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Coluna

Sobre a negação de que a tragédia climática é resultado do modo de produção capitalista

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Os responsáveis pelo estado agravante de tragédia no Rio Grande do Sul com certeza não estão entre os mortos e desaparecidos em decorrência das enchentes - Gustavo Mansur / Palácio Piratini
Tem eco na sociedadeo o discurso de negação da relação entre o sistema de produção atual e tragédias

Em 2017, O Instituto de Pesquisa de opinião britânico, Ipsos Mori, elaborou uma pesquisa sobre a percepção de realidade em 38 países.

No ranking que mede a percepção equivocada que as pessoas têm da realidade à sua volta, o Brasil ocupou o segundo lugar, atrás apenas da África do Sul. Nessa época o “aquecimento global” já era pauta polêmica e, por aqui como sempre, já havia uma vanguarda conservadora e negacionista que chamava qualquer alerta de histeria.

Sete anos depois, estamos num cenário avançado dos efeitos do capitalismo desencadeando eventos climáticos extremos, ainda assim, encontra eco na sociedade brasileira o discurso de negação da relação entre o sistema de produção atual e as tragédias climáticas.

Na conta do poder público enfrentamos uma constante secundarização da pauta ambiental, ainda que haja um esforço do governo federal em propor saídas integradas aos governos estaduais e municipais.

No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, Eduardo Leite cortou ou alterou quase 500 pontos do Código Ambiental do estado em 2019.

Se não bastasse todos estes ingredientes para uma receita catastrófica, nesses dias nas redes e nas ruas nos deparamos com boatos, inverdades, mentiras que se espalham pelas redes e, o pior, uma ideia de que os gaúchos “merecem” o que estão passando porque são um povo separatista.

Diante de tanta tragédia e sofrimento eu pergunto: Vocês acham que a elite empresarial ou os grandes donos de latifúndio no estado estão em casas inundadas? Sofrendo o desabrigo e a perda de tudo que conquistaram ao longo da vida?

Os responsáveis pelo estado agravante de tragédia no Rio Grande do Sul com certeza não estão entre os mortos e desaparecidos em decorrência das enchentes.

Volto ao início: cabe a nós a manutenção constante das ações de solidariedade, nos cabe ainda a rejeição completa de qualquer discurso de ódio pautado numa falácia cristã de culpa e punição.

Mas, não basta rejeitar discursos distorcidos, é necessário disputar constantemente a realidade, em tempo de mentiras em doses diárias, precisamos responder com medidas intensivas de realidade.

Por fim, uma questão concreta: Taxar as grandes fortunas é a resposta imediata e necessária para reagir às tragédias climáticas.

*Grifos do editor do texto.

Edição: Pedro Carrano