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Lula ganhou! E agora?

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"É sobre a derrota e consequentemente, o esforço coletivo que se trata essa vitória!" - Foto: Ricardo Stuckert
Transição não é apenas do governo Bolsonaro para Lula, mas do fascismo à retomada das lutas sociais

Inicialmente, pedimos desculpas pela pausa nas colunas da série: caminho das águas, mas para que pudéssemos fazer a pergunta acima neste momento, muito do nosso cotidiano precisou ser pausado para dedicação total à campanha eleitoral, assim o fizemos e foi bonito de se ver, sentir e conquistar. A vitória foi de todas e todos que estiveram diariamente nas ruas!

Esforço coletivo, vitória coletiva?

Bom, após a euforia do que foi essa dupla eleição (primeiro e segundo turno), enfim Lula ganhou, nós ganhamos e nos últimos dias, passada o início da transição e da diplomação, essa pergunta tem insistido na minha cabeça: Lula ganhou! E agora? Fiquei refletindo e recordando que tantos foram os esforços para que estivéssemos vivendo novamente este cenário.

Partindo da Vigília Lula Livre, onde centenas de militantes se revezaram em frente ao presídio de Curitiba, durante os 580 dias em que Lula ficou preso, passando pela implacável defesa das advogadas e advogados para inocentá-lo, tornando-o elegível, para que a militância em geral, tanto dos movimentos sociais, sindicais, como dos vários partidos tivéssemos a oportunidade de fazer essa campanha, que foi difícil, mas também histórica. Também não podemos esquecer de todo o esforço incansável deste senhor de 77 anos, o próprio Lula, pulando em cima dos carros durante as carreatas e comícios para demonstrar ao povo o quão vivo ele estava ou melhor, está! Quem não vibrava com isso?

Faremos valer tantos esforços, de alguns anos, oriundos de tantos atores e de tantas ordens? É sobre a derrota e consequentemente, o esforço coletivo que se trata essa vitória! Coletivamente conseguimos trazer Lula de volta à cena política e através da figura dele, outros personagens foram resgatados do apagamento político, como seu vice Geraldo Alckmin (temos que admitir, ele tem trabalhado) Marina Silva… e tantos outros. Ressuscitamos todos e todas! Lavamos a alma e agora?!

Transição de governo ou ponte para o pós-fascismo?

Brasília, nos últimos meses deste ano, tornou-se, como diz na Bíblia, “A terra Prometida”, nada de mau nisso, todas e todos são sempre bem-vindos nessa terra nordestina, fora do Nordeste, mas penso que a transição não deveria ser vista, pelos célebres escolhidos e algumas poucas escolhidas, como uma tarefa escolar, em que se faz algumas pesquisas, apresenta um trabalho e espera sua nota.

A transição necessita ser vista por todo o conjunto da militância, como um caminho a ser percorrido e atravessado por um bom tempo, desta forma, essa transição durará todo o governo Lula/Alckmin, pelo menos e olhe lá.

Não vejo uma transição do governo Bolsonaro para o governo Lula, e sim do fascismo à retomada das lutas sociais, inclusivas e pedagógicas, aliás a palavra pedagogia, que tem origem na Grécia, significa: paidós (criança/jovens) e agodé (condução). Formando Paidagogos, portanto o pedagogo significa condutor de crianças ou jovens, aquele que ajuda a conduzir o ensino, pois só assim eles estariam prontos para caminharem sozinhos. Por onde conduzimos nossa juventude nesses quatro anos?

Bom, várias são as análises de conjunturas afirmando que o mundo é outro, as forças no mundo e no Brasil também o são. E o povo? Também mudou? Sim. Tudo se transformou aceleradamente! Estamos em movimento e a depender de nós e da nossa solidariedade, vamos conduzir este momento para um país de fato mais popular ou um país de mais excludente e de “escolhas” propostas por uma classe média?

São tantos temas para se resgatar, ampliar, retomar. Partindo da alimentação. Falar de alimentação saudável não tem somente a ver com comer ou não carne!

Respeito ao meio ambiente e transição energética justa, não tem somente a ver com troca de matriz e vendas de placas solares apenas, tem a ver com pobreza energética instaurada, que já é uma realidade no nosso país, bem como toda fragilidade habitacional e segurança da população que vive às margens, seja na aba de uma barragem, de um rio, de uma encosta.

Incluir mulheres, negros e lgbt’s, não tem somente a ver com a escolha de algumas famosas para compor Ministérios, embora isso também faça parte das composições necessárias. Queremos ser ouvidas e vistas!

Faremos por merecer?

Bom, estando em Brasília e observando de longe o início desse processo, vejo que teremos que fazer muito mais por merecer. O Bom é que janeiro vem aí e com ele, algumas frustrações também, calma, não é pessimismo, apenas pisando na realidade da conjuntura e sabendo que para ultrapassarmos o broto do fascismo (sim, ele já passou da fase de semente), teremos que recorrer à educação sobretudo no bom e conhecido Trabalho de Base, dos mais variados tipos que experimentamos, durante as campanhas: continuidade das brigadas de agitação e propaganda, comitês populares, grupos de famílias que os próprios movimentos possuem nas suas estruturas.

Não podemos nos enganar, nosso contato com o povo precisa ser fortalecido e não esmorecido. Todos nós sabemos que essa ausência de prática é que abriu espaço ao fascismo no nosso país!

Fazer por merecer o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, é também, saber aproveitar todas as oportunidades e condições de dialogar com o povo, algo que teríamos muito mais dificuldades com a releição do fascismo e mais possibilidades de fechamento do regime e sabendo disso, não podemos cair na ilusão de que porque ajudamos a eleger o atual governo não poderemos fazer lutas no sentido de cobrar respostas, pelo contrário, estamos diante de um cabo de força e essa corda precisa ser puxada para o lado da esquerda. Isso não será um desgaste, mas uma forma do povo enxergar a diferença das pautas vazias dos fascistas e nossas pautas concretas de mudanças! Será pedagógico!

Bom, pergunto a você: Faremos por merecer?

Bom. Boas festas! Relaxem, curtam as famílias e amigos. As lutas continuam nos próximos anos.

A nós, mulheres, continuemos vivas, fortes, ativas na luta e com doses de acidez, será necessário!

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*Adriana Dantas é educadora popular, militante do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, atualmente contribui no Distrito Federal.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

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Edição: Flávia Quirino