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Fora Zema! O carnaval é do povo

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"Neste ano, o mesmo governador que tentou atrapalhar o carnaval de 2020, também está tentando se apoderar dele, se colocando como seu grande fomentador. " - Foto: Léo Lara
Zema tentou atrapalhar o carnaval em 2020

Quem nunca ouviu aquela história de uma iniciativa que, a princípio, era reprimida, vista com maus olhos e que, quando deu certo pelo esforço coletivo, muitos querem apadrinhar ou se tornar donos? O carnaval de BH, construído a muitas mãos por trabalhadores da cultura e pelo povo que quer se expressar nas ruas da cidade, tem enfrentado essa questão.

Há aproximadamente 15 anos, os movimentos sociais e ligados à cultura protestavam contra a limitação do uso dos espaços públicos durante a gestão de Márcio Lacerda na prefeitura de BH. Esse movimento ganhou corpo e, junto dele, várias outras iniciativas no campo da ocupação da cidade floresceram, dentre elas, os blocos de carnaval. A diversidade de ritmos, a construção coletiva e democrática e a defesa de bandeiras políticas são a marca da nossa folia.

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O aumento de público ao longo dos anos colocou muitos desafios ao movimento, como a necessidade de mais estrutura para financiamento dos blocos e dos desfiles.

Tivemos momentos de repressão e tentativas de intimidação e de boicote. Foi o caso do carnaval de 2020, quando o governo do Estado, já gerido por Romeu Zema, impôs uma série de medidas para os trios faltando uma semana para o carnaval. A única explicação plausível para essa atitude foi a tentativa de prejudicar seu adversário político à época, o prefeito Alexandre Kalil.

Vários blocos se viram na iminência de não saírem às ruas, mas demos um jeito. É importante lembrar da solidariedade da CUT-MG, do SindiBel e de outras entidades sindicais que emprestaram seus trios para viabilizar a saída de diversos blocos.

No ano passado, o ex-prefeito Márcio Lacerda tentou se colocar como grande incentivador do carnaval durante suas gestões na prefeitura. A declaração parece um ato de comédia, mas mostra também que o sucesso da festa atrai os que querem pegar carona na construção alheia.

Ação eleitoreira

Neste ano, o mesmo governador que tentou atrapalhar o carnaval de 2020, também está tentando se apoderar dele, se colocando como seu grande fomentador. O tal “Carnaval da Liberdade”, patrocinado pela gestão de Zema, tem sido alvo de muitos protestos por parte dos blocos. Destaca-se o manifesto “Por um carnaval plural e com fomento pra geral”, assinado até agora por mais de sessenta blocos.

As denúncias, que serão encaminhadas ao Ministério Público Estadual e à Defensoria Pública, abordam desde a irregularidade na aplicação dos recursos até a ação truculenta da Polícia Militar no ensaio geral para o carnaval no dia 14 de janeiro. A ação foi referendada pelo vice-governador, Mateus Simões, que deu ainda um recado para os foliões: a polícia está autorizada a utilizar medidas repressivas ao menor sinal de desacato de ordens.

Quanto aos R$ 8,5 milhões que virão dos recursos estaduais, os blocos chamam a atenção para o fato de que são recursos das Leis de Incentivo à Cultura. Estes deveriam ter transparência, equidade e isonomia na sua utilização, o que não está ocorrendo.

A destinação de recursos, sejam eles municipais ou estaduais, sempre foi pautada pelos setores que constroem o carnaval. No entanto, não podemos acreditar que é coincidência que essa ação do governo de Minas Gerais seja feita em ano eleitoral. Romeu Zema é perito em se utilizar de recursos públicos para se fortalecer politicamente, como fez com os bilhões arrecadados a partir do acordo com a Vale.

A movimentação dos blocos para denunciar a truculência da PM, os desmandos do governo e a tentativa de apropriação da folia é, não só necessária, como evidencia também o comprometimento com o carnaval do povo.

Zema é mais um aventureiro que passará. Já o carnaval de BH, seguirá passando pelas ruas, becos e avenidas da cidade, com democracia, construção coletiva e muita luta!

 

Bruno Pedralva é médico do SUS e vereador em Belo Horizonte pelo PT.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida