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Desafios da unidade da esquerda e a questão da agenda - Nº 1

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O governo Lula conta, neste momento, com a disposição à unidade por parte de uma série de organizações, precisa aproveitar este dado e trabalhar com ele. - Giorgia Prates
Uma das questões centrais é pensar sobre qual será a agenda para o próximo período

As organizações de esquerda no Brasil estão diante de um desafio que não vivenciavam desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016: Como atuar diante de um governo e de uma frente ampla que busca atender, na sua composição, a setores populares ao mesmo tempo em que convive com a pressão de frações neoliberais?

Como conseguir unidade dos partidos, movimentos populares, organizações e entidades de esquerda em um cenário com novas movimentações, ainda que sob a predominância de questões como:

a) A consolidação de uma base bolsonarista e golpista com projeto de desestabilização permanente do governo;

b) o predomínio da defensiva e de desmobilização da classe trabalhadora devido aos ataques em sete anos;

c) a derrota em 2016 de uma estratégia que não colocou como centro o poder para a classe trabalhadora, o que mantém a pergunta insistente: qual é o caminho possível agora para um governo progressista?  

d) um cenário incerto no plano mundial e turbulento no plano latino-americano.

Recordo como o tema da unidade foi um problema nos primeiros anos de governos do PT. Aquele período, sobretudo nos governos de Lula, foi marcado por relativa estabilidade e crescimento econômico, com auge no crescimento do ano de 2010. O que apontava possibilidades no campo de conquistas econômicas para a classe trabalhadora e movimentações nesse sentido.

Porém, sem uma agenda definida e comum, a esquerda se dividia entre as organizações que viam no governo seu inimigo central, resultado de uma leitura equivocada sobre o caráter, a composição e o programa dos governos Lula e Dilma; no outro extremo, organizações simplesmente se recusavam a aderir às lutas e fazer críticas ao governo, com receio de que isso fortalecesse a oposição, dirigida à época pelo PSDB/DEM.

Ainda naquela época, houve proposições de jornadas nacionais de lutas e campanhas como plebiscitos para tentar coesionar a militância em torno de tarefas concretas e de uma agenda para o país, caso do plebiscito pela nulidade do leilão da mineradora Vale, em 2007, entre outras iniciativas. Organizações como o MST, a Consulta Popular, a Assembleia Popular, cumpriram um papel importante nesse sentido. Porém, esta não foi a regra geral naquele momento.

Agenda

Diante dessa contradição, uma das questões centrais é pensar sobre qual será a agenda para o próximo período. Quais pautas são centrais, unificam e têm capacidade de atrair e ao mesmo tempo politizar os trabalhadores?

O diagnóstico inicial pode apontar caminhos: o relatório resultante do grupo de transição do atual governo aponta o abandono de políticas públicas por parte do governo Bolsonaro nas áreas de Assistência Social, Moradia, Seguridade Social, Educação e Saúde, ao lado do aprofundamento do abandono de uma política industrial para o país.

Num momento em que a classe trabalhadora ainda sente os efeitos de retiradas de direitos ao longo de sete anos, precarização, terceirização, flexibilidade, repressão e um cenário de desemprego, é urgente que as organizações de esquerda estejam presentes nas lutas econômicas e reivindicativas da classe. Comunguem da mesma trincheira, de maneira a contribuir na elevação da qualidade e organização das lutas.

O legado do neofascismo, que apresenta uma base social de massas, torna imediata a pauta da defesa democrática. Entretanto, sem a presença das bandeiras que toquem nas necessidades urgentes dos trabalhadores, dos setores mais precarizados aos assalariados de 2 a 5 salários mínimos, apenas a luta democrática se mostra e se mostrará insuficiente. O povo votou em Lula de alguma forma por vê-lo vinculado à geração de emprego, à melhoria de vida, ao acesso a bens de consumo. Neste sentido, é preciso avançar em um programa antineoliberal, antifascista, antirracista, feminista e antiLGBTfóbico.

É preciso garantir uma maioria consistente de apoio ao governo entre as massas trabalhadoras. A defesa de medidas antineoliberais se torna urgente diante de um inimigo central como o neofascismo, uma vez que ele busca justamente disputar as massas em períodos de crise. O governo Lula conta, neste momento, com a disposição à unidade por parte de uma série de organizações, precisa aproveitar este dado e trabalhar com ele.

Reuniões nacionais recentes do movimento sindical e social têm apontado neste sentido: uma linha de defesa do governo contra as pressões neoliberais, ao mesmo tempo com crítica e pressão por avanços. Articulações nos estados retomam o conteúdo de frente popular, reunindo a militância que estava na Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, como ocorreu em Sergipe.

São iniciativas importantes nessa luta prolongada contra o neofascismo.

 

Edição: Frédi Vasconcelos