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A derrota do Brasil, os perigos da Coreia do Sul e os comentaristas de resultado

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A Seleção Brasileira perdeu para Camarões por 1 a 0 em jogo válido pela terceira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo - Lucas Figueiredo / CBF
A derrota para os “Leões indomáveis” na sexta-feira (2) deixa duas lições importantíssimas

*Luiz Ferreira

Perder nunca é bom. Pode ser em Campeonato Carioca, em torneio no Aterro do Flamengo ou na Liga dos Campeões da UEFA. Por mais que a derrota não atrapalhe a trajetória de uma equipe numa determinada competição ou que ela (ainda) não provoque uma eliminação, ela sempre está lá para nos mostrar que as coisas não deram certo num determinado momento.

Não é exagero nenhum afirmar que a Seleção Brasileira recebeu uma “segunda chance” na Copa do Mundo. A equipe reserva até que criou boas oportunidades de balançar as redes, mas acabou derrotada por 1 a 0 pela valente equipe de Camarões que, apesar do triunfo, está fora do Mundial do Catar. O Brasil, apesar do revés desta sexta-feira (2), manteve a primeira posição do Grupo G e se garantiu nas oitavas de final.

Menos mal que o estrago não foi completo e que ainda há bambu pra fazer flechas. Mas o desempenho não foi bom não. Nem somente pela derrota e pela quebra de uma sequência invicta que já durava dois anos e seis meses.

Mas não é só a derrota que incomoda. Alguns “comentaristas de resultado” das redes sociais estão conseguindo transformar o dia num inferno com uma série de bobagens. Papo de fazer perder a paciência e de arriscar perder a conta no Twitter por conta de ameaças à integridade física dos internautas.

Assim que Tite anunciou que iria mandar a campo um time repleto de reservas para o jogo contra Camarões, muita gente aplaudiu e afirmou que o técnico da Seleção Brasileira estava coberto de razão. Dificilmente o Brasil perderia o primeiro lugar do seu Grupo. Mesmo com uma vitória da Suíça sobre a Sérvia (que, de fato, acabou acontecendo). No entanto, o time precisaria entrar em campo de novo na próxima segunda-feira (5) já em compromisso válido pelas oitavas de final da Copa do Mundo.

Imaginem só se Tite manda força máxima a campo contra os “Leões Indomáveis” e ele perde um Casemiro, um Thiago Silva ou um Vinícius Júnior lesionado. Eu garanto a vocês que as mesmas pessoas iriam perguntar por que o treinador da Seleção Brasileira não poupou seus principais jogadores, pedir sua cabeça numa travessa e invadir a sede da CBF com tochas e foices.

Comentarista de resultado é uma tragédia, pessoal. Os mesmos que aplaudiram são os mesmos que criticam dois minutos depois. E a cara nem arde.

Pelo menos para este colunista, estava mais do que claro que Tite fez uma escolha difícil (sem referências a um determinado jornal de grande circulação, por favor). E toda escolha traz consequências boas e ruins. Futebol é como a vida, minha gente. Na prática, o técnico da Seleção Brasileira tinha dois caminhos a seguir nesta sexta-feira (2).

Ou poupava todos seus jogadores considerados titulares pensando no início das oitavas de final para que todos entrassem plenamente recuperados… Ou mandava força máxima num jogo que não valia tanta coisa assim pensando nos três pontos e nos 100% de aproveitamento, mas correndo risco de perder um jogador importante para as fases mais difíceis dessa Copa do Mundo.

Vale lembrar que Alex Telles e Gabriel Jesus foram substituídos durante a partida por problemas no joelho e ambos já passaram por exames que detectaram lesões sérias e foram cortados da Copa do Mundo. Antes, Neymar, Danilo e Alex Sandro passaram pela mesma situação.

Sério mesmo que ainda tem gente que acha que era pro Tite meter um “all in” nesse jogo?

O problema não é ter poupado este, aquele ou o time todo. É o desempenho dentro de campo. E ele foi ruim dentro do que a Seleção Brasileira se propunha a fazer. E Tite errou sim. Pelo menos na opinião deste colunista.

Ficou mais do que claro que o Brasil começou a perder o meio-campo depois das saídas de Fred e Rodrygo. Enquanto o time se acertava no segundo tempo com as entradas de Pedro, Everton Ribeiro, Raphinha, Bruno Guimarães e Marquinhos, a equipe de Camarões ia percebendo que o bicho não era tão feio assim. Nunca é demais lembrar que estamos falando de um adversário que tem história sim na Copa do Mundo e que tem jogadores atuando em algumas das principais ligas do planeta. Quando Aboubakar fez o único gol da partida (já aos 46 minutos do segundo tempo), já era tarde para a reação.

Mas a derrota para os “Leões indomáveis” deixa duas lições importantíssimas.

A primeira (e mais clara de todas) tem relação com o aproveitamento das chances criadas durante o jogo. Simplesmente não dá pra desperdiçar tanta oportunidade de colocar a bola na casinha e correr pro abraço como a Seleção Brasileira fez nesta sexta-feira (2). A bola, meus amigos, pune com a mesma crueldade de quem tira o gelo da forminha e não se preocupa em encher tudo de novo e colocar na geladeira.

E a segunda (e talvez mais sutil) é a de que alguns jogadores fazem falta sim. Gostem deles ou não. Neymar, Richarlison, Casemiro, Thiago Silva, Danilo e Vinícius Júnior são indispensáveis sim. Se os reservas são melhores do que os titulares, eles estariam em campo e não no banco, ora bolas. É bom sim ter alternativas para mudar um jogo. Mas é preciso cortar alguns discursos mais ufanistas e atentar para aquilo que o campo mostra.

O jogo contra a Coreia do Sul (que venceu Portugal numa virada espetacular) vai exigir da Seleção Brasileira uma intensidade que ela ainda não teve nessa Copa do Mundo. O time comandado pelo português Paulo Bento é muito rápido nas transições e já deve ter percebido que o Brasil está sentido a exigência física do Mundial do Catar. Não se surpreendam se os “Tigres da Ásia” jogarem no erro dos comandados de Tite e se fecharem na defesa com cinco ou até seis jogadores para sair em velocidade com bolas longas nas costas da nossa defesa.

Lembram como Camarões construiu a jogada do gol de Aboubakar? Então, minha gente. O negócio vai sim ser bastante complicado na segunda (5).

E não me venham com papo de “peso de camisa” agora. Se isso fosse realmente tão vital assim, a Alemanha não teria sido eliminada com uma derrota para o Japão e sofrido horrores para vencer a Costa Rica. Mais do que nunca, humildade, canja de galinha (faz bem pra casos de febre e mal estar, sabia?) e concentração serão altamente necessários a partir desta segunda-feira (5). É preciso sim aprender as lições da derrota para Camarões, mas sem tratar tudo como “terra arrasada”.

Ainda tem muito bambu, minha gente. Dá pra fazer uma infinidade de flechas. E dá pra continuar sonhando com o hexacampeonato sim.

Tenhamos calma. E pelo amor de Deus, não caiam nas lorotas dos comentaristas de resultado.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Eduardo Miranda