Minas Gerais

Coluna

Com teto de gastos e “responsabilidade fiscal”, não teremos responsabilidade social

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Marcello Casal Jr - Agência Brasil
Luta por projeto de sociedade deve unir pautas

No contexto de uma sociedade do capital que superexplora de forma crescente o trabalhador e toda biodiversidade, a insubmissão, a rebeldia e a resistência dos Sem Terra, dos indígenas, dos Sem Teto, dos negros, das pessoas LGBTQIA+, das mulheres e dos ecologistas são pedagogia de emancipação humana.

Emancipação pressupõe nunca abandonar os princípios originais que levaram à criação da CPT, do MST, do MTST, do MLB, do movimento indígena e de todos os outros movimentos populares. Priorizar o trabalho de base que passa pela convivência constante com as pessoas. Reunir, discutir e, juntos, buscar caminhos para o fortalecimento da luta coletiva por direitos - que precisa se tornar cada vez mais massiva.

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Pressupõe também cultivar, manter e fomentar a organização interna envolvendo todos na corresponsabilidade da luta, despertando, assim, o protagonismo de todos. E exige abraçar a construção de outro projeto de sociedade, comprometendo-se com ele, uma sociedade que supere o capitalismo e que construa outro modo de produção na perspectiva socialista.

Articular lutas

Enquanto perdurar relações sociais escravocratas no Brasil, não teremos justiça e dignidade. Enquanto o mercado dominar e buscar impor teto de gastos e “responsabilidade fiscal”, não teremos “piso social” e nem “responsabilidade social”. Investir pesado em políticas socioambientais exige contrariar o mercado, seus sacerdotes e arautos que estão sempre de plantão com ameaças.

A questão não é apenas lutar pelas especificidades. As lutas possuem dimensão política, econômica e social. Só a luta pela terra e por territórios, por exemplo, não garante emancipação humana. Mas também sem a luta pela terra e por territórios que conquiste a sua democratização e a socialização não há emancipação humana.

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Tudo se conquista no trabalho coletivo, nas tensões sociais e nos conflitos enfrentados, no estudo e na reflexão e em todas as ações socioculturais desenvolvidas. O movimento de ocupação de terra para conquista da reforma agrária e a luta pelo resgate de territórios educa para a socialização, para a cooperação, para o exercício da agroecologia, para a solidariedade, para a igualdade de gêneros, para a valorização da comunidade, na contramão da cultura arraigada de defesa da propriedade privada capitalista, do individualismo e da hierarquia. 

Gilvander Moreira é frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica)

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida