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Coluna

Será que finalmente chegou a hora de Fernando Diniz?

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Fernando Diniz comandou o Fluminense na conquista do bicampeonato carioca no domingo (9) contra o Flamengo - Mailson Santana / Fluminense FC
Técnico precisava de um título, algo que fizessem com que as pessoas lembrasse dele com facilidade

*Luiz Ferreira

Eu já escrevi uma vez aqui mesmo no Brasil de Fato que Fernando Diniz é o técnico que nós amamos odiar. Sua filosofia de jogo quase que inegociável e sua predileção por um futebol mais plástico nas suas equipes fez com que os amantes do velho e rude esporte bretão se dividissem em dois grupos.

O primeiro é formado pelos admiradores do treinador do Fluminense. São os que enxergam em Diniz o grande salvador da “essência do futebol brasileiro” e do resgate de um “passado áureo e vitorioso”.

E o segundo é formado pelos seus detratores. Estes veem em Fernando Diniz apenas mais um “Professor Pardal” que não consegue pensar além da sua filosofia de jogo e que é superestimado pela imprensa.

Mas esses dois grupos concordavam numa coisa: Diniz precisava de um título de expressão, algo que fizesse com que a maioria das pessoas lembrasse dele com facilidade. Um daqueles momentos que o futebol eterniza por décadas e que fica marcado na memória do torcedor. E esse momento acabou acontecendo no domingo de Páscoa (dia 9 de abril) com a goleada do Fluminense sobre o Flamengo na grande final do Campeonato Carioca.

Esqueçam por um instante que o estadual do Rio de Janeiro não tem mais o mesmo 'glamour' de tempos passados.

Esqueçam que a competição perdeu muito brilho por conta de uma série de fatores e até mesmo por conta da mudança na nossa percepção sobre o esporte. Foquem apenas no que o Fluminense de Fernando Diniz fez com seus adversários.

Não gosto de usar palavras como “humilhação” ou “massacre”. Mas o que se viu no Maracanã foi a consolidação do chamado “Dinizismo”, do estilo de jogo defendido com unhas e dentes pelo personagem principal desta crônica. E o que o Tricolor das Laranjeiras foi sim um verdadeiro baile de gala.

A presença de Marcelo (lateral que ganhou tudo e mais um pouco pelo Real Madrid e que voltava ao Fluminense depois de quase 20 anos no exterior) fez com que o time de Fernando Diniz ganhasse ainda mais qualidade.

Trocas de posição, toques rápidos, muita velocidade e gols bonitos. Aos montes. Quatro, para ser exato. E olha que cabia muito mais.

Tudo bem que o Flamengo facilitou demais a vida do seu rival com uma atuação confusa e sem brilho. Exatamente da forma que a diretoria conduziu a contratação de Vítor Pereira. O que se viu em campo foi a vitória do jogo coletivo, de uma ideia de jogo em cima de um adversário endinheirado e sem qualquer organização tática.

Quem argumentava que Fernando Diniz não era isso tudo por conta da falta de títulos, já viu o treinador levantar duas taças em 2023. Tudo bem sem muita expressão, mas são duas taças.

Mas é aí que entra outro ponto. Será que o “Dinizismo” chegou para ficar mesmo? Será que finalmente chegou a hora de Fernando Diniz mostrar seu valor em voos mais altos? Será que é errado pensar nele como o próximo treinador da Seleção Brasileira?

Essas são perguntas que não são fáceis de serem respondidas.

Seus detratores podem até argumentar que a falta de títulos de expressão (Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e até uma Libertadores) pesam contra Fernando Diniz numa possível ida para o escrete canarinho. Só que a história nos mostra que não é necessário ter uma extensa lista de conquistas para ir bem na Seleção Brasileira.

Vicente Feola tinha apenas um bicampeonato paulista com o São Paulo (em 1948 e 1949) antes de assumir a equipe antes da Copa do Mundo de 1958. Antes de ser o escolhido pela antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos), Feola era auxiliar do húngaro Béla Guttmann no Tricolor Paulista. E Aymoré Moreira conquistou seu primeiro título como treinador justamente no Mundial de 1962 com a Seleção Brasileira.

Títulos ajudam. Mas não são imprescindíveis para se ter sucesso nesse sentido.

A questão (e talvez seja o ponto que mais incomoda este que escreve) é a alta expectativa colocada em cima de Fernando Diniz. Não deixa de ser perigoso tratar o técnico do Fluminense como uma espécie de “salvador da Pátria” e como o único caminho para que a Seleção Brasileira volte a conquistar uma Copa do Mundo. Antes de mais nada, é preciso lembrar que não existe perfeição no velho e rude esporte bretão. Não existe estratégia perfeita, escalação perfeita ou preleção perfeita. Esqueçam isso desde já.

Por outro lado, não há como afirmar que seu trabalho no Fluminense não rendeu frutos. O campo fala por si só.

Certo é que as análises sobre o trabalho de Fernando Diniz carecem de equilíbrio. Nem tanto ufanismo e nem tanto “hate”. Observar pontos positivos e negativos faz parte desse processo de crescimento. Foi assim como todo mundo. Até mesmo quem chegou na Seleção Brasileira sem tanta “grife”.

Fernando Diniz tem capacidade de fazer um bom trabalho no comando do escrete canarinho? Sim. É o momento? Aí eu já não sei dizer.

O futebol é complexo demais e movido a paixão. A certeza de hoje é a dúvida de amanhã e vice-versa. Lembrem-se de que Diniz foi chamado de “Professor Pardal” depois do jogo de ida da decisão do Campeonato Carioca contra o mesmo Flamengo de Vítor Pereira. Hoje, ele comemora a conquista do seu primeiro título de expressão como treinador.

Se Diniz vai trilhar esse caminho até a Seleção Brasileira e entrar no “hall” dos grandes treinadores da história do nosso futebol, isso depende dele e do seu trabalho à frente do Fluminense e de outras equipes que possa vir a assumir na sequência da sua carreira. O que eu posso afirmar com certeza é que o título estadual conquistado no domingo de Páscoa iniciou mais um belo capítulo na sua trajetória.

Certo é que o “Dinizismo” já virou assunto nas mesas de debate na imprensa esportiva e nas mesas de boteco desse Brasil. Por esse ponto de vista, é possível afirmar que Fernando Diniz já conquistou o país. E isso é ótimo. O futebol brasileiro só tem a agradecer.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse