ENTREVISTA

"Vai acabar com tudo o que a sociedade brasileira construiu", diz sindicalista

Luzenira Linhares, do PT e da CUT, fala sobre a avalanche de retrocessos que o Brasil enfrenta com Bolsonaro (PSL)

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Luzenira Linhares, dirigente partidária e sindical, e também feminista, analisa a perda de direitos do povo brasileiro.
Luzenira Linhares, dirigente partidária e sindical, e também feminista, analisa a perda de direitos do povo brasileiro. - Arquivo Pessoal

Uma série de mudanças vêm ocorrendo no Brasil nos últimos tempos. Medidas recentes adotadas pelo Presidente Jair Bolsonaro (PSL) revelam o caráter fundamentalista, conservador e de ataques à parcela de brasileiros e brasileiras que trabalham no Brasil. Por isso, nesta edição, o Jornal Brasil de Fato entrevistou Luzenira Linhares, presidente do PT em João Pessoa, Secretária de Mulheres da CUT-PB e ex-concorrente a deputada estadual pelo PT nas eleições 2018. Na ocasião, a sindicalista apresentou seu ponto de vista sobre a ofensiva da extrema direita às trabalhadoras e aos trabalhadores brasileiros.

BdF-PB:  Como você viu o aumento do salário mínimo, aquém do esperado, pelo governo de Bolsonaro?
Luzenira Linhares: O presidente Bolsonaro, já na sua estreia, deu sinais de que poderá ser ainda mais cruel com o povo brasileiro do que o golpista Michel Temer. No seu primeiro dia de governo, por decreto, ele reduziu o valor previsto para o salário mínimo de R$ 1.006 para R$ 998 — em 2018, o vencimento base do trabalhador estava em R$ 954. A decisão reforça a política de desvalorização do salário mínimo, iniciada a partir do golpe de 2016, ainda no governo do ilegítimo Temer, e que teve seu menor reajuste em mais de duas décadas em 2017. O valor criado pelo presidente Lula em 2003 e transformado em lei pela presidenta Dilma, que fez renascer a iniciativa colocada em prática em 1940 por Getúlio Vargas, praticamente acaba com a fórmula de reajuste e de valorização do salário mínimo. Lamentável! A política de valorização do salário mínimo é uma das mais importantes formas de distribuição de renda pelo estado.

Como os partidos de esquerda têm enfrentado as ameaças de Bolsonaro?

A esquerda precisa estar unificada e fortalecida, principalmente para conter a onda de violência aprofundada nesses poucos dias de governo do Capitão Reformado, que tem como obstinação a perseguição à esquerda e a criminalização das organizações sociais. Exemplo disso são os assassinatos de lideranças do MST e ataques com invasão aos territórios indígenas. Isso é uma demonstração de como ele vai tratar seus principais opositores. Como foi eleito sem um programa de governo (sua campanha foi à base de mentiras espalhadas por fakenews) e, consequentemente, não sabe o que fazer com a faixa presidencial que ganhou injustamente e ilegalmente, tem que criar inimigos imaginários para “libertar o Brasil do socialismo”, por exemplo. Então, o desafio das esquerdas brasileiras vai além da organização da sociedade por recuperação dos direitos usurpados pelo golpista Temer e agora pelo Capitão do Mato, por democracia e soberania; é preciso demonstrar que a sociedade não se intimidará com as ameaças e que está disposta a lutar por nem um direito a menos.


Como você vê a flexibilização das armas, enquanto cidadã, enquanto mulher e enquanto agente política?

Vejo com muita preocupação, significa aumento da violência. A decisão do Presidente Bolsonaro de flexibilizar as armas é absurda, pode empurrar o Brasil mais um degrau abaixo do processo civilizatório. Só quem pode estar aplaudindo de pé essa iniciativa são os que pregam a violência como cultura e a indústria de armas. A justificativa de que ter uma arma em casa vai aumentar a minha segurança e da minha família é uma grande mentira. Estudos indicam que os riscos de ter uma arma em casa superam os benefícios. Vão aumentar os acidentes fatais, suicídios, intimidação de mulheres e morte de crianças. Bolsonaro é um irresponsável!


Quais foram as medidas de Bolsonaro mais preocupantes até agora?

Todas as medidas até agora são preocupantes, embora não signifique surpresa pra nós porque ele disse que, se eleito, iria fazer exatamente como está fazendo, mas merece destaque a formação de sua equipe, cuja maioria tem histórico ou indício de envolvimento em corrupção — alguns até respondem processo. Pra quem se elegeu prometendo à sociedade que ia acabar com isso, representa uma grande traição. A extinção do Ministério do Trabalho e Emprego que tinha uma grande importância para a classe trabalhadora pela sua função fiscalizadora e fomentadora de políticas de geração de emprego e a flexibilização das armas representam grandes prejuízos e retrocesso à sociedade brasileira.


Qual será o saldo da Reforma da Previdência se Bolsonaro conseguir concluí-la?

O modelo que estão querendo implantar no Brasil é uma tragédia. É o mesmo adotado no Chile há quase 40 anos, cujo resultado é o empobrecimento e a miséria da população idosa. A previdência social é um patrimônio do povo brasileiro e uma importante conquista da sociedade. O maior desafio da sociedade organizada através de suas representações (partidos de esquerda, movimentos sociais, sindicatos) é não permitir que a proposta seja votada no Congresso. Por ser um tema que unifica, não foi aprovada no governo golpista de Temer. Esperamos que essa unidade se mantenha e que a resistência seja capaz de barrá-la. A batalha contra a Reforma proposta pelo ultradireitista Bolsonaro é o que definirá como será a luta de resistência da classe trabalhadora e da sociedade.

Edição: Heloisa de Sousa