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Se algo muda com a chegada da maternidade é o tempo

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Fonte: - Getty Imagens
Bebê não é só pesado, é muito divertido e feliz também

Gostaria de dividir um pouco como é isso de ter um bebê de quatro meses em casa e deixar uma mensagem (se é que vou lembrar qual é a mensagem que quero deixar no final).

Como é então: a atenção total e constante segue firme e forte. O bebê é um ser que depende totalmente de um adulto pra literalmente tudo. E tem aquela história que os bebês humanos são mais dependentes que outros animais bebês, por algo a ver com a forma como nosso cérebro é grande e desenvolvido e precisa de um tempo pra acabar de ficar pronto.

Até lá, é colo o tempo todo. É tentativa de decifrar os vários tipos de choro e suas necessidades. É muito fofo observar o bebê testar e conhecer a própria voz, a própria força, o próprio senso de humor. E isso costuma ser feito com algum volume e intensidade. A voz vem em forma de gritos, a força em forma de jogar coisas e se autojogar pelo berço, o senso de humor pede muita repetição.

O fato é que exige muito, muito tempo.

E o bebê, que além de fofo é um ser de direitos, não só merece nossa melhor atenção, como precisa dela. Com isso a conta fica complexa, porque o sono é pouco e sempre parcelado e os recursos que a gente tinha antes para compensar a falta de sono e relaxar não se apresentam mais. Mesmo nos casos em que o bebê dorme bem, isso raramente quer dizer que dorme uma noite sem interrupções (será que isso acontece em algum lugar ou é só lenda pra vender curso?).

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Não dá pra cochilar depois do almoço (nunca mais). Não dá pra tirar uma manhã de folga e sumir embaixo do cobertor. Não dá pra fazer massagem, aromaterapia ou o que for. Mal, mal dá pra tomar banho. Às vezes dá pra tomar banho, mas com o bebê. Dá pra ouvir uma música, mas é cantando pro bebê. Ler, a mesma coisa. Até rola, mas com vozinha. E ler mais de quatro páginas de uma vez ainda não sei se é possível.

Até dizem que tem uma aldeia pra cuidar das crianças, mas não sei onde ela fica. Talvez isso tenha mudado com o mundo pandêmico (ou pós pandêmico). Com todos sempre tão corridos, com tanta coisa online, cada um está mais na sua.

Da minha parte, eu não sinto falta de beber, de virar a noite (o que será isso?), de ter a liberdade de sair de um lugar e pensar “ó, vou parar aqui e ver um filme nesse cinema de rua”, “entrar nessa galeria / café” ou “sentar no banco da praça e dar milho aos pombos”. Essas coisas simples da vida comum fazem falta, claro, mas o caso é que antes delas vêm outras, como: ter um tempo. Um tempinho só. Pra respirar mesmo quieta, como fosse um longo trago de um delicioso cigarro. Porque acho que o primeiro grande aprendizado é que se algo muda com a chegada da maternidade é o tempo.

Mas mesmo com isso tudo, a mensagem que queria passar com esse texto não é só essa (que é foda, bem difícil mesmo, peguem leve com as mães – não importa a idade dos filhos).

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O que quero dizer é que mesmo com essa total falta de tempo, mesmo com os cabelos eternamente presos e sujos, mesmo sem condições de passar um fio dental, quem dirá voltar a nadar, nossa, nadar!, mesmo trabalhando tanto e de todo tipo de trabalho, mesmo com todos as mil frases que daria pra colocar aqui, mesmo com tudo isso: é incrivelmente bonito e feliz amar tão de perto uma criatura.

Não é só pesado, é muito divertido também. Um dia ela aprendeu a rir na brincadeira do cadê/achou e eu chorei tanto de rir. Eu chorei quando ela pegou um objeto com todos os dedinhos pela primeira vez, eu mudei minha percepção do que é de fato uma vitória. E eu acho a coisa mais linda do mundo ver como ela se espreguiça.

Ela é capaz de ficar horas (horas no mundo bebê: minutos) olhando pra própria mão e com isso me lembra como a mão é interessante e me ensina a enxergar também.

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Muito dessa ideia tão simples e maravilhosa do prazer e leveza da maternidade eu aprendo com algumas pessoas e vou indicar o perfil da médica Ana Jannuzzi e a série Turma do peito, que assisti picada em mil partes, e nem sei se lembro, mas lembro que ri.

E você, o que indica, o que te ajuda a ajustar o foco?

Um abraço e escreve também.

Joana Tavares é jornalista, militante por um projeto popular para o Brasil e adora comunicação popular, boas perguntas e conversa fiada.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida