Minas Gerais

Coluna

Papa Francisco quer a igreja, povo de Deus, pobre e dedicada aos pobres

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Foto do Papa Francisco - Foto: Pixabay
Papa é um crítico forte do atual sistema econômico

No final da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos o papa Francisco afirmou que a Estrada da Palavra é a missão, a Igreja em saída.

No início da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), de 2013, o Papa Francisco indica o objetivo do documento: “quero com esta Exortação convidá-los para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria”.

Prestemos atenção a algumas afirmações do papa Francisco na exortação Alegria do Evangelho: “Se a dimensão social da evangelização não for devidamente explicitada, corre-se o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora” (n. 176). “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (n. 49).

Além de ser pobre e para os pobres, a Igreja desejada por Francisco é corajosa em denunciar o atual sistema econômico, "injusto na sua raiz" (n. 59). Como disse João Paulo II, a Igreja "não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça" (n. 183).

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O papa Francisco critica o atual sistema econômico: "esta economia mata" porque prevalece a "lei do mais forte". Denuncia a cultura do "descartável" que criou "algo novo" e dramático: "os excluídos não são 'explorados', mas resíduos, 'sobras'" (n. 53). Enquanto não se resolverem radicalmente os problemas dos pobres, renunciando "à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum".

E o papa Francisco aponta que na "desigualdade social" estão as raízes dos males sociais.

O papa Francisco profetiza que a Igreja não pode ficar indiferente às injustiças sociais. A economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos. O papa Francisco condena o "mercado divinizado", onde reina a "especulação financeira", "corrupção ramificada" e "evasão fiscal egoísta" (n. 56).

Sagradas escrituras

Papa Francisco retoma a centralidade das Sagradas Escrituras e da realização do Projeto de Deus: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).

Faz-se necessário uma preparação adequada das lideranças leigas para trabalharem com os textos bíblicos, colaborando efetivamente na formação do povo de Deus, cuja responsabilidade é muito grande, pois, como afirma o documento, o trabalho pode interferir ‘na relação pessoal e comunitária das pessoas com Deus’, e esta implica na prática pessoal e comunitária em prol do Reino de Deus. Daí a importância de conhecer também as formas e os gêneros literários para respeitar e ao mesmo tempo, colher melhor a mensagem dos textos bíblicos que foram revelados por Deus, acolhido e transmitido por homens e mulheres, inspirados pelo Espírito Santo.

A Igreja por meio dos seus integrantes deve lutar pela justiça social e pela superação das injustiças agrária, urbana e ambiental. Sem dimensão social, a Igreja trai sua missão. Por isso, coerente com o Evangelho de Jesus Cristo, o papa Francisco quer uma Igreja pobre para os pobres. Igreja que pratica o fundamentalismo, o moralismo, o ritualismo e se restringe ao consolo e na prática prioriza arrecadar dízimo é igreja traidora do Evangelho de Jesus Cristo.

 

Gilvander Moreira é frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica)

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida