Mobilização

Na busca por apoios nos estados, campanhas de rua não podem ficar em segundo plano

Lula angaria apoios de ex-presidenciáveis e de lideranças no Nordeste, enquanto Bolsonaro tem novos aliados no Sudeste

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Apoios representam "valor simbólico"  e midiático para as candidaturas
Apoios representam "valor simbólico" e midiático para as candidaturas - Evaristo Sa / AFP

Os candidatos que disputarão a Presidência no segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), estão na busca por apoios a níveis estaduais e municipais e já somam nomes importantes.  

De um lado, o atual mandatário enfileirou ao seu lado políticos do Sul e Sudeste majoritariamente, como os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná. Do outro, foram integrados ao time de Lula os governadores Helder Barbalho (MDB), do Pará, Calos Brandão (PSB), do Maranhão, e Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte.  

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O cientista político Alberto Carlos Almeida, autor dos livros “A cabeça do eleitor” e “O voto do brasileiro”, afirma que os apoios são importantes, porque representam um “valor simbólico” de demonstração de força e robustez diante do eleitorado. Além disso, as declarações de apoio criam fatos midiáticos que mantêm a visibilidade dos candidatos nos veículos de comunicação e redes sociais, formando mais material de campanha.  

“É o aspecto simbólico, midiático e de demonstração de força”, afirma Almeida. “Isso dá densidade à campanha. Mostra a força também do candidato. Se um lado tiver e o outro não tiver, o lado que tem fica favorecido.” 

::Pedetistas apoiam manifesto contra Ciro Gomes::

Beatriz Falcão, cientista política, especialista em Relações Institucionais e Governamentais, também cita a possível transferência de votos dos apoiadores aos candidatos. Além de nomes nos estados e municípios, ex-presidenciáveis e ex-presidentes já se posicionaram em relação ao segundo turno.  

Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que deixaram a disputa no primeiro turno em terceiro e quarto lugar, declaram apoio à candidatura de Lula. Tebet anunciou o posicionamento explicitamente, enquanto o ex-governador do Ceará preferiu deixar o anúncio para o presidente de seu partido, Carlos Lupi.

“O apoio do Ciro, na figura do partido, e o apoio da Tebet são importantes para Lula porque precisa desse eleitorado. Não é a maioria dos eleitores que seguirão essa orientação, mas alguns números mostram que a grande maioria pode seguir”, afirma Falcão. 

Cerca de 54% dos eleitores que votaram em Ciro Gomes devem escolher o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno, enquanto Lula deve angariar 46% dos votos. Já entre os eleitores de Simone Tebet, 92% iriam para Lula, segundo pesquisa PoderData realizada de 3 a 5 de outubro e divulgada nesta quinta-feira (6). 

Apoios não implicam em participação automática em campanha   

O apoio, no entanto, não implica automaticamente na incorporação dessas pessoas na realização de campanha nos territórios. Pode ou não ocorrer de cada um desses apoiadores se tornarem, por exemplo, coordenadores de campanha, com a função de mobilizar o eleitorado nos estados e municípios. Isso dependerá dos arranjos e cálculos políticos costurados pelas articulações.

Um exemplo de apoio exitoso nesse sentido é a aliança costurada no Rio de Janeiro pelo ex-presidente Lula e seus coligados. Eduardo Paes (PSD), prefeito do município, se tornou responsável pela coordenação política nas áreas que tem maior influência, nas zonas Oeste e Norte do Rio. 

“O time que já está na rua vai intensificar o trabalho essa semana. As forças políticas do Rio estão unidas em torno da sua candidatura”, disse Paes a Lula, durante o anúncio de apoio de lideranças do PSD à candidatura do petista, nesta quinta-feira (6).  

“Estou aqui com a deputada Lucinha, a mais votada da zona Oeste, em Campo Grande, Santa Cruz, e a mensagem que passamos aqui é que vamos trabalhar incessantemente. Estamos juntando todas as forças políticas do Rio de Janeiro para lhe dar a vitória”, disse Paes, na ocasião.


