Paraíba

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​​​​​​​Vamos falar sobre Genocídio?

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Reprodução - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Denunciemos todas as formas de violência contra os grupos marginalizados pelo sistema

Karla Maria*

Entende-se por Genocídio, as ações de determinado grupo a fim de exterminar, de modo intencional, outro grupo populacional por conta de questões relacionadas à raça, religião, etnia e ideologia.

Esse termo foi elaborado por um judeu para descrever sobre o holocausto e, atualmente, esse termo é compreendido pelos estados governamentais como crime contra a humanidade. Mas, o que distancia a compressão desse termo com a condenação, de fato, das práticas atualmente realizadas contra determinadas populações? 

Morfologicamente, a palavra genocídio parte da junção de duas palavras, que advém do grego e do latim. Genos, do grego, significa raça e cide, do latim, se refere a matar. Logo, compreende-se que tal termo contempla ações de extermínio de grupos raciais, que inclui grupos étnicos, religiosos e ideológicos. 

Ao realizarmos um recorte sobre essas ações perpetradas em âmbito nacional, destacamos o genocídio da população negra no Brasil. O número de casos de assassinatos de pessoas negras no país sempre está em alta, de acordo com os dados de pesquisas.

O genocídio da população preta brasileira está arraigado no processo histórico de formação do país, no qual entende-se uma voluntária e permanente ação de extermínio da população negra em seus âmbitos diversos, ou seja, pretendem eliminar suas crenças, suas culturas, sua condição na estrutura social, colocando essa população à margem da sociedade desde sua formação, como destaca o sociólogo brasileiro, Abdias do Nascimento em sua obra “O Genocídio do Negro Brasileiro”.

Sob um olhar macro do genocídio, também podemos destacar os atos voluntários - e que vem se perpetuando por décadas - sobre uma população no contexto do Oriente Médio. Há algum tempo estamos a ouvir e falar sobre genocídio. A fala do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, deu ênfase a um acontecimento bárbaro que está ocorrendo por décadas na Palestina, por parte de Israel. 

Estamos a falar de um genocídio assistido diariamente em todos os meios midiático existentes. Assim como também assistimos, diariamente, sobre os casos de extermínio da população negra no Brasil. Destacam-se aqui dois casos de genocídio que acontecem por séculos, décadas, e nada se faz para criminalizar essas ações que devastam uma população, tendo como justificativa - se é que assim podemos dizer -  as questões raciais, religiosas e étnicas. 
Questiono aqui como podemos condenar um ato tão bárbaro como o genocídio se estamos sendo levados a normalizar tais ações que ocorrem diante de nossos olhos diariamente? 

A nossa luta deve ser constante para que tenhamos um mundo justo, livre e de paz para todas as pessoas

É preciso ter a consciência de que o sistema que rege nossos comportamentos nos induz à banalização do mal. Esse mesmo sistema divide a sociedade de forma desigual, impelindo determinados grupos populacionais a viverem à margem da sociedade, e os classificam como grupos não civilizados, o qual corrobora para que se justifiquem seu extermínio, e assim, pretendem normalizar os atos cruéis dos quais se utilizam. 

Estamos a falar de ações que se utilizam de meios cruéis e preconceituosos contra determinados grupos de pessoas que também fazem parte das sociedades. Há uma nova imposição da compreensão do que é humanidade - e humanização. Não podemos apoiar tamanha banalização do mal e de justificativas de extermínios de populações inteiras em nome de questões que não devem ditar nossas leis, nosso modo de ser e viver no mundo. 

Enquanto mulher, mãe e um individuo que luta contra todas as formas de opressão, racismo e desigualdade, não posso deixar de enfatizar neste texto a situação das mulheres mães que sofrem com tais atos de banalização do mal, do genocídio cometido diariamente contra a infância e juventude de populações negras e muçulmanas atualmente.
 
