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DICA DE LEITURA. As personagens de Helenna Castro nos conduzem

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A voz principal é de mulheres trabalhadoras, do sul da Bahia, com vigor e força - Pedro Carrano
Seus contos margeiam uma dicção de crônica, devido à proximidade da narradora com o leitor

Há uma lição do contista uruguaio Horácio Quiroga, que descreveu como poucos o ambiente de Misiones, na fronteira da Argentina e Brasil: “Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o fim”.

Isso talvez seja uma chave de leitura para entender a precisão de autores e permanência de trabalhos como de Poe, Tchekhov, Ligya Fagundes Telles (Venha ver o por do sol), Sartre (O Muro), Borges, Cortázar,Tatiana Tolstaya, quando simplesmente não esquecemos nunca de alguns de seus contos.

Em outro contexto, e a partir de outro olhar, mas a escritora, jornalista e militante social Helenna Castro certamente cumpre esta lição em seu livro de estreia de contos, “Tarda, mas não falha e outros contos” (Caravana editorial, 2023, 46 páginas).

Seus contos margeiam uma dicção de crônica, devido à proximidade da narradora com o leitor, na forma de uma confissão bem elaboradora. A voz principal é de mulheres trabalhadoras, do sul da Bahia, com vigor e força buscando o estudo, a militância, o conhecimento, porém deparando-se com a brutalidade, a insegurança permanente, do patriarcado e com a violência e morte do machismo. “Solidão não significa segurança”, afirma logo de cara em Azul Maciço (página 9).

Os três primeiros textos do livro: “Azul maciço”, “Tarda, mas não falha”, e “Homem-corrente” são uma sequência de porradas no leitor, que não consegue parar de acompanhar a narrativa de Castro.

Há um nítido pêndulo no livro entre a crítica à construção do machismo – “Ele era, evidentemente, um homem educado sexualmente por pornografia barata” (página 24); Como contraposição, temos a voz e um relato de solidariedade e apoio mútuo entre mulheres. “Olga confundia os sonhos que tinha para a irmã com os que tinha para si mesma”, página 14.

Adiante no livro, “Clarisse” é um declarado exercício de dialogismo com a personagem do último disco de Renato Russo, da Legião Urbana, porém acentuando as tintas da depressão e suicídio da jovem como resultado da violência contra a jovem e do estupro – o que era apenas sugerido na letra do roqueiro, que vai sendo apropriada e reconstruída na diegese de Helenna Castro.

A editora Caravana, que tem raiz firmada em Minas Gerais e também em Buenos Aires, dirigida pelo jovem editor Leonardo Costaneto, sempre atento a nomes experimentalistas, estreantes e progressistas para suas publicações. Costaneto conforma uma geração de editores negros, mudando o perfil do setor – caso também de Wesley Barbosa, da editora Barraco Editorial.

Tenho orgulho de ter publicado com a Caravana o livro “A Engenheira da Memória” e vejo vários autores/as, jovens, críticos, militantes, aparecendo na lista de suas publicações.

Militante política da organização Consulta Popular e ligada a movimentos populares, mulher negra, comunicadora popular, Helenna Castro nos deixa uma grande ansiedade para conhecermos sua próxima obra.

A primeira já deixa marcas fortes.


Militante política da organização Consulta Popular e ligada a movimentos populares, mulher negra, comunicadora popular, Helenna Castro nos deixa uma grande ansiedade para conhecermos sua próxima obra / Divulgação Caravana Editorial

 


 

Edição: Lucas Botelho