Paraná

Coluna

20 anos do Brasil de Fato levantam tema central: a comunicação dos/as trabalhadores

Imagem de perfil do Colunistaesd
O apoio mútuo também segue sendo extremamente necessário - Joka Madruga / Brasil de Fato Paraná
A Vigília Lula Livre teve experiências de transmissão massivas devido ao apoio entre os canais

O Seminário “20 anos do Brasil de Fato e a comunicação dos trabalhadores” ocorreu em um momento político importante. No plano nacional, a sociedade realiza um importante debate sobre o limite da ação das corporações internacionais de tecnologia, o uso das fakenews pelo neofascismo e a necessidade de colocar o interesse público acima de interesses de lucro das plataformas de comunicação - o que se expressa no debate sobre o PL 2630.

Entre as organizações de esquerda, no atual período, o fortalecimento da comunicação popular e dos trabalhadores é urgente, ligada aos desafios na organização popular, ao fortalecimento dos movimentos populares e sindicais e, sobretudo, fortalecimento da agitação e propaganda, visando a formação de quadros.

Os vinte anos da iniciativa do Brasil de Fato também de alguma forma coincidem com um ciclo de intensificação das ações do imperialismo do governo dos EUA nos países do norte da África, Oriente Médio e agora no coração da Europa. Bem como cada país na América Latina, nesse ciclo de vinte anos, sofreu alguma forma de tentativa de golpe com o objetivo de recompor o programa neoliberal. No centro de todas essas situações defensivas para os trabalhadores, a comunicação foi uma das questões centrais a serem pensadas pelas organizações populares enquanto forma de resistência. Não é um tema menor.

Financiamento da mídia popular

No início do primeiro governo Lula, o acesso à internet era limitado e inicial no Brasil, alcançando menos de 10% da sociedade brasileira, hoje chegando a mais de 80% (ainda que muitas vezes com acesso precário), trazendo muitos desafios.

No período anterior (2002 – 2016) é fato que os governos do PT não avançaram na democratização do espectro da mídia, e nem mesmo na divisão equitativa de publicidade governamental – ainda extremamente concentrada nos veículos que, inclusive, articularam a derrubada do governo Dilma Rousseff, em 2016. E que agora, após a retirada de Bolsonaro do governo, buscam pressionar o governo Lula pela manutenção de um programa neoliberal.

É tempo, portanto, de aprofundar os debates centrais no que se refere ao controle da sociedade sobre as novas plataformas e tecnologias, bem como reforçar os meios de comunicação da classe trabalhadora.

Um ponto importante do seminário do Brasil de Fato foi, de forma inédita, o debate sobre financiamento da mídia popular e de esquerda no atual período. Normalmente, os cursos de comunicação e seminários abordam a troca de experiências e ferramentas, mas nem sempre tocam no que é central: justamente a estrutura.

“Estamos construindo no BdF uma espécie de agência de publicidade, fazendo também projetos mais comerciais para captação de recursos, editais e campanhas de financiamento coletivo, num caminho mais focado em inteligência e de monetizar produção”, disse. Sem esquecer o que o BdF faz “jornalismo de qualidade, com visão de classe e popular”, ressaltou Cris Rodrigues, editora nacional do Brasil de Fato.

Neste cenário ainda incerto, o apoio mútuo também segue sendo extremamente necessário, entre organizações e veículos de comunicação. Diante da diversidade de veículos e iniciativas hoje presentes entre as organizações de esquerda e progressistas, não é o caso de conceber uma unificação, mas pensara em pontos de contato e fortalecimento. Isso porque nenhuma iniciativa, por melhor que seja, é capaz de atingir sozinha uma escala capaz de contrapor os veículos empresariais e, hoje, a escala de fake news produzida. Além do que a unidade, encontrar bandeiras, campanhas e pontos comuns de ação conjunta, é sempre politizador e necessário.

A comunicação bem sucedida da Vigília Lula Livre, por exemplo, nos 580 dias em que Lula esteve preso, teve experiências de transmissão massivas devido à unidade entre vários canais de comunicação que estavam ali presentes, tais como Brasil de Fato, Mídia Ninja, Jornalistas Livres, ao lado da comunicação de organizações como MST, PT, MAB, CUT, entre outras.

Especialista em comunicação e empreendimentos, João Paulo Mehl abordou esse aspecto em sua fala, durante o Seminário, explicando que as organizações de direita têm esse entendimento e atuam em rede: “Quem tem 100 mil seguidores compartilha quem tem 10 mil. Quem tem 1 milhão colabora com o de 100 mil etc. Eles operam numa lógica de cooperação”, disse.

Desafios da comunicação popular

A última mesa do seminário, realizada em plena área de ocupação urbana, abordou um assunto cada vez mais em pauta nos dias de hoje: os desafios da comunicação popular.

Uma das principais questões do debate foi o desafio entre a realização de uma comunicação que busca contemplar as lutas gerais da classe trabalhadora, como a experiência do Brasil de Fato Paraná, e experiências de comunicação das próprias comunidades.

A melhor saída neste caso é entender que devemos organizar a comunicação nos diferentes níveis e contemplando as diferentes ferramentas: canais locais, portais de comunicação gerais da esquerda, utilizando todas as ferramentas possíveis, para os diferentes públicos. E mantendo o uso das diferentes ferramentas disponíveis, de transmissões de programas à entrega do jornal impresso.

“Pela distribuição dos jornais, levamos conhecimento e notícias para toda periferia, onde pessoas não tem muito acesso à internet. Eu trabalho também na região do Formosa, com muitas pessoas em situação de rua. Temos panfletos, jornais e o famoso boca a boca”, descreveu Juliana Santos, da coordenação de distribuição do Brasil de Fato Paraná.

Os cursos de comunicação popular organizados ao lado dos movimentos populares de moradia e sindical foram ferramentas importantes citadas, embora reconhecendo que o papel do jornalismo é fundamental, no marco da divisão de tarefas e da atuação profissional, que pode se complementar à atuação e formação de comunicadores populares, mas cada ferramenta desempenha o seu papel.

 

Edição: Frédi Vasconcelos