Lula (PT) e Eduardo Paes (PSD) / Reprodução/Twitter/Eduardo Paes

Nesse mesmo movimento, André Ceciliano (PT), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), terá como foco a campanha de Lula na Baixada Fluminense. O correligionário já organizou um encontro do ex-presidente com lideranças evangélicas, na próxima terça-feira (13), em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Ceciliano mobilizou o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil) para fazer a ponte com as lideranças religiosas.  

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, o ex-prefeito Rodrigo Neves (PDT) defendeu “empenho” à campanha de Lula. O pedetista receberá o ex-presidente em dois comícios no centro de Niterói. Marcelo Freixo (PSB), por sua vez, ficou responsável pela campanha da candidatura de Lula na Zona Sul do município. 

“Eles vão entrar em contato com as figuras políticas dessas regiões e vão promover reuniões com essas figuras políticas que, por sua vez, vão montar uma equipe de campanha com coordenadores operacionais para essas regiões”, afirma Alberto Carlos Almeida. 

No estado do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro manteve o apoio já esperado de seu correligionário Cláudio Castro, que foi reeleito governador do Rio de Janeiro com 58% dos votos. O estado é o terceiro maior colégio eleitoral do país.  


Cláudio Castro / Antonio Cruz/Agência Brasil

Bolsonaro foi o mais votado em 70 dos 92 municípios fluminenses e conseguiu 51,09% do total, deixando Lula em segundo lugar. O resultado explica o esforço de Lula e seus aliados para fazer campanha no estado com o objetivo de reverter o cenário consolidado no primeiro turno.  

Apoios são importantes, mas campanhas devem ir para a rua 

Os apoios partidários devem ser costurados à mobilização de campanha nas ruas. Nesse sentido, José Genoino, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, defende que as campanhas devem ocupar as ruas com “carreatas e mobilização”, o que foi feito massivamente no Nordeste e ajuda a explicar, em parte, a vitória de Lula na região.  

“No Sul e Sudeste foi uma campanha morna e, numa crise, não se faz campanha morna. Se faz campanha quente. Deve-se fazer campanha de rua, nos terminais, nos metrôs, é andar. Não adianta a gente ficar fazendo reuniões por cima. Campanha eleitoral não se ganha com reuniões com a elite. Se ganha campanha eleitoral na rua”, afirma Genoino.  


José Genoino / José Eduardo Bernardes / BdF

“Vamos ser francos, a campanha em São Paulo, no Paraná e em Minas foi morna. Campanha quente leva as pessoas para votar. No Ceará, por exemplo, quando o pessoal cortou o cordão umbilical com os Gomes. Para derrotar o ACM Neto (na Bahia), tem que esquentar. Tem que ir para a rua e ver as formas de mobilizar, de atrair. Acho que faltou isso na nossa campanha. Nós fizemos uma campanha muito acomodada pela leitura das pesquisas e reuniões de cúpula”, disse em entrevista ao podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato.

“Política só se faz com paixão, com desejo ardente, para que as pessoas se mobilizem para ir votar. Quando você diz que está em jogo causas, sonhos e perspectivas, as pessoas vão votar.” 

Governadores reeleitos e em disputa que apoiam Bolsonaro 

De cada lado, os governadores representam majoritariamente os estados em que Lula e Bolsonaro saíram vitoriosos. O cenário é um pouco distinto, por exemplo, em Minas Gerais. No estado, que detém o segundo maior colégio eleitoral do país, o ex-presidente Lula angariou a maioria dos votos: 48,29% contra 43,60% de Bolsonaro. O governador reeleito Romeu Zema (Novo) declarou apoio ao mandatário apesar de ter procurado se distanciar de Jair Bolsonaro durante a campanha.  

