Minas Gerais

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Eleições 2022: ideias da classe dominante estão cegando muita gente no 2º turno

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Crédito - Ricardo Stuckert
As primeiras comunidades cristãs já alertavam que a mentira oprime e mata

No Brasil, estamos afundados em um contexto de mais de 33 milhões de pessoas, irmãos e irmãs nossos, passando fome, de desmatamento desenfreado da Amazônia e dos outros biomas, de avalanche de mentiras (fake news) sendo disseminadas em dose cavalar e parte do povo cegado sendo induzido a entrar no desfiladeiro do matadouro.

Os profetas e as profetisas da Bíblia repudiam com veemência a idolatria, o invocar em vão o nome de Deus, condenam os falsos pastores, os profetas mentirosos atrelados aos palácios e os sacerdotes vassalos de reis opressores e os alerta de que o povo está sofrendo por ignorância e por falta de conhecimento.

No livro Ensaio sobre a cegueira, de 1995, José Saramago, convida-nos a experimentar durante a leitura, sob intenso sofrimento e angústia, que não somos bons e que estamos sobrevivendo como cegos. “Estou cego, estou cego, repetia com desespero enquanto o ajudavam a sair do carro, e as lágrimas, rompendo, tornaram mais brilhantes os olhos que ele dizia estarem mortos”. Um motorista parado no semáforo, subitamente descobre que está cego. Assim Saramago inicia o romance da história de uma epidemia de cegueira que atingiu todas as pessoas em uma cidade.

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A convivência social se tornou um caos, com pessoas isoladas e abandonadas à própria sorte. Na cidade em caos, destruição humana campeia. Todos cegos – cegados, melhor dizendo – se batem pela sobrevivência imediata. No desespero, os traços de humanidade são aniquilados.

Explorados estão pensando com cabeça de opressor

No Brasil, as ideias da classe dominante, que formam a ideologia dominante, estão cegando muita gente e encabrestando-as. Com Paulo Freire constatamos que muita gente oprimida e explorada está sendo hospedeira de opressores e exploradores. Triste ver pobre pensando com cabeça de opressor!

As primeiras comunidades cristãs do Evangelho de João já alertavam que a mentira oprime e mata, e a verdade liberta. O milagre que Jesus mais gostava de realizar era curar cegueira, ou seja, restituir a capacidade de ver com visão crítica e criativa.

A história da humanidade mostra que muitas vezes o povo cegado, em atitude suicida, elegeu seus próprios algozes. Isto aconteceu quando o povo manipulado por quem usava em vão o nome de Deus, arvorando-se como defensores de “Deus, Pátria, Família e Propriedade”, elegeu Benito Mussolini, Adolfo Hitler e o general Franco, que se tornaram nazifascistas sanguinários.

Hipocrisia

Discursos histéricos de hipócritas pastoras, falsos pastores, padres medíocres descompromissados ou líderes religiosos adoradores de dinheiro, estão seduzindo pessoas ingênuas que aceitam falsas interpretações bíblicas e assimilam posturas moralistas e fundamentalistas que, na prática, sustentam políticas de discriminação, de violência e morte.

Que o Deus da vida nos inspire e nos abençoe na nossa escolha!

No 2º turno das eleições de 2022, justo e ético é votar em quem tirou o Brasil do mapa da fome. E tem compromisso em novamente implementar políticas públicas que retirem da fome mais de 33 milhões de pessoas.

Façam suas análises, comparem o perfil dos candidatos, analisem suas histórias e trajetória de vida. Os candidatos que se apresentam nesse 2º turno têm perfis bem diferenciados.

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É justo ter 33 milhões de pessoas passando fome e alardear que somos um dos maiores produtores de grãos no mundo? É ético e justo manter um orçamento secreto, se um dos pilares da administração pública é a transparência? Que políticas públicas estão em vigor para proteger nossas matas, as nascentes, as veredas, o pantanal, a diversidade dos biomas e a riqueza da Amazônia? O sangue de tantos mártires, irmãos e irmãs indígenas, ambientalistas, defensores da mãe natureza não pode ter sido em vão.

Deus da vida

Da perspectiva cristã, é imoral reeleger um presidente que diz que “só sabe matar”, que tem como ídolo o torturador Ustra, que assinou mais de 30 decretos flexibilizando o acesso a armas e munições no país, que diz que “quer todo mundo armado”. Isso é absolutamente contraditório com o Evangelho de Jesus Cristo que apregoa “amai-vos uns aos outros”

Antes de votar, reflita! Sua vida e da sua família melhoraram ou pioraram nos últimos quatro anos? Como estão os preços?

Que o Deus da vida nos inspire e nos abençoe na nossa escolha!

Gilvander Moreira é frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica)

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida