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Bolsonaro é continuidade de Collor: produtos do colapso da modernidade

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Evaristo Sá - AFP
Bolsonaro produziu endividamento e o descalabro do orçamento secreto

O termo pós-modernidade sugere que a modernidade tenha chegado ao fim e que dela nada mais resta.

A modernidade é um período de tempo que se caracteriza pela realidade social, cultural e econômica, que tem início com o chamado iluminismo (1685/1815) que rompe com a escolástica medieval. A escolástica, embora valorizasse a razão e a ciência, não permitia que estas contrariassem as crenças e os dogmas estabelecidos pela Igreja.

Crescendo as populações urbanas, ganha expressão a classe proprietária dos meios de produção que busca sua hegemonia no contexto regional e universal. Passa a lutar contra o poder absolutista; pela liberdade religiosa e a justificar o direito natural da propriedade privada. Cria ideologia que justifica esse direito natural da propriedade privada, além do lucro comercial e industrial. O protestantismo passa a abonar essas ideias.

O desenvolvimento industrial proporcionou o aparecimento do proletariado que vive somente de sua força de trabalho. As ideias socialistas e marxistas surgem em meio aos conflitos não só entre as duas classes antagônicas, mas em toda a sociedade. Alimentam a utopia do fim das explorações e opressões. A superação da situação da mulher oprimida; do trabalho escravo; dos preconceitos sociais e de cor; a melhoria nas condições de vida; a liberdade de expressão e comportamento, direitos trabalhistas; enfim, o progresso humano.

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O modernismo do início do século XX distanciou-se da filosofia iluminista porque esta reforçava a ideologia do poder da burguesia e do colonialismo. Os artistas e intelectuais brasileiros bradaram contra o colonialismo cultural e o eurocentrismo, motivando o aparecimento de diversos manifestos e movimentos que se difundiam por meio de jornais e revistas com temas correlatos.

Modernidade sólida e líquida

O sociólogo polonês Zygman Bauman caracterizou a modernidade que se consolidou até o final da década de 1980 como modernidade sólida, que era a solidificação das relações humanas, sociais, da ciência e do pensamento. As relações sociais e familiares eram duradoras. As tradições eram tidas como forma de orientação para a vida e respeito às diferenças, o que conferia segurança e tranquilidade.

O que ficou conhecido como pós-modernidade, Bauman denomina modernidade líquida por causa da fragilidade das relações humanas, com o advento do neoliberalismo e da globalização. As relações econômicas ficaram acima das relações sociais e humanas. As pessoas passaram a ser analisadas, não pelo que são, mas pelo que compram. As instituições ficaram fracas; o emprego perdeu o valor; as pessoas ficaram desamparadas e tornaram-se trabalhadores autônomos.

Além disso, as pessoas passaram a comprar afetos e atenção. As amizades e as relações amorosas foram substituídas por conexões, que em seguida, são desfeitas. O amor sólido liquidificou-se e foi substituído pela busca do prazer a qualquer custo.

Globalização e desmonte do Estado

O historiador alemão Robert Kurz (1943-2012), afirma que a globalização provocou um colapso na modernização, em prejuízo histórico para a humanidade. Desde o final do século XX até a atualidade, o processo de globalização tem contribuído para o aumento das massas de pobreza; desestabilização das famílias e demais grupos sociais; aumento dos conflitos por preconceitos; taxas elevadas de homicídios.

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O governo Collor de Mello (1990/1992) caracterizou-se pelo desmonte do Estado de bem-estar social legitimado pela Constituição de 1988. Agiu como manda o figurino neoliberal e global.

Bolsonaro é continuador de Collor de Mello com um endividamento astronômico e o descalabro do orçamento secreto. Em dez anos a população de rua de Belo Horizonte teve um aumento de 200%.

Nesse bojo de decadência, surgem facções nacionalistas exóticas, responsáveis por eleições de presidentes como Donald Trump, nos EUA, Jair Bolsonaro, no Brasil e Vikctor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida