Coluna

A verdadeira história do músico de mentirinha

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Em mais um de seus causos, Mouzar Benedito mostra que as aparências podem enganar
Em mais um de seus causos, Mouzar Benedito mostra que as aparências podem enganar - Divulgação
Em vez de violino, o que tinha dentro da caixa era uma marmita

Tenho visto ultimamente, andando a pé ou nos ônibus, trens e metrô de São Paulo, muitos jovens carregando instrumentos musicais, e fico otimista, pensando que teremos mais e mais músicos de alta qualidade no futuro.

É gente com violino, violão, flautas diversas, sax, trompete, até violoncelo…

Um amigo meio pessimista diz que eles estudam música, mas se quiserem ganhar dinheiro vão ter que esquecer tudo de bom que aprenderam e bandear pro sertanejo universitário, pagode ou axé.

No meu otimismo, insisto que há bons grupos musicais formados por jovens. Esse amigo me disse o seguinte:

― Nas praias frequentadas por surfistas, tem uns caras que ficam andando com uma prancha pra lá e pra cá, mas nem entram na água. Usam a prancha pra se passar por surfistas e paquerar as meninas. São chamados de surfistas da areia.

E completou:

― Será que esses caras que carregam instrumentos musicais não estão fazendo a mesma coisa? Podem estar fazendo pose de músicos só pra impressionar as meninas.

Refutei, dizendo que existem também muitas meninas carregando instrumentos musicais. E elas não precisam disso pra impressionar os rapazes.

Mas lembrei-me de um caso que pode dar razão ao meu amigo crítico. Aconteceu há bastante tempo.

Eu trabalhava num escritório no centro da cidade, e um dos meus colegas de trabalho era o Carlos, que morava na zona leste, e gostava muito de música.

Por isso, ele tinha sempre vontade de puxar assunto com um cara que tomava o mesmo ônibus que ele, de manhã, carregando sempre uma caixa de violino.

Era do tipo de oclinhos redondos, cara de intelectual, que não se enturmava com o pessoal do ônibus.

Tanto o Carlos como o suposto violinista quase sempre tinham que ficar de pé, no ônibus superlotado.

E o Carlos olhava a cara do sujeito que parecia estar nas nuvens, agarrado ao seu violino como se o considerasse uma preciosidade, e tocando mentalmente alguma música.

Um dia, o Carlos chegou bem atrasado ao trabalho, mas rindo sem parar. Perguntei o que era e ele contou:

― Sabe aquele sujeito que eu te contei que vem de ônibus com um violino? Bom… Hoje, o ônibus bateu num caminhão, ele estava de pé, caiu e a caixa do violino abriu. Só que, em vez de violino, o que tinha dentro era uma marmita.

Edição: Mayara Paixão