CONTRADIÇÃO CRISTÃ

ARTIGO | Os servos de Deus e os demônios na política

Cristãos que defendem candidatos que disseminam o ódio e banalizam a vida negam os princípios de Jesus

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
O discurso político-religioso de alguns cristãos choca a mensagem de paz e humanização das igrejas.
O discurso político-religioso de alguns cristãos choca a mensagem de paz e humanização das igrejas. - Divulgação

Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver [...] Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mateus 25:35-36,40).
A mensagem de Jesus é clara: é uma mensagem de amor, de compaixão, de empatia, de desapego e de serviço aos pobres, desvalidos e excluídos. Ser cristão é ser “servo”, servo de um Deus que se encarnou como homem e se fez servo para habitar entre nós e, assim, nos ensinar a servir. O apóstolo Tiago nos diz que a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas (Tiago 1:27). Quem eram esses na sociedade judaica? Eram os desvalidos, os abandonados. Jesus disse que é nosso dever curar os enfermos, cuidar dos leprosos, ressuscitar os mortos e expulsar os demônios (Mateus 10:8). A mensagem do Verdadeiro Messias é uma mensagem de humanização e não de ódio. Nada mais próximo do que hoje definimos como Direitos Humanos: “direito à vida, à liberdade de expressão de opinião e de religião, direito à saúde, à educação e ao trabalho”. 
De que maneira podemos ser servos? Alguns vão responder: “fazendo caridade”. A caridade é importante para atender os desvalidos de forma emergencial, mas pode servir como “cortina de fumaça” sobre as verdadeiras causas das injustiças em nossa sociedade. É preciso descobrir os mecanismos que produzem os enfermos, os pobres e os desvalidos. Isso é exercitar o discernimento, é ir à raiz da questão, é descobrir a verdade. Combater os mecanismos que produzem desigualdades é o que chamamos de “justiça social”. E ser um verdadeiro cristão é, em seu coração, ter “fome e sede de justiça”. 
Defender candidatos que disseminam ódio, mentira e falta de compaixão, que banalizam a vida de mulheres, negros e homossexuais — defendendo, inclusive, a tortura — e que são a favor da reforma trabalhista, da reforma da previdência, do congelamento dos investimentos em saúde, educação e segurança, é negar os principais ensinamentos de Jesus. É ser a favor do ódio, da enfermidade, da escravidão, da fome e da morte. É acolher os “demônios” da política que têm sede por “roubar, matar e destruir”. 
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (João 10:10)

*Ruth Helena de Sousa é pedagoga, cristã e militante da Consulta Popular.
 

Edição: Heloisa de Sousa