Minas Gerais

APURAÇÃO

Deputados federais mineiros denunciam irregularidades na venda da CeasaMinas

Segundo documento enviado ao TCU, empresários próximos aos governos federal e estadual tiveram informações privilegiadas

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

Ouça o áudio:

Verlan Andrade - Ceasa Minas

Deputados federais mineiros acionaram o Tribunal de Contas da União (TCU) para denunciar irregularidades na privatização da Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas) e solicitar a suspensão do processo. O pedido de medida cautelar foi enviado no início de setembro e assinado por Padre João e Reginaldo Lopes, ambos do PT.

No documento encaminhado ao TCU, os deputados argumentam que o Marcos Montes Cordeiro, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Pedro Maciel Capeluppi, da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados; Paulo Guedes, ministro da Economia; e Luciano José de Oliveira, presidente da CeasaMinas, estão praticando atos “contra os princípios constitucionais e fundamentos da República”.

Uma das irregularidades apontadas pelos parlamentares é o beneficiamento de empresários com informações privilegiadas sobre o edital de venda da estatal, que deveria ser sigiloso e teria sido disponibilizado para pessoas próximas ao Palácio do Planalto e ao Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas.

O pedido de medida cautelar ainda questiona os preços pelos quais se pretende vender a empresa. Enquanto o governo federal propôs como lance mínimo o valor de R$ 253 milhões, o Ministério Público Federal calcula que a CeasaMinas vale R$ 1,5 bilhão.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

No TCU, já existem outras representações sobre o processo e, atualmente, técnicos do tribunal realizam uma auditoria sobre a venda da estatal. Reginaldo Lopes e Padre João solicitam a suspensão da privatização até que a auditoria seja concluída. 

“Diante dos fatos graves brevemente delineados nesta petição, urge a suspensão deste processo até que a auditoria solicitada seja devolvida e julgada pelo órgão competente, e que seja esclarecido o episódio de privilégio de informações relacionadas ao edital da privatização”, afirma o documento enviado ao TCU.

Impactos da venda

Além das irregularidades, os possíveis impactos da venda da CeasaMinas também têm causado preocupação. Incluída no Programa Nacional de Desestatização (PND) em 2000, a estatal é estratégica para o abastecimento dos municípios mineiros, sendo responsável pela distribuição de milhões de toneladas de cereais, hortigranjeiros e produtos industrializados.

A empresa tem aproximadamente 18 mil trabalhadores, alocados em seis unidades espalhadas por Minas, e gera cerca de 20 mil empregos. De economia mista e fechada, a União detém 99,67% das ações da CeasaMinas.

Para Padre João, a venda da empresa pode impactar diretamente no bolso dos consumidores mineiros, que passarão a pagar mais caro para se alimentar.

:: Leia mais notícias do Brasil de Fato MG. Clique aqui ::

“Temos alertado que vender a CeasaMinas vai aumentar o preço dos alimentos. Neste momento em que mais de 30 milhões de brasileiros passam fome, não podemos permitir a venda. O que precisamos é aumentar a oferta de alimentos, investir na agricultura familiar e combater a inflação. Esse governo é incompetente, corrupto, insensível e entreguista”, enfatiza o deputado.

A diretora do Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço público Federal de Minas Gerais (Sindsep) Jussara Griffo alerta que a venda da empresa pode gerar desemprego e desabastecimento alimentar.

“Entendemos que há risco de desabastecimento alimentar, pois não há obrigatoriedade de que todos os entrepostos continuem com a mesma atividade de hoje, ou seja, podem fechar ou mudar de ramo. Conforme informado em documento da Controladoria-Geral da União (CGU), serão fechadas unidades, gerando desemprego”, conta.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com a Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, com o Ministério da Economia e com CeasaMinas para comentarem o caso e aguarda as respostas.

Edição: Larissa Costa