RESISTÊNCIA

“A gente está na luta pelo país que começamos a construir e que estão destruindo”

Palavras do pequeno agricultor resumem o sentimento dos camponeses do RS quanto à necessidade de somar-se à Greve Geral

Brasil de Fato | Hulha Negra (RS) |
Jovens camponeses já participaram da Greve Nacional da Educação no dia 15 de maio
Jovens camponeses já participaram da Greve Nacional da Educação no dia 15 de maio - Fotos: Mateus Menezes

Os trabalhadores rurais dos quatro cantos do Rio Grande do Sul estão comprometidos com o movimento em defesa da previdência e da educação pública, mas com a atenção voltada também aos temas do emprego, da saúde, da violência, da cultura, do preconceito, da intolerância.

“Veja bem, nosso país viveu um tempo de bonança, de crescimento, de harmonia, especialmente nos anos do presidente Lula, e hoje o que vemos aí é o caos, estamos andando para trás, só se fala em armas, em perseguição, em tomar direitos dos trabalhadores”, analisa o camponês Luís Paulo Facione, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em Esperança do Sul, na Região Celeiro. 

Quanto ao engajamento na Greve Geral chamada pelas centrais e federações sindicais, além das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo para o dia 14 de Junho, ele não titubeia: “Sempre que o povo do campo foi chamado à dar sua parcela de contribuição para construir um Brasil com mais justiça, com mais dignidade e com igualdade para todos, estivemos prontos e dispostos a colocar o pé na estrada e fazer a nossa parte, então é evidente que agora estaremos juntos de novo nessa luta”.

“Precisamos estar juntos”

O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Isaías Antonio Vedovatto, assentado em Pontão, na Fazenda Anoni, região do Planalto Médio, também destaca a participação dos trabalhadores do campo na greve. “Nós temos essa consciência de que a mobilização em classes isoladas não vai alterar a correlação de forças ou alcançar objetivos para ninguém nessa conjuntura em que vivemos. Precisamos estar juntos, somando com as categorias urbanas como fizemos em outros momentos históricos, não se trata de apenas ‘parar’, mas parar ‘em movimento’, permanecendo em luta, construindo unidade”, explica.

Silvia Reis Marques, assentada da Reforma Agrária em Bossoroca e dirigente nacional do MST reforça esse chamado, relembrando o envolvimento dos movimentos do campo historicamente em todas as lutas, seja pela conquista de direitos quanto pela defesa destes nos momentos em que são atacados. “Ao longo dos 35 anos de luta e de resistência do Movimento Sem Terra, além de fazer a luta pela terra e pela reforma agrária nós nos somamos em todas as lutas do conjunto da classe”, expressou. Para ela, a participação do povo do campo nas lutas populares em unidade com o trabalhador e a trabalhadora urbanos se fortalece nas greves gerais e amplia a pauta da terra, chegando a setores essenciais como a educação, a saúde, a segurança, a habitação como direitos fundamentais da classe trabalhadora.

“Isolados não vamos avançar em nenhuma pauta”

Historicamente os camponeses marcam presença nas lutas unitárias da classe trabalhadora 

Os camponeses e camponesas do RS já estiveram somados às manifestações dos estudantes em meados de maio, quando a sociedade se manifestou contra os cortes do Governo Federal e os objetivos claros de Bolsonaro em fragilizar a educação pública federal. Agora seguem articulando a participação conjunta com os trabalhadores e trabalhadoras urbanos na Greve Geral prevista para o dia 14 de junho.

Questionados a respeito de ações promovidas a partir dos próprios movimentos, tanto o MPA quanto o MST através de suas coordenações regionais expressaram que não deverão protagonizar atos isolados e sim integrar junto com forças sindicais, demais movimentos sociais e populares, bem como estudantes e demais categorias profissionais, compondo conjuntamente a Greve Geral do dia 14 de junho, convidando todos os seus militantes a estarem presentes nos atos regionais mais próximos de sua base.

“Nós estamos sentindo no campo os efeitos dos retrocessos, a violência que está batendo na nossa porta, nossos filhos que estão sendo privados do direito de receber ensino público e de qualidade, a intolerância religiosa, a violência com os povos tradicionais, o preconceito... temos a compreensão de que não é só a previdência social pública que está em perigo - embora essa seja nossa principal bandeira de luta conjunta -, mas o projeto de país e a própria democracia que viemos construindo à custa de muita luta desde a redemocratização e que hoje os que estão à frente do governo visivelmente querem destruir”, alinhava Facione.

“Entendemos que o momento é de construir uma aliança ampla no processo de luta social, construir unidade, compreender que isolados não vamos avançar em nenhuma pauta, ter clareza de convocar a todos e fazer com que a Greve Geral se confirme como a grande possibilidade de dar um passo decisivo no conjunto das categorias”, arrematou Vedovatto.

Silvia arremata a conversa reafirmando o compromisso histórico dos movimentos sociais ligados ao campo com o conjunto da classe trabalhadora: “A gente precisa se fortalecer e se unir para conquistar e defender os nossos direitos, para nós camponesas e camponeses essa postura é decisiva, estaremos novamente juntos nas mesmas trincheiras de luta, seja na greve geral, seja nas marchas, nas ocupações e assim conquistar um projeto justo para o nosso país”. 


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 15) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.  

Edição: Marcelo Ferreira