Rio Grande do Sul

Coluna

Ainda que com certo atraso

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"Estas duas mulheres Margareth Menezes e Maria Marighella me fazem acreditar que ainda vamos muito longe" - Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Os trabalhadores da cultura e das artes estão com fome em sentido amplo e também no restrito

Gostaria de ter escrito este artigo tão logo foram lançados os editais da renascida, da altiva, da que abriu as janelas ao vento forte, da Funarte. Eu falo do lugar da criadora, da militante e da trabalhadora das artes. Durante anos fizemos um grande esforço por nos encontrar, para trocar informações sobre os Brasis, as realidades diferentes, mas também acerca dos muitos pontos em comum destes trabalhadores/pesquisadores que, de forma continuada e resiliente mantêm, viva e avançando, as artes brasileiras.

Pude perceber que algumas ou várias das lutas estavam ali refletidas, editais com peso de resposta, programas com cara de escuta. Grifo aqui que a escuta a que me refiro também se trata do acúmulo gerado por discussões alimentadas durante anos por encontros e trocas entre artistas de diferentes partes do nosso país. Vi-me com vontade de conversar de novo, de trocar ideias, de construir uma vez mais, possibilidades que apontassem para um FUTURO e avanço das propostas agora palpáveis apresentadas pela equipe da Cultura deste novo governo, eleito com as nossas mãos e vozes.

Isso significa que eu voltei a pensar em FUTURO, em avanço, em dia seguinte. É verdade, somos assim queremos mais, e é justo que assim seja e é importante que haja sempre estes olhares que nos apontem o mais adiante, o mais à frente, o que ainda pode ser MELHOR. Mas eu preciso admitir, já não via com os olhos que hoje vejo. 

Por isso eu queria, precisava demais, escrever para dizer que me emocionei ao ver a Funarte, com uma equipe tão bonita e representativa, ver o MINC colorido, vivo, cheio de ações e propostas. O MINC, que para mim é também símbolo da democracia e, não à toa, foi extinto durante o desgoverno do canalha inelegível. 

Estas duas mulheres Maria Marighella e Margareth Menezes me fazem acreditar que ainda vamos muito longe. 

Retomada foi o nome dado a uma soma de ações para fomento as artes brasileiras. E esperançar é o verbo que o meu coração vem conjugando desde então.

Eu poderei discordar, criticar e falar, sempre na perspectiva do diálogo, o que penso acerca das ações propostas por essas camaradas e suas equipes geniais, mas não quero cometer o erro de não reconhecer o esforço que significa esse retomar geral, diante de um cenário de terra arrasada de políticas públicas para a Cultura.

Cenário que só não foi ainda pior porque nos anos mais difíceis tivemos vozes fundamentais na nossa defesa e que nos levaram à Primeira Lei Emergencial Aldir Blanc, fruto da mobilização desses trabalhadores todes, de norte a sul do país e que encontraram ouvidos à escuta. Beneditas, Fernandas, Marias, Jandiras, Áureas, Samias e tantes outres.

O marco regulatório, que conta com um texto que é também fruto de um acúmulo de discussão em relação ao tratamento dado aos trabalhadores da cultura nos editais que teve uma relatoria, de também, extraordinária escuta. Oxalá em breve ele seja implementado de forma ampla. Também é pra mim, motivo de fé.

Penso que podemos avançar na criação da política nacional para as Artes, que precisamos que elas deixem de ser políticas de governo e se implementem como políticas de Estado. Penso que cada uma das esferas: municipal, estadual e federal precisam ter deveres em relação a políticas públicas para a Cultura, de forma a garantir do mais básico incentivo ao aprofundamento e implementação de mecanismos mais complexos e que apontem o crescimento e avanço de um setor tão potente. Que a preocupação com as ações afirmativas não podem depender da vontade política deste ou daquele governo. Devem ser assimiladas como compromissos de Estado, até que tenhamos, de fato, democratizado o acesso a políticas culturais no nosso país.

Mas confesso que me preocupa o arcabouço fiscal que dita as regras dos gastos públicos, mantendo o teto de gastos, que poderá impactar áreas como saúde e educação, imagine o que podemos esperar em relação à cultura?

Por fim e não menos importante, quero dizer que me pareceu acertada a percepção de que precisávamos de ações concretas nesse momento, que as discussões públicas, as escutas sejam abertas, mais e mais, no entanto, neste momento nós precisávamos de ações. Os trabalhadores da cultura e das artes estão com fome em sentido amplo e também no restrito.

Bom trabalho, é o que desejo aos camaradas que hoje tocam a cultura do país.

* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.   

Edição: Katia Marko