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Coluna

As lesões de Danilo e Neymar e a linha tênue que separa a zoeira da falta de bom senso

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Neymar e Danilo sofreram lesões na partida contra a Sérvia e estão fora das partidas contra Suíça e Camarões - Lucas Figueiredo / CBF
Existem algumas coisas que precisam ser ditas mesmo que não gostemos dos personagens em questão

*Luiz Ferreira

Depois da boa estreia do Brasil na Copa do Mundo, o torcedor acordou hoje com a notícia de que o lateral Danilo e o atacante Neymar sofreram lesões na vitória sobre a Sérvia e estão fora dos próximos dois jogos da Seleção Brasileira.

Exames de imagem realizados nesta sexta-feira (25) mostraram que o camisa 2 está com uma lesão ligamentar medial no tornozelo esquerdo. Já o polêmico camisa 10 brasileiro está com uma lesão ligamentar lateral no tornozelo direito.

Os dois são desfalques seríssimos e que podem mexer com a estrutura sólida da equipe comandada por Tite. E fica a dúvida sobre quem serão os substitutos dos dois nas partidas contra Suíça e Camarões.

Para o lugar de Danilo, há Daniel Alves (reserva imediato) e Éder Militão (que jogaria improvisado no setor). Se o treinador da Seleção Brasileira optar pelo veterano da camisa 13, é bem possível que Fred entre no meio-campo para dar mais consistência ao time e “compensar” a falta de combatividade de Dani Alves na defesa.

Já para o lugar de Neymar, Tite tem várias opções na manga. Rodrygo, Everton Ribeiro, Bruno Guimarães (com Lucas Paquetá jogando um pouco mais adiantado), Everton Ribeiro e Antony são algumas delas. O Brasil não perderia força na marcação e manteria o poderio ofensivo sem muitos problemas.

Mas o assunto dessa coluna não é o substituto deste ou daquele jogador. Existem algumas coisas que precisam ser ditas mesmo que não gostemos dos personagens em questão.

Já se sabe que Neymar é um baita jogador. Desportivamente falando não há o que falar dele. Habilidoso, talentoso, criativo, camisa 10 na sua maior acepção do termo e dono de um talento absurdo. Não há como imaginá-lo fora do time titular da Seleção Brasileira. É nosso melhor jogador de muito longe.

E sua presença em campo cria uma espécie de 'vantagem psicológica' para a equipe de Tite. Os adversários sabem que ele pode resolver um jogo com apenas um toque na bola e sempre irão vigiar seus passos de perto.

Mas Neymar também é polêmico e gosta de “causar”. Sua fama de “cai-cai” e de “cavador de faltas” o persegue há anos e fez com que muita gente se esquecesse de que ele sofreu nove das 12 faltas cometidas pela Sérvia na partida desta quinta-feira (24).

Ao mesmo tempo, suas posições políticas não são as mais elogiáveis. Seu apoio público a Jair Bolsonaro depois de tantas mortes provocadas pela negligência do governo durante a pandemia da covid-19 e sua participação na chamada “super-live” do então candidato à presidência da República chatearam muita gente e fizeram com que uma onda de animosidade fosse dirigida contra ele e a Seleção Brasileira.

Muita gente apontou um problema não resolvido com a Receita Federal como a principal razão do apoio público do jogador do Paris Saint-Germain. Não por acaso, isso também se transformou numa fonte quase inesgotável e “memes” nas redes sociais.

A questão aqui nem é o bem conhecido espírito “perco o amigo, mas não perco a piada” do torcedor brasileiro. Isso não é novidade pra ninguém. Mas o fato de muita gente ter comemorado a lesão de Neymar e a possibilidade dele não jogar mais essa Copa do Mundo é que deixaram claro que existe uma linha tênue entre a zoeira e a falta de bom senso.

Confesso que eu ri da grande maioria das piadas, mas fico me questionando se não estamos passando do limite com o camisa 10 da Seleção Brasileira por conta de suas posições políticas.

Com toda a sinceridade, ver amigos comemorando a lesão de Neymar me deixou profundamente incomodado.

Sim, eu sei que Neymar apoiou um candidato à presidência que fez piada com a pandemia de covid-19, que disse que “não era coveiro” durante o pico de mortes causadas pela doença, que tentou empurrar uma série de remédios sem eficácia goela abaixo da população e que fez de tudo para atrasar a vacinação. Fora mais uma série de barbaridades que vocês já estão cansados de saber. Ainda mais se vocês leem o Brasil de Fato com frequência.

No entanto, não podemos nos esquecer que as pessoas que defendem o governo que ainda está aí querem que nós nos igualemos a elas em baixeza e mesquinharia para que as brigas continuem nas ruas e nas redes sociais.

Será que não nos falta um pouco de bom senso? Ou, como minha mãe sempre diz, será que não estamos precisando colocar a mãozinha na consciência e perceber que estamos passando um pouco do limite?

Dentro de campo, a Seleção Brasileira me passa a impressão de que tem condições de lidar com o desfalque de Neymar sem muitos problemas. Aliás, esse é um dos grandes feitos de Tite nesses últimos anos. Montar uma equipe que não sofra da “Neymardependência” que tomou conta dos jogadores na Copa do Mundo passada.

E confesso que o desfalque que me deixa mais preocupado é o de Danilo. Não que o camisa 10 não faça falta. Muito pelo contrário! Mas a impressão que fica é a de que o time parece mais preparado para lidar com a sua ausência do que em anos passados.

Mas toda essa história sobre as “comemorações” em torno da lesão de Neymar (que, como todo jogador de futebol do planeta, sonha em conquistar uma Copa do Mundo) não está passando um pouco do limite?

Eu entendo que todo mundo tá bem "P" da vida com o que esse governo fez conosco nos últimos quatro anos. Espero sinceramente que todos eles respondam pelos crimes que cometeram em todas as instâncias e situações. No entanto, não vejo motivo nenhum para nos rebaixarmos ao nível desses caras. Que Neymar e Danilo retornem o mais rápido possível para a Seleção Brasileira. Vamos precisar dos dois.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Jaqueline Deister