Pernambuco

Eleição suplementar

Após anulação da eleição de Marcos Xukuru, saiba como serão as eleições municipais de Pesqueira

A votação está marcada para 30 de outubro; conheça quem são os candidatos que podem assumir a prefeitura da cidade

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Bal de Mimoso (ao centro) e Marcos Xukuru (à dir.) encabeçam o movimento “Todos por Pesqueira” - Ororubá Filmes

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a anulação das eleições municipais do município de Pesqueira, realizadas em 2020, levou quase dois anos para ser decidida. Mas, após o julgamento, ocorrido no dia 1º de agosto, e que traz a necessidade da realização de novos pleitos, o calendário eleitoral da cidade na disputa pela prefeitura terá uma corrida acelerada por causa do pouco tempo de campanha. Pesqueira está localizada no Agreste do estado e tem cerca de 68 mil habitantes.

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Até o momento, a única candidatura definida para a disputa é a de Bal de Mimoso, do Republicanos, atual prefeito interino da cidade e ligado ao Cacique Marcos Xucuru (REP). O União Brasil também deve lançar candidatura, mas de acordo com a assessoria do partido, nada está definido.


Impedido de tomar posse, Marcos Xukuru acabou nomeado secretário do município; ele só estará elegível em 2024 / Comunicação Prefeitura de Pesqueira

Isso porque a prefeitura da cidade vem em uma situação de disputa judicial desde o resultado das últimas eleições, quando as principais candidaturas para ocupar o executivo municipal eram a de Marcos Xucuru (Republicanos) e da ex-prefeita de Pesqueira, Maria José (antigo DEM e atual União Brasil). Marcos foi eleito prefeito do município, mas não chegou a tomar posse impedido por uma condenação na Justiça Federal, determinada em 2015, por prática de crime ao patrimônio privado.

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As novas eleições a serem realizadas são eleições suplementares, ou seja, pleitos que são convocados por indeferimento de registros da disputa, por cassação do diploma ou perda do mandato de candidato eleito. Segundo o TSE, as convenções partidárias para decidir os nomes a disputá-las foram iniciadas no dia 12 de agosto e a votação está marcada para a data do segundo turno das Eleições 2022, dia 30 de outubro.

O acirramento político entre Republicanos e União Brasil deve se repetir. O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com as duas legendas na última quinta-feira (22) para confirmar os nomes decididos para a disputa.

Em nota, o União Brasil afirmou que ainda não havia decisão até esta data e apontou outras prioridades para a legenda. “O União Brasil Pernambuco informa que até a presente data não existe nenhuma definição sobre a Eleição Suplementar no município de Pesqueira, marcada para o dia 30 de outubro de 2022. Todas as atenções do partido estão, neste momento, voltadas para a Eleição de Soraya Thronicke (Presidência da República), Miguel Coelho (Governo de Pernambuco), Carlos Andrade Lima (Senador) e nossos deputados federais e estaduais”.


Apesar do período curto de campanha das eleições complementares, o União Brasil ainda não confirmou um nome para a disputa e o da ex-prefeita, Maria José é o mais cotado. / Reprodução

Nos bastidores, o nome de Maria José é novamente cogitado. A ex-prefeita é esposa de outro ex-gestor da cidade, João Eudes (PRB), que esteve à frente de Pesqueira de 2000 a 2008 e chegou a disputar o cargo novamente em 2012, quando perdeu para Evandro Chacon (PSB). Maria ficou à frente do município por um mandato, de 2016 a 2020. A família é influente na região e tem um histórico de apoio dos Xukurus de Cimbres, povo indígena local que tem conflitos históricos com os Xukuru de Ororubá, povo liderado pelo Cacique Marcos Xukuru.

Já para o Republicanos a disputa começou com a convenção ocorrida no último dia 16, confirmando o nome de Bal de Mimoso e projetando o início da campanha para o dia 20 de outubro. Ele continua no cargo até o resultado das eleições suplementares. Bal era vereador, eleito em 2020, presidiu a Câmara Municipal, e depois foi gestor interino de Pesqueira nos últimos dois anos.

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O partido está utilizando o mote “Todos por Pesqueira” em que a figura de Marcos Xucuru também tem bastante evidência. Apesar das questões com a Justiça que se estenderam até o início de agosto, o Cacique Marcos Xucuru não ficou longe da prefeitura de Pesqueira. Sempre próximo a Bal, Marcos é o atual secretário de governo do município, cargo que assumiu em abril de 2021.

Em 2020, o PSOL lançou a candidatura de Antônio Mota para a disputa do pleito, mas em resposta ao Brasil de Fato Pernambuco o partido afirmou que não irá concorrer nestas eleições e nem manifestar apoio a nenhuma das candidaturas.

Outro município que irá realizar eleições suplementares em Pernambuco é o de Joaquim Nabuco, que teve a chapa eleita em 2020 cassada pelo TSE. Neto Barreto (PTB) ganhou a eleição como prefeito da cidade e Eraldo Veloso (MDB) foi o seu vice. A cassação ocorreu porque Eraldo foi flagrado jogando dinheiro para eleitores logo após a divulgação dos resultados dos pleitos daquele ano, em que sua chapa foi vitoriosa.


Em 2022, o Republicanos está utilizando como mote da campanha um movimento chamado “Todos por Pesqueira” em que Marcos Xucuru tem bastante evidência. / Ororubá Filmes

Entenda o histórico da disputa política em Pesqueira

No início dos anos 2000, um projeto encampado pelo então prefeito João Eudes — marido da ex-prefeita Maria José — visava passar um pedaço das terras indígenas Xukuru para o controle da Igreja Católica. A igreja construiria um santuário para Nossa Senhora das Graças e o prefeito alegava que isso incentivaria o turismo religioso no município.

A maioria dos Xukuru foi contra, especialmente pela forma de negociação adotada pela gestão municipal. Mas, uma parcela que vive próxima à área do empreendimento se interessou pelo projeto. A briga interna do povo Xukuru resultaria na cisão que deu origem aos Xukuru de Cimbres (região do santuário) e os Xukuru do Ororubá (nome da serra em que parte das aldeias está localizada). Mas antes desta ruptura, as etnias já tinham desentendimentos.

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O Cacique Xicão, pai de Marcos, havia sido assassinado em 1998. Passados cinco anos, em 2003, o impasse interno sobre o santuário acirrou os ânimos entre as comunidades. O novo cacique, "Marquinhos", ainda não gozava de tanta legitimidade como hoje. E o indígena José Lourival Frazão, da comunidade de Cimbres, resolveu atirar contra o caminhão dirigido por Marcos. Frazão matou dois indígenas, mas Marcos conseguiu fugir, mesmo baleado.

A notícia logo chegou à Serra do Ororubá. E os indígenas reagiram: foram até a região de Cimbres e atearam fogo em quatro casas e cinco veículos. O cacique Marcos nega ter participado da ação, mas a Justiça considera que ele teria dado ordens para o ataque - algo que ele também nega. A condenação do cacique é por esse crime.

Com a ruptura entre os Xukuru de Cimbres e os do Ororubá, o Santuário de Nossa Senhora das Graças foi construído em 2005, no local onde supostamente houve uma aparição da Nossa Senhora em 1936, testemunhada por uma freira chamada Irmã Adélia. Hoje os Cimbres e Ororubá convivem pacificamente, mas politicamente estão em lados opostos – ao menos nos embates municipais. 

Edição: Vanessa Gonzaga