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Na China, o gongo soa mais alto para Xi Jinping

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Xi Jinping poderá ser o primeiro presidente da China a assumir o terceiro mandato depois de Mao Zedong - Wang Zhao / AFP
No gigante asiático, o gongo soa mais alto para Xi Jinping - e o mundo olha para a China

Os protestos multitudinários e furiosos se avolumam na China, informam a imprensa ocidental, as plataformas virtuais e estudantes/as brasileiros/as que moram naquele país.
Xi, que saiu consagrado e com mega poderes do XX Congresso do PC chinês, atravessa um duríssimo desafio político e de liderança.

Os motivos mais aparentes dos atuais protestos estão relacionados com a diretriz de "Covid Zero" do governo central, baseado em prolongados lockdowns, rigoroso isolamento e até confinamento de regiões inteiras - o que tem provocado a ira da população (o incêndio num conjunto habitacional na cidade de Urumqi foi o gatilho das manifestações).

Chama atenção que a recente onda de protestos - diferente de 1989 - teve como epicentro inicial os conjuntos habitacionais populares e as grandes plantas fabris, como a da Apple/FoxConn.

Porém, neste fim de semana, a onda de protestos ganhou a adesão e o apoio dos estudantes universitários e da classe média urbana (fração social que tem dado sólido apoio ao regime nas últimas décadas) das gigantescas urbes, como Pequim e Xangai.

O regime se encontra emparedado entre seguir a política draconiana e repressiva de "Covid Zero" ou adotar medidas de relaxamento, o que já vem ocorrendo em diversas províncias no interior do país.

Do ponto de vista político imediato, o maior desafio político de Xi Jinping é o de conter o alcance da onda de indignação contra o regime.

O fato de ter surgido e ecoado entre os milhões de manifestantes a palavra de ordem "Renuncie Xi" indica que os protestos avançam para a perigosa contestação, de conjunto, do regime.

Ou seja, a fúria não é apenas contra as medidas sanitárias, há mais fermento movendo as diversas camadas da indignação popular.

Resta saber como o governo chinês, liderado por Xi Jinping, vai encontrar uma saída para essa inédita e tensa conjuntura interna.

Nos próximos meses, a China poderá atravessar um cenário de forte turbulência política e social.

Uma conclusão inicial é possível: o mandarinato de Xi Jinping perdeu substância política diante da impetuosa e ampla jornada de protestos -- um movimento que parece demonstrar maior solidez que as manifestações de 1989, ainda na era Deng.

No gigante asiático, o gongo soa mais alto para Xi Jinping -- e o mundo olha para a China.

 

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Pedro Carrano