Zema afirmou que se trata de “uma aliança do ponto de vista da gestão para os próximos quatro anos. A gente precisa ter uma conversa mais próxima com o governo federal". 

O estado é considerado um dos mais decisivos na definição de uma eleição, já que, desde 1994, quem vence em Minas ganha a eleição. No primeiro turno de 2018, Bolsonaro, então filiado ao PSL, teve 58,19% dos votos. Na eleição anterior, em 2014, Dilma Rousseff (PT) fez 43,19% contra 39,82% de Aécio Neves (PSDB).

Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que ficou em primeiro lugar no pleito de domingo e disputará o segundo turno com Fernando Haddad (PT), manteve o apoio esperado a Bolsonaro, assim como Rodrigo Garcia (PSDB), que teve 18% dos votos e ficou em terceiro lugar. No estado, que tem o maior colégio eleitoral do país, Bolsonaro também teve a maioria dos votos, com 47,71% contra 40,89% conquistados por Lula.  


Da esquerda à direita: Rodrigo Garcia (PSDB), Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) / Reprodução/Facebook

Além de políticos dos três maiores colégios eleitorais, Bolsonaro repetiu o apoio em estados onde obteve a maioria dos votos: dos governadores reeleitos Ratinho Jr. (PSD), do Paraná; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso; Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal; Gladson Cameli (PP), do Acre; e Antonio Denarium (PP), em Roraima.

"Em meu nome e no nome da nossa população, na sua grande maioria, pela segunda vez, já na eleição passada já tinha feito isso, nessa eleição fez da mesma forma no primeiro turno, deu esmagadora votação no senhor. E a ideia é que a gente possa consolidar isso numa ampliação da votação no segundo turno", disse Ratinho Jr. ao declarar voto. 

Ibaneis Rocha afirmou que têm conseguido trabalhar com Bolsonaro “em plena harmonia”. Por isso, “nada mais natural do que esse apoio agora no segundo turno ao presidente Bolsonaro", disse. 

O atual presidente também tem apoio de candidatos que disputarão o segundo turno: os correligionários Onyx Lorenzoni, no Rio Grande do Sul, e Jorginho Mello, em Santa Catarina. Da região Norte, tem o apoio dos candidatos à reeleição Coronel Marcos Rocha (União), em Rondônia, e Wilson Lima (União Brasil), no Amazonas. Entre os amazonenses, entretanto, a preferência é por Lula, que obteve 49,85% dos votos, conta 42,80% de Bolsonaro. 

Governadores reeleitos e em disputa que apoiam Lula 

Bolsonaro concentra apoios no Sul, Sudeste, e Centro-Oeste, regiões em que totalizou 37,7 milhões de votos no primeiro turno. Já Lula detém a base nos estados do Norte e Nordeste, onde ganhou 26,3 milhões de votos no dia 2 de outubro. 

Entre os políticos dos partidos da coligação de Lula, o correligionário Elmano de Freitas ganhou as eleições no Ceará e garantiu o palanque ao ex-presidente. A mesma situação acontece no Rio Grande do Norte, onde a governadora Fátima Bezerra (PT) foi reeleita. No Piauí, Rafael Fonteles, também do PT, foi eleito. No Maranhão, Carlos Brandão (PSB) saiu vitorioso. A este rol, Lula integrou o apoio dos governadores reeleitos Clécio Luís (Solidariedade), do Amapá, e Helder Barbalho (MDB), do Pará.  

Entre os candidatos coligados que lideram a disputa do segundo turno estão Jerônimo, na Bahia (PT), que representa o quarto maior colégio eleitoral do país, Rogério Carvalho (PT), em Sergipe e João Azevêdo (PSB), na Paraíba. Paulo Dantas, que lidera o segundo turno em Alagoas pelo MDB, e Marília Arras, que disputa o governo em Pernambuco pelo Solidariedade, também estão oficialmente na campanha de eleição de Lula no segundo turno.

Edição: Raquel Setz