura desmoronou, mas isso não significa que a revolução tenha triunfado. Revolução, sim! Golpe militar, não!”.

Fidel ordena que Che e Cienfuegos marchem para Havana. No dia 2 de janeiro de 1959 eles ocupam os principais quartéis do Exército. As tropas revolucionárias se apoderam dos prédios governamentais e policiais, das estações de rádio, bem como das instalações militares. A transição foi feita num clima de muita calma.

Vitória

No caminho de Santiago para Havana, por cerca de 800 quilômetros um imenso desfile ao longo do trajeto acontece, onde Fidel poderia ler cartazes com os dizeres: Gracias Fidel. Ele chega a Havana em 8 de janeiro de 1959. Mais de meio milhão de cubanos enchiam as ruas e as calçadas, alguns nos telhados ou no alto das árvores reunidos para saudá-lo. Fidel diz: “Juro diante de meus compatriotas que, se qualquer dos nossos companheiros, ou nosso movimento, ou eu mesmo me tornar um obstáculo para a paz, a partir deste exato momento, o povo pode decidir sobre nós e dizer-nos o que fazer”.

Enquanto ele falava, duas pompas brancas, símbolos da paz, foram soltas pela multidão. Uma delas voou para o ombro de Fidel, onde permaneceu enquanto ele continuava o discursa: “Nunca poderemos nos tornar ditadores. Só os que não contam com o apoio do povo recorrem à ditadura. Nós temos o amor do povo, e por isso nunca nos desviaremos de nossos princípios”.

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida