Rio Grande do Sul

Coluna

Amar e mudar as coisas

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"Não há justificativa ética ou moral, para os ataques precoces, escandalosos, que claramente objetivam fragilizar o governo eleito, dificultar a retomada da democracia" - Charge: Aroeira
Convenhamos, o tema da comunicação social distorcida não é pouca coisa

A felicidade é uma arma quente. Lembrei daquela música do Belchior quando me percebi coberto pela pólvora do tiroteio das milícias de aluguel, aos primeiros cem dias do governo Lula. Entendo, mas não aceito de bom grado. Estão defendendo interesses da mais nova geração de piratas, são os bugreiros negacionistas do século XXI. Agem contra nós. Estão a serviço de interesses coloniais e não sossegariam senão diante de soluções mágicas, que não possuem viabilidade no mundo real.

Fazem vista grossa ao fato de que este é um governo de reconstrução nacional. Um governo cercado pelas bancadas fascistas e dificultado por leões de chácara incrustados em espaços estratégicos dos Três Poderes, cujo saneamento só ocorrerá de forma lenta e com apoio popular. É evidente que para isso precisaremos de ajuda dos meios de comunicação e da paciência justificadamente escassa entre os que têm fome de pão, acolhimento e justiça.

Mas também precisamos abrir os olhos, manter a autocrítica, recusar atitudes de submissão e cumplicidade disfarçadas de tolerância aos operadores da intolerância. É muito importante nosso compromisso (e atitudes) em apoio à uma percepção social adequada, dos gestos e compromissos deste governo para com o futuro de todos. Me refiro à justificada alegria, ao entusiasmo comemorativo do encolhimento do fascismo golpista, do fortalecimento dos ministérios, das negociações para viabilizar investimentos sociais e produtivos, da retomada do Bolsa Família e do PAA, do fortalecimento de programas como o Minha Casa Minha Vida, da proteção aos povos indígenas, do reposicionamento e da importância do Brasil em mesas de negociação internacional. Estamos sim, lutando para sair do buraco cavado pelos golpistas. E nestes 100 dias, vivenciamos fase inicial de escalada das paredes enlameadas deste fosso onde nos jogaram.

A minimização de fatos que ilustram este processo, somada à ocultação da receptividade do governo Lula no conjunto das nações, das negociações na viagem à China e da ocupação estratégica, na pessoa da Dilma, da presidência do Banco dos Brics demonstram a intencionalidade do tiroteio, que não se iludam, é contra nós.

Convenhamos, o tema da comunicação social distorcida não é pouca coisa.

Não há justificativa ética ou moral, para os ataques precoces, escandalosos, que claramente objetivam fragilizar o governo eleito, dificultar a retomada da democracia e solapar o desenvolvimento soberano deste país continental. As baixarias protagonizadas pelos bolsonaristas da Câmara Federal, sob as luzes, aos olhos de todos, podem ser ilustradas na frase “vem buscar minha arma aqui, seu merda”, dirigida ao ministro da Justiça, Flavio Dino. O que estarão fazendo às escondidas?

Se há um Brasil do qual precisamos sair, é este onde a falta de civilidade se associa ao desrespeito, à arrogância desmedida e à abundância de balas.

Felizmente temos exemplos concretos de que estão ocorrendo mudanças positivas, compatíveis com os preceitos da justiça e o respeito aos direitos humanos. São processos lentos, socialmente educativos e certamente inexoráveis. Acredito que com apoio da sociedade ao que o atual governo significa, a seu tempo se tornarão dominantes.

Vejam a posse do Dr. Rodrigo de Medeiros Silva, como Ouvidor Geral, titular da Ouvidoria Pública do RS, neste dia 10 de abril. Em sessão muito concorrida, encerrada por um discurso tocante, Rodrigo reafirmou a orientação da Ouvidoria e convocou a sociedade organizada para o fortalecimento de ligações afetivas que ampliem nossa força de enfrentamento à tragédia do Racismo Ambiental. Se trata de batalha contra o avanço de discriminações que jogam para a marginalização territórios, populações, verdades científicas e conceitos básicos de respeito à filosofia, à cultura, à ética e à moral. Está em disputa um futuro que dependerá de nossas opções cotidianas, e que se desenvolverá à bala ou de forma respeitosa à Constituição e à diversidade de nossos povos.

Para reconstruir caminhos orientados pelo amor e pela poesia, vale internalizar e repetir, como Rodrigo de Medeiros na finalização de seu discurso de posse. Diante de todos os desafios, amar e mudar as coisas é o que me interessa mais.

 

Convite: Dia 20 de abril, às 17h, retomamos o Programa Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato com o novo Ouvidor da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul (DPE/RS), o advogado Rodrigo de Medeiros.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko