Pernambuco

Coluna

A fecunda profecia do MST e o Brasil que queremos

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Além da luta pela terra, MST protagoniza também ações de combate à fome em todo o país através de iniciativas de solidariedade - Matheus Alves
O MST é, sem nenhuma dúvida, o mais importante movimento popular do Brasil

O fato de que, no Congresso, se arma nova investida de agressões ao MST e mais uma tentativa de criminalizar os movimentos sociais só comprova que o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) é, sem nenhuma dúvida, o mais importante movimento popular do Brasil e, se olhamos o mundo inteiro, não encontraremos nenhum outro tão conhecido e com tantos frutos a mostrar. 

Sua história conta mais de quatro décadas, já que a fundação do MST em 1984 já foi resultado de uma luta imensa que vinha de vários anos e expressava a organização coletiva dos lavradores sem-terra na Encruzilhada Natalino, (Ronda Alta), em diversos acampamentos no Rio Grande do Sul e por outras regiões do país. Essa caminhada de mais de 40 anos tem sido fecundada pelo sangue de muitos irmãos e irmãs, mártires da terra e profetas de um mundo de justiça e de inclusão. 

Desde o início dessa caminhada, como assessor da Pastoral da Terra e, como diz o livro do Apocalipse, “irmão e companheiro nas tribulações e na esperança do projeto divino da justiça”, tive a graça de acompanhar a luta corajosíssima dos companheiros e companheiras desses primeiros acampamentos. Testemunhei a ousadia quase louca daqueles/as que, em 1984, ainda em plena ditadura militar, fundaram o Movimento de Trabalhadores Sem-Terra. 

Para usar uma expressão da espiritualidade popular, podemos dizer que os companheiros e companheiras do MST que insistem na defesa da agricultura familiar e na prática da agroecologia, resistem ao agronegócio e à política predadora dos que destroem a Amazônia e o equilíbrio ecossocial em todas as regiões do Brasil, são como reencarnação dos quilombolas que, nos séculos da escravidão, enfrentavam as leis injustas do Império e da elite social que o apoiava. 

Hoje, os/as militantes do MST são mestres que nos ensinam a relação amorosa com a Mãe-Terra e com as águas que, para todos os seres, são sacramentos de vida. Hoje, no Brasil, o MST é o que no tempo da colônia foram os movimentos de Santidade dos índios Tupinambá no Nordeste que em nome de sua espiritualidade ancestral reunia os índios em acampamentos livres e os ensinava a lutar e a se defender da sanha assassina dos colonizadores. 

Esses senhores da elite do atraso e da imprensa da desinformação se unem contra o MST continuam, hoje, a política da polícia do império que perseguia negros fugidos da escravidão e índios que teimavam em perseverar nas suas comunidades de resistência. Continuam hoje, a luta que os sacerdotes do império sempre travaram contra os profetas e profetizas da Justiça e da Paz do projeto divino no mundo. 

O MST continua hoje o movimento que há quase 60 anos, Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, propunha como expressão de uma mística libertadora: o movimento de Pressão Moral Libertadora. Há 50 anos, em maio de 1973, ele reunia um grupo de 18 bispos e superiores religiosos do Nordeste e publicaram o primeiro documento de um coletivo de Igreja contra a ditadura militar e em defesa do povo oprimido do campo e da cidade. O título deste documento era a palavra que, conforme a Bíblia, Deus disse a Moisés no deserto do Sinai: “Eu ouvi o clamor do meu povo”. 

Hoje, 50 anos depois, esse clamor do povo brasileiro ecoa na caminhada do MST e nas suas ações justas, urgentes e benéficas para todo o povo brasileiro e para a Terra a ser libertada do latifúndio e do modelo de agricultura depredadora. Em nome da fé e da justiça divina, defendamos o MST e a causa do povo da Terra.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga