Minas Gerais

Coluna

Diferença no combate à corrupção na Vale e na Petrobrás: maior punição vai para o povo

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Isis Medeiros - MAB
Lava Jato destruiu 4 milhões e 400 mil empregos

Quando a Vale matou 272 pessoas em Brumadinho em janeiro de 2019, o mercado, o Estado e as Instituições de Justiça não arruinaram a Vale. Pelo contrário, o Estado fez um acordo de reparação com a empresa. A reparação, por sua vez, até hoje não chegou para as comunidades. 

Houveram trocas de e-mails entre funcionários do alto escalão da Vale com a empresa terceirizada alemã TUV SUD, que atestou a estabilidade da barragem cinco meses antes de seu rompimento. Os e-mails mostram que os parâmetros de medição de estabilidade da barragem já apresentavam problemas.

Diferença no tratamento da Petrobrás

No entanto, quando foi descoberto práticas de corrupção na Petrobrás, destruíram a Petrobrás. Sabe por quê? Porque a Petrobrás era estatal brasileira e tinha projeto de desenvolvimento nacional. Diferente da Vale, que já obedecia ao capital estrangeiro e aos investidores externos.

Ao invés de punir os corruptos e deixar os trabalhadores da Petrobrás e suas terceirizadas continuarem trabalhando e gerando empregos e desenvolvimento nacional, fizeram questão de destruir a empresa e entregar sua gestão e suas subsidiárias a preços baixos para o capital estrangeiro.

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Foram 4 milhões e 400 mil  empregos perdidos. A Lava Jato comemora o fato de ter recuperado R$ 6 bilhões para os cofres públicos, mas “esquece”, propositalmente, que deixamos de investir R$ 270 bilhões e deixamos de arrecadar R$ 58 bilhões com a criminalização da Petrobrás.

Ou seja, quem paga o preço da corrupção alheia é o povo brasileiro, que fica sem emprego e sem investimento.

Vale aumenta seus lucros

Enquanto isso, a Vale, empresa privatizada que envia todos os lucros para o exterior, aumentou sua lucratividade e crescimentos mesmo depois dos crimes continuados que vem cometendo em Minas Gerais e na Amazônia.

Imediatamente após a assinatura do acordo entre a Vale e o Estado, as ações da mineradora chegaram a saltar 4,3% na Bovespa, fechando o dia com alta acima de 3%, o que evidencia o quão vantajoso ele foi para a Vale. No primeiro trimestre de 2021, depois do firmamento do acordo, a mineradora teve lucro recorde de R$ 30,5 bilhões. No balanço anual de 2021, a Vale também teve lucro líquido recorde de R$ 121,2 bilhões.

Até hoje não teve responsabilização criminal dos culpados. Sabe por quê? Porque quando é uma empresa que entrega nossas riquezas para os estrangeiros, a preço de banana, está tudo bem. Quando é uma empresa que torna o Brasil autossuficiente em energia e o transforma numa das maiores potências econômicas do mundo, aí não pode. Aí tem que devastar a empresa e punir os responsáveis. 

Falso combate a corrupção

Jamais perdoaremos esses entreguistas das riquezas nacionais que fingem combater a corrupção, mas fecham os olhos para a maior corrupção que existe neste país. A corrupção da rapina das nossas riquezas, da entrega dos nossos recursos naturais para empresas multinacionais que, sequer pagam os devidos impostos. Que enviam os lucros para o exterior e só deixam a desgraça e o sofrimento para nosso país. 

Esse discurso seletivo de combate a corrupção não serve para nada, apenas para destruir a indústria nacional e manipular o povo brasileiro. 

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Você, da classe trabalhadora desse país, que trabalha para pagar as contas, abra os olhos para o combate da verdadeira corrupção. A natureza das multinacionais é buscar produzir lucros privados, lucros que não chegam para nós, chegam apenas para os filhos de 1% da população mundial.

Essas empresas privatizadas entram nos nossos territórios, expulsam pessoas de suas casas, implementam seus projetos sem dialogar com as comunidades locais, utilizam os nossos recursos naturais, contaminam nossas águas e destroem nossa natureza, vendem nossas commodities para o exterior a preço de banana, sonegam impostos, não investem nos territórios que exploram, enviam os lucros para os paraísos fiscais fora do país.

É a corrupção da pior espécie. Precisamos combatê-la, com urgência.

Marina Paula Oliveira é atingida pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Brasil. Graduada e mestre em Relações Internacionais pela PUC-Minas e defensora de direitos humanos, participa de movimentos populares e atua como assessora da Conferência dos Bispos da União Europeia (COMECE). É assessora do Grupo de Reflexão e Trabalho para a Economia de Francisco e Clara da PUC-Minas e participou do encontro global com o Papa Francisco.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida