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Minas Gerais à venda em Nova Iorque

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"Zema é um defensor do liberalismo econômico e tem defendido a privatização de empresas estatais, como a Copasa e a Cemig." - Foto: Reprodução Cemig/Copasa
Zema vai contra a tendência mundial de manter serviços essenciais regidos pelo Estado

Recentemente, o governador Romeu Zema (Novo) esteve em Nova Iorque, nos Estados Unidos, com ideias de “fazer negócio”, literalmente, com o patrimônio público mineiro. Zema está com as ideias fora do lugar, em alusão ao famoso texto do crítico literário Roberto Schwarz, que se refere ao atraso intelectual de nossas elites.

As ideias fora do lugar: ensaios selecionados, de Schwarz, apresenta uma análise crítica das ideias liberais que foram importadas para o Brasil no século 19. O autor argumenta que essas ideias foram aplicadas fora de seu contexto original, levando a uma série de problemas e contradições na sociedade brasileira. Ao associar as teses de Schwarz com as ideias de Zema, podemos identificar uma possível contradição entre as políticas liberais do governador e a realidade social e econômica de Minas Gerais.

Zema é um defensor do liberalismo econômico e tem defendido a privatização de empresas estatais, como a Copasa e a Cemig. No entanto, a aplicação dessas políticas pode levar a problemas semelhantes aos identificados por Schwarz. A privatização dessas empresas pode resultar em uma perda do controle sobre os serviços públicos essenciais e em um aumento das tarifas, o que pode afetar negativamente a população.

Negócios? Inovação? Justiça social? Não, o governador não está fazendo absolutamente nada de “Novo”, a não ser retrocessos imensuráveis.

Sobre a Global Infrastructure Partners

Durante a viagem, o governador se reuniu com executivos do fundo de investimentos Global Infrastructure Partners (GIP), focado em negócios nas áreas de infraestrutura e energia, com mais de 500 investidores de grande porte. Atualmente, o fundo conta com negócios nos Estados Unidos, Inglaterra, na Austrália, no Brasil, na Itália e na Suíça em áreas de energia renovável, aeroportos, ferrovias, portos, saneamento e data center.

A GIP tem um histórico controverso em relação a seus investimentos em infraestrutura e parece ser só mais um (de tantos) desses fundos que financiam, de fato, a precarização de serviços, estimulam o fim da competitividade, incentivando oligopólios, palavra que não está no dicionário de Zema. A tal ladainha do governador, que defende o setor privado pela competitividade, cai por aí.

Além disso, a GIP também já esteve envolvida em algumas polêmicas. Em 2011, o fundo adquiriu a London Gatwick Airport em uma transação que foi criticada por alguns políticos e grupos de interesse. Eles alegaram que a venda não beneficiaria o interesse público e que a GIP não tinha experiência em administrar aeroportos.

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Em 2016, a GIP foi criticada por investir em companhias de combustíveis fósseis, apesar de seu compromisso declarado em defesa da energia renovável. A GIP respondeu afirmando que estava trabalhando para reduzir a pegada de carbono de suas participações em energia fóssil e que também estava investindo em energia renovável.

Em 2020, a GIP foi novamente criticada por investir em um gasoduto na África do Sul, o que foi criticado por grupos ambientalistas e de direitos humanos por deslocar comunidades e danificar o meio ambiente. A GIP respondeu dizendo que estava trabalhando para minimizar os impactos do gasoduto e cumprir todos os requisitos regulatórios.

É importante notar que a GIP não foi acusada de nenhuma atividade ilegal em relação a essas polêmicas. No entanto, esses casos destacam o papel cada vez mais importante que as empresas de infraestrutura estão desempenhando na economia global, e como seus investimentos podem afetar as comunidades locais e o meio ambiente.

Zema vai contra a tendência mundial


Ora, se a Copasa e a Cemig estão de mal a pior como o governador alega, quem faz indicações e quem é o administrador público dessas empresas é o próprio governador. Inclusive é fundamental dizer que, recentemente, Zema tem colocado na Copasa pessoas do mesmo espectro ideológico derrotado nas eleições.

Ao querer privatizar as empresas, Zema vai contra a tendência mundial de manter serviços públicos essenciais regidos pelo Estado. Centenas de cidades pelo mundo reestatizaram os serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto – para falar de pluralidade política, econômica e também de geopolítica, as cidades são de continentes variados e de diversos países.

Autoritário, Zema não discute ao vivo com quem critica suas as ideias, sejam acadêmicos, cientistas ou representantes de movimentos sociais, afinal, é evidente o despreparo do governador em relação a esses temas. Economia verde, sustentabilidade, e outros temas mais novos, não são e nunca foram o forte de Zema, afinal, e a Serra do Curral, quem não se lembra? E por aí vai.

É urgente uma reflexão crítica sobre as políticas neoliberais de Zema e a forma como elas podem perpetuar as práticas autoritárias e violentas do passado. É preciso considerar a diversidade e a complexidade da sociedade ao implementar políticas econômicas, a fim de garantir um desenvolvimento justo e sustentável para todos.

 

 


Lucas Tonaco é acadêmico na área de antropologia e antropologia social, ciências humanas e ciências sociais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), secretário de comunicação da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), diretor de comunicação do Sindágua-MG e membro fundador da Frente de Comunicação Urbanitária.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Larissa Costa