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O Senhor Mercado

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"A elite escravocrata brasileira, hoje alimentada pela ultradireita neofascista, e o Senhor Mercado não olham para a necessidade de reformas estruturais e para o enfrentamento da desigualdade econômica e social"
"A elite escravocrata brasileira, hoje alimentada pela ultradireita neofascista, e o Senhor Mercado não olham para a necessidade de reformas estruturais e para o enfrentamento da desigualdade econômica e social" - EBC
O Senhor Mercado está se lixando para a pobreza e a fome crescentes no Brasil

“Dólar dispara e bolsa derrete após fala de lula sobre gastos”. É o manchetaço de capa do jornal Valor Econômico, em 11.11.2022. “O mercado doméstico reagiu de maneira bastante negativa diante das incertezas em relação ao controle das contas públicas no próximo governo. Agentes econômicos temem que a PEC da Transição – negociada para garantir a liberação de despesas – possa deteriorar a sustentabilidade da dívida pública.”

Em página interna (p. A 8), a manchete é: “Lula critica a ´tal da responsabilidade fiscal´ e teto de gastos.” Só na metade da matéria interna, há referência ao maior momento da fala de Lula do dia 11 de novembro: “No discurso de 42 minutos, Lula chorou ao falar da fome. A fala teve forte apelo emocional. O discurso foi rapidamente interrompido pelo choro do petista no momento em que mencionou ´a prioridade zero do seu futuro governo será o combate à fome.” Ele repetiu o que disse em 2022: ´Se, quando eu terminar esse mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando, outra vez terei cumprido a missão da minha vida. Desculpem, mas o fato é que eu jamais esperava que a fome voltasse neste país´.”

O Caderno cultural do Valor Econômico Eu & Fim de Semana, edição de 04.11.2022, talvez o melhor Caderno cultural de imprensa do Brasil, e que compro todas as sextas-feiras na Banca de revistas e jornais do Largo Glênio Peres em Porto Alegre, estampa em manchete na capa: “O Consumo dos Super-Ricos – Setores de alto luxo que vão de iates a clubes exclusivos, de casas de campo a vinhos caros mostram vigor.”

A matéria do Eu & Fim de Semana, na página 8, tem como título: “Luxos Renovados.” E o seguinte texto: “Na única fábrica da Azimut fora da Itália – a de Itajaí, Santa Catarina, inaugurada em 2010 – já foram encomendadas 12 unidades de Grande 27 Metri, tido como o iate mais inovador do estaleiro italiano, que custa a partir de R$ 54 milhões. Virou um sonho de consumo concretizado por diversos magnatas mundo afora. Apenas um iate das 12 unidades produzidas foi adquirido por alguém que não mora no Brasil.”

Diz a sócia da consultoria Bain & Company, Luciana Batista, que monitora o setor: “Diante de incertezas, o mercado de luxo tende a retrair um curto período e depois voltar com muita força. O que não esperávamos era uma recuperação tão rápida no Brasil depois da pandemia. Por aqui, achávamos que a retomada só viria neste ano, mas, para diversos setores do luxo, ela começou em 2020 e 2021.”

Esse é o Mercado, o Senhor Mercado, como sempre registram os analistas econômicos pró-mercado, que ficou altamente preocupado com a fala de Lula a favor dos mais pobres entre os mais pobres e dos milhões de brasileiras e brasileiros que passam fome no Brasil. Ou seja, o Senhor Mercado está se lixando para a pobreza e a fome, crescentes no Brasil. Não por outra razão houve necessidade de construir a Frente Nacional contra a Fome e a Sede, lançada em abril de 2022 no Fórum Social das Resistências em Porto Alegre, e integrada pela Ação da Cidadania, Movimento Fé e Política e todos os principais movimentos sociais e populares brasileiros. Brasil afora são inúmeros os Comitês Populares contra a Fome e as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, criados para, emergencialmente, enfrentar a fome. A Campanha da Fraternidade 2023 da Igreja católica tem como tema FRATERNIDADE E FOME: ´Dai-lhes vós mesmos de comer!´ (Mt, 14,16).

Estamos em novembro de 2022, depois da vitória de Lula, e esta é a realidade brasileira. O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014, segundo a FAO/ONU. Mas voltou ao Mapa em 2018/2019, com o fim do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) e da extinção, na prática e no cotidiano, de todas as políticas de combate à fome, de agroecologia e produção orgânica e das políticas públicas com participação popular.

A elite escravocrata brasileira, hoje alimentada pela ultradireita neofascista, e o Senhor Mercado não olham para a necessidade de reformas estruturais, para o enfrentamento da desigualdade econômica e social, que voltou a crescer muito nos últimos anos, com a falta de comida no prato de brasileiras e brasileiros. Seu problema é o dólar disparando e o derretimento da Bolsa de Valores, dólar e Bolsa que beneficiam meia dúzia de super-ricos que, em meio à fome e à pandemia, compram iates que custam, cada um, R$ 54 milhões.

Há, pois, um longo caminho pela frente para, com muita mobilização social, acompanhada de formação na ação, alimentar de novo o povo brasileiro, de manhã, ao meio dia e à noite. E trazer de volta ao Brasil a justiça social, a soberania e a democracia. À boa luta, portanto, ESPERANÇAR.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko