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Verde-amarelismo bolsonarista é continuação da farsa histórica

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Marcelo Camargo - Agência Brasil
Descobrimento do Brasil é farsa, continente já era habitado

Em seu livro “O verdadeiro criador de tudo”, o neurocientista Miguel Nicolelis afirma que o cérebro humano é o centro de todas as coisas. Toda interpretação do mundo depende das propriedades biológicas do cérebro humano. Todo significado conferido ao universo e tudo que existe nele vem da mente humana. O cérebro é que cria a história e a descrição do universo, das ciências, dos mitos e dos símbolos. O cérebro, com um fichário, registra os modelos de compreensão e respostas sobre os fenômenos, objetos e coisas. Quando há uma nova forma de conhecimento, o cérebro reconfigura o fichário.  

História é constante transformação do pensamento

Cada fase da história é marcada por transformações radicais no comportamento e no modo de pensar da humanidade. Na antiguidade ocidental os modos de vida e os acontecimentos eram registrados por meio de escrita. Na Idade Média (476 a 1453) as condutas dos indivíduos passaram a ser controladas pela Igreja Católica que os impediam de ler textos sagrados e profanos. O conhecimento era por meio de tradições e quem delas discordasse era punido com pena de morte em fogueira de lenha.

No limiar dos tempos modernos, a partir do século XV, no período que ficou conhecido como Renascimento, houve forte reação ao sistema feudal e aos privilégios da classe senhorial. E uma luta pela liberdade de pensamento racional acima das imposições das crenças. Mas, segundo Horkheimer a razão não é absoluta e sim condicionada por fatores econômicos, sociais, políticos e ideológicos. A razão é instrumental quando valoriza os meios para se alcançar um fim ou satisfação de um desejo, mesmo que tais meios sejam ilícitos.

Histórias falseadas do Brasil

Conforme Marilena Chaui, em seu livro “Brasil: mito fundador e sociedade autoritária” (2000), a história é formada ao longo do tempo por afirmações subjetivas. Consta na historiografia oficial, que a América foi descoberta por Colombo e o Brasil por Pedro Álvares Cabral, mas isso é uma subjetividade porque o continente já era habitado por civilizações avançadas, como os Astecas, Maias e Incas.

Em território brasileiro, na ilha de Miracanguera, entre Manaus e Itacoatiara, os cientistas descobriram vestígios de uma civilização extinta. Nos diversos cemitérios descobriram grande quantidade de urnas funerárias e vasos cerâmicos, pratos, tigelas com graciosos ornatos que demonstram domínio técnico na arte de cerâmica.

Mas os exploradores que vieram depois de Colombo e Cabral, desconsideraram as populações existentes e passaram a dominá-las por meio de guerras, como fez Herán Cortês, em guerra contra os Maias no México e Francisco Pizarro massacrando os Incas no Peru em busca de metais preciosos.

O fim era o enriquecimento da Espanha e os meios utilizados foram as guerras, razão instrumentalizada pelos exploradores.

No Brasil, para consolidar a posse da terra, os portugueses inventaram que eles tinham sido escolhidos por Deus. Na carta de Pero Vaz de Caminha está escrito que “Nosso Senhor não nos trouxe aqui sem causa”. Com essa sacralidade postiça os sertanistas iam pelas matas capturando índios para trabalho escravo e as índias para práticas sexuais dos brancos. Foram os sertanistas que, apoiados pela doutrina da “guerra justa”, assaltaram e destruíram o Quilombo dos Palmares em Alagoas, em 1694.

Falso nacionalismo

De 1964 a 1984 o governo taxava de antinacionalista os opositores do regime militar. Estes podiam ser torturados, mortos ou ter que deixar o país. O slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o” foi um meio absurdo para justificar a repressão. O falso nacionalismo de Bolsonaro começa quando ele se alia ao imperialismo de Donald Trump e faz objeção a acordos do Brasil com outros países e organismos internacionais, inclusive a Organização Mundial de Saúde (OMS). Quando os bolsonaristas apropriam-se dos símbolos nacionais, eles querem apoio das massas para perpetuação de Bolsonaro no poder, em regime ditatorial. O verde-amarelismo sempre foi uma farsa; uma abstração mental e uma razão instrumental do poder das oligarquias.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Elis Almeida