Como toda ação de extermínio, pretende-se eliminar a partir da base, da origem, isto é, os principais alvos desse mal são as crianças/juventude e mulheres. A mulher carrega o peso de ser o corpo alvo, pois é esse corpo que gera o que pretendem exterminar, dessa forma eliminam juntamente a esse corpo, o futuro gerado por ele. 

Se o mal existe nas ações de pessoas comuns no decorrer do cotidiano, para além do mal imposto por aqueles que possuem o Poder em suas mãos, devemos remar contra essa maré que só cresce em nível global. 

De acordo com o Atlas da Violência 2023, no Brasil o número de homicídios de mulheres negras em 2021, representa 67,4% do total de mulheres assassinadas, ainda de acordo com esses dados, o risco de uma mulher negra sofrer violência letal no país é de 1,8% maior que uma mulher não negra. 

Comprova-se com esses dados o quanto é perigoso ser mulher e, principalmente, ser uma mulher negra em um país onde o racismo institucional é forte. A mulher negra, em qualquer lugar do mundo em que esteja, sempre será um corpo alvo, pois a violência a qual é submetida, perpassa a questão de gênero e de classe. 

Ao destacarmos sobre a violência sofrida por grupos infanto-juvenis no Brasil, em uma década (2011-2021), registrou-se 326.532 casos de homicídios de jovens no país. E, obviamente, vocês já sabem qual grupo da população brasileira sofreu o maior número de violência letal. 

Sim, estamos falando da juventude negra. Diante dos dados obtidos pelo Atlas da Violência, para cada 100 mil habitantes, 31 das vítimas de homicídio são pessoas negras, contra 10,8 de vítimas não negras. Estamos falando de uma violência letal que acomete a vida de 4,22 indivíduos negros por hora no Brasil. 

Diante desse breve resumo de dados de violência contra pessoas negras no país, concluímos que vivenciamos, no contexto nacional, um longo processo de genocídio contra pessoas negras. Essa violência está estampada diariamente nos noticiários de cada região do país. Todos os dias, casos de violência contra pessoas negras são anunciados de forma sensacionalista, onde a violência é banalizada e justificada pela marginalização ao qual essa população é impelida. 

A banalização do mal está sendo praticada cotidianamente em diversos níveis - é a violência contra grupos de pessoas que se tornam banais através de ações de pessoas que possuem o poder em suas mãos, e também por aquele vizinho, ou parente, ou amigo que pratica inúmeras violências de raça, de gênero e de classe. 

O que corrobora essa afirmação são os crescentes casos de violência praticados contra pessoas em vulnerabilidade social ou contra trabalhadores precarizados, onde a imensa maioria que compõem esses grupos é composta por pessoas negras. A luta contra esse mal deve ser constante. 

Devemos usar nosso poder de fala, nossa reflexão crítica e ocupar diversos lugares de poder para reivindicar o real exercício da democracia. Se o mal existe nas ações de pessoas comuns no decorrer do cotidiano, para além do mal imposto por aqueles que possuem o Poder em suas mãos, devemos remar contra essa maré que só cresce em nível global. 

Denunciemos todas as formas de violência contra os grupos marginalizados pelo sistema. Que utilizemos o mesmo meio que propaga a banalização do mal para disseminar o quão cruel é esse sistema de extermínio. Podemos rever nossas práticas para que essas práticas cruéis de genocídio sejam avaliadas, julgadas e criminalizadas. Que se faça cumprir a criminalização do genocídio, seja da população negra no contexto brasileiro, seja da população palestina, e ambas seguem sendo exterminadas diante de nossos olhos. Não nos calemos diante do mal extremo. 

A nossa luta deve ser constante para que tenhamos um mundo justo, livre e de paz para todas as pessoas, independente de raça, gênero, etnia, cultura, religião e classe social. 

*Karla Maria - Mae de João Gabriel e Cauê - Cientista Social, Militante, feminista da Coletiva Pachamamá 


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Edição: Cida Alves