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Coluna

Futebol carioca protagoniza a novela mais chata dos últimos anos

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O Vasco disputou os jogos contra Cruzeiro e Sport Recife no Maracanã - Daniel Ramalho / CRVG
Nossos clubes ainda pecam demais quando o assunto é cordialidade, entendimento e civilidade.

*Luiz Ferreira 

A novela mais longa da história da televisão brasileira (com a exceção das inúmeras temporadas de “Malhação” e “Chiquititas”) se chama “Redenção”. Ela foi exibida pela extinta TV Excelsior entre os dias 16 de maio de 1966 e 2 de maio de 1968, num total de incríveis 596 capítulos sem trocas de elenco, personagens e roteiro.

Eu não tenho como dizer se foi uma boa novela ou se ela agradou ao telespectador. Mas eu tenho plenas condições de apontar qual é a mais chata e maçante dos últimos meses.

Me refiro ao imbróglio envolvendo o Consórcio Maracanã (encabeçados por Flamengo e Fluminense) e a intenção do Vasco de transferir o local do jogo contra a Chapecoense para o estádio para a estreia do atacante Alex Teixeira na equipe. Alegando a necessidade de se preservar o já castigado gramado do Maracanã, a dupla Fla e Flu não autorizou a realização da partida no Maracanã.

Há como se compreender uma série de argumentos colocados pelos dois lados dessa questão.

Flamengo e Fluminense (pelo menos em tese) pagam pelas despesas do Maracanã e muitas delas estão diretamente ligadas ao gramado e à manutenção da estrutura do estádio como um todo. Por outro lado, por se tratar de um bem que ainda faz parte da esfera pública, o Vasco e qualquer outro clube podem mandar seus jogos lá desde que arquem com as despesas. Exatamente como aconteceu nas partidas contra Cruzeiro e Sport pela Série B.

Não quero entrar no mérito do contrato assinado e nem na letra miúda da lei. Não tenho conhecimento para tal e posso falar uma grande bobagem aqui no Brasil de Fato. Mas de uma coisa eu tenho certeza. Nossos clubes ainda pecam demais quando o assunto é cordialidade, entendimento e civilidade.

Como esses mesmos clubes trabalham na criação de uma liga para cuidar do futebol brasileiro se eles nem conseguem entrar em acordo sobre a utilização de um estádio de futebol? Essa situação chega a ser cômica e resume bem o que é a gestão do esporte aqui por estas bandas. Há exceções valiosíssimas, mas a média é essa daí.

É óbvio que Flamengo, Fluminense e Vasco precisam sentar à mesa e conversar entre eles, aparar as arestas e encontrar a melhor alternativa. E do ponto de vista financeiro, a entrada do Gigante da Colina no Consórcio seria boa para todos, visto que a 777 Partners está prestes a fechar a compra da SAF do clube. Ou seja, seria mais uma fonte de renda para auxiliar na manutenção do Maracanã e investir em melhorias. Mas falta entendimento, boa vontade e um mínimo de bom senso.

E eu nem preciso lembrar que o Maracanã não é “apenas” o estádio de futebol. Ainda temos o Maracanãzinho, o Parque Aquático Júlio Delamare e o já completamente destruído Estádio de Atletismo Célio de Barros. Estruturas que poderiam ser muito bem utilizadas para a fomentação de diversas modalidades esportivas, mas que permanecem esquecidas e/ou desviadas para finalidades completamente esdrúxulas.

Vejam só quantas oportunidades estão sendo jogadas no lixo por conta de picuinhas.

Enquanto isso, o torcedor vai caindo no conto do “clubismo” e aplaudindo o dirigente que breca o uso do Maracanã e o que entra na Justiça para fazer valer a sua vontade. E não há vencedores nesse clássico do desentendimento. Apenas aqueles que gostam das bravatas e de “ter razão” em discussões tolas e sem sentido nenhum.

Já passou da hora de Vasco, Flamengo e Fluminense se reunirem e conversarem como os clubes grandes que são e encontrarem um denominador comum. Encontrarem a “redenção” de uma das novelas mais chatas dos últimos tempos. E quem perde é o torcedor.
 

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse