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Coluna

O vôo dos pássaros

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"O 8 de Março cobra reflexões e atitudes que contribuam para esclarecimento, autocrítica e correção daqueles que julgam, equivocadamente, beneficiar a si ou aos seus, com a permanência de injustiças expressas em discriminações e violências" - Fernando Frazão/Agência Brasil
O 8 de Março é um dia de apelo à construção de parcerias, como lembram os vôos de todos os pássaros

Semana repleta de pautas importantes. Destaque para a metáfora que trata dos avanços da humanidade como o vôo de um pássaro, que dependerá, em seu equilíbrio, das duas asas. Ali estariam o masculino e o feminino, em cooperação e com respeito mútuo, como condição essencial para o desenvolvimento do espírito e da espécie humana.

Uma necessidade óbvia e coletiva que, em termos concretos, evolui de forma lenta, às custas de tragédias cotidianas, temporalmente cumulativas e historicamente relembradas no dia 8 de Março. Por isto, este é um dia de lutas, onde todos são convocados a tomar consciência e a agir em favor de algo tão simples como grandiosamente expresso naquela frase: “ou são mulheres, ou serão seus filhos”.

Enfim, a data cobra reflexões e atitudes que contribuam para esclarecimento, autocrítica e correção daqueles que julgam, equivocadamente, beneficiar a si ou aos seus, com a permanência de injustiças expressas em discriminações e violências que alimentam inaceitável diferenciação de tratamentos e oportunidades, por questões de gênero e orientação sexual.

Sem dúvidas, o 8 de Março é um dia de lutas. Mas é também um dia de apelo à construção de parcerias, como lembram os vôos de todos os pássaros.

Neste sentido, vejamos algumas outras ocorrências desta semana.

No dia 8 de março de 2023, o deputado Nikolas Ferreira, em evidente quebra de decoro parlamentar usou a tribuna da Câmara Federal para expor preconceitos, qualitativamente equivalentes ao racismo, com deboche e negação de direitos relacionados à sexualidade, à opção e à orientação sexual. Será punido de forma exemplar? Depende. O fato repete, em termos criminais, atitudes de seu líder, o ex-presidente que como deputado quebrou o decoro parlamentar falando, entre outras coisas, de matar FHC, de estuprar a ministra Maria do Rosário e de homenagear torturadores.

Lá não houve punição e isso seguramente há de ter estimulado a desfaçatez de Nikolas, bem como ações assemelhadas de parte de muitos outros. A presunção da impunidade evidenciada nestes fatos, parece estar na raiz das discriminações contra as quais se erguem todos aqueles que estão a assumir os compromissos reivindicados no 8 de março.

A reação destes, àqueles e outros crimes, com certeza se pauta por deveres morais e éticos, mas também se relaciona ao medo do que o futuro reservará para os/as filhas/os e netas/os de todos. Afinal, e isso ninguém ignora: todos estamos ameaçados por desdobramentos de uma impunidade seletiva, que premia fascistas, contaminando espíritos fracos e atiçando a criminalidade social.

E aqui vale lembrar outro evento marcante desta mesma semana. Enquanto a família brasileira assiste reprise do Rei do Gado, as mídias informam que o ex-presidente, e sua esposa, receberam de presente joias de valor equivalente a um rebanho de aproximadamente 4 mil bois. Imagine uma fila de uns 100 a 150 caminhões, carregando o valor das joias que estavam na mochila daquele almirante. Presente inédito em escala global, que cheira a propina e que se agrava pelo envolvimento, como mula de contrabandista, de oficial da mais alta patente. E para completar, os registros mostram oito tentativas, envolvendo agentes de governo, militares e até um avião da FAB, para tentar retirar a muamba dos cofres da Alfândega, bem como demissão do chefe da Receita que resistiu às tentativas de liberação.  

Como argumento, o ex-presidente corrupto, que acredita poder se safar também disso porque sabe que do contrário com ele afundarão muitos golpistas, após tratar de registrar as joias como acervo privado, se  limitou a dizer “eu não pedi nem recebi”.

E enquanto estas canalhices nos distraem, avanços do atual governo passam desapercebidos, superando grandes resistências aos mesmos, em todas as áreas.

Não é difícil compreender que o governo Lula, além de negociar com um Congresso pouco sensível aos direitos humanos e às necessidades da maioria do povo, também precisa lidar com tomadores de decisão incrustrados na máquina pública por indicação de ministros do governo corrupto que foi derrotado nas eleições de 2022.

Se trata de realidade dura, que para ser superada, exigirá o povo na rua.

Neste sentido, voltamos ao imperativo de apoiar aqueles que contribuem para a unicidade, e frear/punir aqueles que ofendem a Constituição, os direitos e a dignidade humana. E isso na urgência relacionada ao horizonte curto que 2023 impõem ao governo Lula, e de forma atenta às lutas históricas de mulheres e homens comprometidos com valores de cooperação e confiança.

Sem anistia. Não mais deveres sem direitos. Não mais direitos sem deveres.

Na música de homenagem à luta das mulheres, reafirmada no 8 de Março, Abafaram nossa voz, mas esqueceram de que não estamos sós. 

 

Sugestão de programa educativo e emancipador de consciências - Festa da Colheita do Arroz Ecológico do MST

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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko