Coluna

Bolsonaro foi buscar votos em 2018 e na terra plana

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Jair Bolsonaro - Mauro Pimentel / AFP
Nunca na história desse país vislumbrou-se tamanho esquema de coação e compra de votos dos eleitores

O Bolsonaro de 2022 ficou apenas a 400 mil votos de distância de 2018, já no Sudeste Bolsonaro perdeu 1,7 milhão de votos se comparado com a votação que teve na região em 2018. E foi aqui que o presidente Jair Bolsonaro perdeu a oportunidade de conseguir reverter a vantagem de 70% que o presidente eleito, Lula, obteve no Nordeste.

Não por menos Bolsonaro perdeu por conta das duas regiões com maiores eleitorados do país, Sudeste e Nordeste, que juntas representam 70%% do eleitorado.

Esses números só reforçam o meu artigo anterior onde falo que Bolsonaro não saiu de 2018, o futuro ex-presidente basicamente recebeu apenas votos de quem já votava nele e mais alguns poucos. Para vocês terem uma ideia, apenas 0,68% dos votos do presidente foram "novos".

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Isso ficou muito claro nas pesquisas lançadas no dia 29. Diferente do primeiro turno, quem tinha que se movimentar, já havia se movimentado, os poucos eleitores retardatários de ambos os candidatos não produziriam efeitos significantes no resultado.

E mostraram uma estabilidade fatal para quem estava precisando correr atras de mais de 6 milhões de votos. Não é por menos que Quaest, Atlas e Datafolha, MDA e Ipespe reforçaram também essa disputa apertada, voto por voto, mas com vitória do ex-presidente Lula. A tendência foi essa e se concretizou.

Além disso, a abstenção se confirmou como o monstro debaixo da cama. Mesmo com o passe-livre em diversas cidades do país, a abstenção caiu apenas 0,3%, o que dá um pouco mais de meio milhão de eleitores. Como sempre, um grupo massivo e difícil de se mover para qualquer candidatura de forma expressiva.

Brasil rachado? 

Há quem diga que o país está rachado. Acho que a coisa é um pouco mais profunda: o país está "comprado". Esse é o grande mal das análises políticas no Brasil, uma busca angustiante pelas simplificações.

Nunca na história desse país vislumbrou-se tamanho esquema de coação e compra de votos dos eleitores. Foram quase R$ 70 bilhões de reais, além da disparada de 1200% nas denúncias de assédio eleitoral no país com empregadores intimidando seus empregados, além das seguidas ameaças, casos de violência e a escaramuça destrambelhada da Polícia Rodoviária Federal que tentou impedir o voto de milhões de brasileiros.

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Por isso, é difícil afirmar que todos os 58 milhões de brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro sejam complacentes com discursos de ódio, violência, preconceito e indiferentes com o morticínio da pandemia. Logo, não dá para afirmar que o país está rachado na profundidade que alguns alegam, embora seja inegável o fato de que uma parcela considerável de brasileiros compactua e se reconhece nas delinquências do futuro ex-presidente.

Não há nenhum segredo sobre isso. Caberá aos democratas entenderem os motivos desses 58 milhões de eleitores e, se possível, retirá-los da terra plana.

Falando em terra plana, não há mistério algum na derrota de Jair Bolsonaro! Os números e os dados deixam claro, maioria dos eleitores brasileiros estavam em 2022 numa terra esférica enquanto Bolsonaro busca os eleitores dele nos fóruns de internet, na terra plana e ainda em 2018.

Edição: Nicolau Soares