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Seleção Brasileira estreia na Copa do Mundo com vitória e a "marca do Pombo"

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Richarlison marcou os dois gols da vitória do Brasil sobre a Sérvia nesta quinta-feira (24) - Lucas Figueiredo / CBF
Será que essa não é a Copa do Mundo que vai consagrar Richarlison?

*Luiz Ferreira

Essa pode ser a Copa do Mundo mais cercada de controvérsia e polêmica da história. Mas ainda é o maior torneio de futebol do planeta. E como tal, será lembrada por tudo que se tem falado dentro de campo, mas (principalmente) pelo que ocorre dentro das quatro linhas.

Nesta quinta-feira (24), eu e você vimos a Seleção Brasileira vencer um complicado confronto contra a Sérvia. O time comandado por Tite sofreu demais com as faltas e as entradas duras do forte adversário da estreia no Mundial do Catar e responder tudo na bola. Não por acaso, o grande nome da partida no estádio Lusail foi o atacante Richarlison, autor dos dois gols brasileiros, sendo que o segundo foi uma verdadeira pintura.

Mas talvez a grande notícia para Tite e para a torcida seja o fato de que a Seleção Brasileira não depende mais de um único nome para chegar às vitórias. A atuação contra a Sérvia (mesmo levando em consideração todo o nervosismo da estreia e toda a expectativa jogada em cima da equipe) foi muito boa e mostrou que o que não falta no escrete canarinho é opção para desenrolar as coisas dentro de campo.

O primeiro tempo, como esperado, foi de mais estudo por parte das duas equipes. Tite optou pela entrada de Lucas Paquetá no meio-campo ao lado de Casemiro e escalou o Brasil com Raphinha, Neymar, Richarlison e Vinícius Júnior. A equipe criou poucas chances, talvez pelo nervosismo ou pelas botinadas da Sérvia (que entrou em campo com a clara intenção de fazer um jogo mais físico e mais truncado em cima do time brasileiro).

Na prática, o Brasil criou pouco no primeiro tempo. Paquetá parecia preso e sem a dinâmica que estamos acostumados a ver com e sem a bola. Neymar estava bem marcado. Assim como Vinícius Júnior. E Raphinha parecia o mais afobado de todos. O camisa 11 teve pelo menos três boas chances de balançar as redes, mas parou no goleiro Vanja Milinkovic-Savic.

Sim, crianças. Era pouco diante da nossa expectativa. Mas quem disse que as coisas funcionam do jeito que a gente quer numa Copa do Mundo?

Como todo bom torcedor, também sou metido a treinador de futebol. Falei com alguns amigos sobre possíveis mexidas na Seleção Brasileira. Talvez a entrada de Bruno Guimarães, volante de ótimo passe. Ou na de Fred, jogador de muita força na marcação. Falamos em Antony, Gabriel Jesus, Rodrygo e em todo o banco de reservas da Seleção Brasileira.

No entanto, Tite escolheu o caminho da conversa. Corrigiu o posicionamento da sua equipe, orientou seus jogadores e não fez mudanças no segundo tempo. Na verdade, o plano de seu Adenor estava traçado.

Com o time mais presente no ataque, o Brasil foi empilhando chances. Raphinha falhou na frente do goleirão Sérvio e Alex Sandro acertou a trave enquanto Vinícius Júnior levava seus marcadores à loucura com dribles e bons passes do lado esquerdo.

Aos dezesseis minutos, Casemiro rouba a bola na intermediária e passa para Neymar. O camisa 10 (talvez num dos seus únicos acertos durante a partida) tirou dois marcadores ao acertar o corpo e deixou a bola com Vinícius Júnior. O atacante do Real Madrid bateu, o goleiro rebateu e Richarlison só teve o trabalho de escorar para as redes.

Onze minutos depois, Vini Jr. parte pela esquerda e cruza de trivela para Richarlison. O camisa 9 ajeitou e acertou um voleio cinematográfico para marcar o segundo do Brasil. Sim, o mesmo Richarlison que estava “sumido” do jogo no primeiro tempo e que era apontado como candidato ao banco de reservas, de acordo com alguns relatos de amigos meus.

Torcedor é tudo emocionado mesmo né? Façam o pombo imediatamente!

Daí para o apito final no estádio Lusail, o Brasil controlou o jogo e quase não sofreu defensivamente. Tanto que Tite mandou Gabriel Martinelli, Gabriel Jesus, Rodrygo, Antony e Fred para o campo e mostrou que está muito bem servido de opções. O único “senão” fica por conta da saída de Neymar. O camisa 10 recebeu uma pancada no tornozelo direito e deixou o campo chorando.

Essa já é a Copa do Mundo mais controversa de todos os tempos. Mas também será aquela que vai nos brindar com grandes histórias. Será que essa não será a Copa de Richarlison? Justo ele, que sofreu às vésperas da convocação final com uma lesão na panturrilha e que é conhecido pela sua atuação nas causas sociais? Lembrem-se de ele foi um dos únicos jogadores a se manifestar publicamente sobre a necessidade de vacinação contra a covid-19 e pedir para que as pessoas se imunizassem.

Quantas vidas não foram salvas com esse exemplo, hein...

Ah, e se você é supersticioso (quem não é?), lembre-se de que a última vez em que um camisa 9 balançou as redes numa estreia da Seleção Brasileira em Copas foi em 2002 com Ronaldo Fenômeno.

E vocês se lembram do que aconteceu há vinte anos, não é mesmo?

Richarlison deixou a sua marca (a marca do pombo) em um jogo complicadíssimo. Mostrou estrela, personalidade e muita disciplina tática. Como todo o time brasileiro. Que a história se repita contra a Suíça no dia 28.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Eduardo Miranda