Coluna

Bolsonaro não saiu de 2018

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Bolsonaro precisaria ampliar o seu discurso se quisesse ter uma chance - Caio Guatelli / AFP
Gritaria, bravata e teorias da conspiração: Jair Bolsonaro decidiu que 2018 é o seu lugar

A última pesquisa Quaest trouxe um dado muito importante: a avaliação do governo vai bem entre aqueles que já votaram nele em 2018 e mal entre 60% dos eleitores daquele ano, um grupo comporto por aqueles que votaram em Fernando Haddad e também entre aqueles que não votaram em 2018 (brancos, nulos, abstenções e aqueles que ainda não eram aptos a votar). Além disso, de lá pra cá, o eleitorado cresceu 5%.

No segundo turno de 2018, Bolsonaro 57 milhões de votos; Lula já conseguiu essa votação logo no primeiro turno.

Além disso, se analisarmos as pesquisas da Quaest lançadas ao longo de todo o processo eleitoral, é possível ver que Bolsonaro cresceu principalmente quando conseguiu avançar entre aqueles que já foram seus eleitores no pleito anterior, o que é muito ruim.

O fato é que o próprio presidente reduziu o seu universo de votos disponíveis e reforçou isso ainda mais nessa reta final. Isso fica visível nas propagandas que foram ao rádio e televisão.

Enquanto Lula era mais propositivo, Bolsonaro fazia ataques virulentos. Até mesmo a sua famigerada live de quinta-feira, inspirada nas vídeo-mensagens da Al-Qaeda dos anos 2000, a mensagem era para um público restrito, falando dos riscos de um comunismo que nunca virá, Venezuela e apelando para mentiras como atribuir a sigla de Complexo (CPX) ao crime, ofendendo mais uma vez moradores de favelas e periferias.

A mesma pesquisa Quaest pergunta qual o principal motivo para o eleitor rejeitar Bolsonaro. A resposta foi a agressividade do candidato à reeleição. Além disso, a maioria dos eleitores se preocupa com uma piora da economia e disparada da inflação em um eventual segundo governo.

Já um dos principais motivos de temor dos eleitores em relação a Lula é uma fantasiosa transformação do Brasil em um país socialista.

Além disso, todas as pesquisas são unânimes em ressaltar que a percepção do eleitor sobre a economia segue negativa. A economia é o maior impeditivo de voto para o presidente depois da sua agressividade.

Faltando poucos dias para o segundo turno, já não há mais tempo hábil para Bolsonaro ou o governo cometerem mais crimes eleitorais com a intenção de comprar votos dos eleitores.

Além disso, Bolsonaro em nenhum momento modulou o discurso para recuperar aqueles votos que ele recebeu em 2018 e que foram embora para Lula ou viraram brancos, nulos e abstenções. Principalmente nessa reta final, quando ele e sua campanha decidiram concentrar esforços na problemática e falsa história das inserções de rádio.

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Ele não dialogou com ninguém além daqueles que já votam nele.

Enquanto isso Lula atacava principalmente o risco de redução do salário-mínimo e aposentadorias, presente em planejamentos da pasta de Paulo Guedes, e mantinha foco na economia e na renda, chegando até mesmo a lançar uma nova carta aos brasileiros.

A campanha isolacionista do Bolsonaro se reflete também no mapa das intenções de voto:

Centro-Oeste e Sul são as regiões em que, segundo as pesquisas, Bolsonaro tem ampla liderança. Juntas, possuem 21% do eleitorado Brasileiro.

Só o Nordeste, onde Lula aparece nas pesquisas com quase 70% dos votos, tem 27% do eleitorado. No Norte e Sudeste a disputa está equilibrada. Juntas, as regiões possuem 51% do eleitorado. É por isso que Bolsonaro precisaria ampliar o seu discurso se quisesse ter uma chance, principalmente em uma eleição onde o segundo turno já foi antecipado. Não podemos nos esquecer que Bolsonaro está atrás do Lula por um pouco mais de 6 milhões de votos.

É muito difícil um candidato terminar o segundo turno com menos votos do que teve no primeiro turno. Isso só ocorreu uma vez, com Alckmin, em 2006, na disputa contra Lula. Mesmo assim, Alckmin era o segundo colocado nas pesquisas e se manteve assim.

Bolsonaro fez uma campanha inteira como se fosse líder de seita e não de um país.

Edição: Thalita Pires