Imprensa unida

Brasil de Fato inicia cooperação com Tiempo Argentino, jornal mantido por trabalhadores

Cooperativa mantida pelos trabalhadores mantém site diário de notícias e impresso semanal com circulação nacional

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Brasil de Fato e Tiempo compartilham o compromisso de fazer jornalismo voltado aos interesses da classe trabalhadora - Reprodução

O Brasil de Fato iniciou, no mês de março, colaboração com o jornal Tiempo Argentino, publicação de alcance nacional e mantida por uma cooperativa de trabalhadores na Argentina desde 2016. Além de jornal impresso dominical e site diário de notícias, Tiempo mantém programa de rádio e produções audiovisuais e de redes sociais. 

Com a parceria, o Brasil de Fato passa a publicar matérias produzidas pelo jornal argentino, que compartilha o viés popular e princípios editoriais de jornalismo aprofundado e de qualidade. No mesmo sentido, as matérias produzidas no Brasil passam a ser publicadas também na Argentina. Além da troca de conteúdos, a parceria também prevê a colaboração em reportagens especiais aliando a experiência de cada veículo e presença geográfica nos países. 

Malena Winer, atual presidenta do Tiempo Argentino destaca a importância da parceria no contexto de cortes do governo ultraliberal de Javier Milei. "O interesse maior de todo meio autogestionado é poder continuar crescendo. Nesse sentido, a aliança com um veículo do Brasil cumpre esse objetivo, nos orgulha e nos permite pensar em expandirmos a circulação a leitores brasileiros, por meio do Brasil de Fato. São dois países importantíssimos para a região e com processos políticos antagônicos, neste momento histórico."

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Com jornalismo feito por trabalhadores para trabalhadores, a linha editorial do Tiempo  reflete necessidades da classe, acompanha seus conflitos e analisa, a partir deste olhar, uma agenda comprometida com os direitos humanos, as discussões de gênero, meio ambiente e a economia popular, solidária e cooperativa - além de cultura e esportes. 

Diante do governo Milei, Winer destaca a importância de interlocução com o público do jornal, identificado a esses temas e aponta os desafios que se colocam, principalmente na área econômica, diante dos cortes de anúncios públicos do governo nos veículos, anunciado pelo novo presidente. “Aparecem claramente desafios econômicos. Somos o maior meio cooperativo na Argentina, com 85 postos de trabalho.”

Nasce uma cooperativa

Criado em 2010, o jornal Tiempo Argentino foi assumido pela cooperativa de trabalhadores em abril de 2016, diante do abandono do Grupo 23, pertencente a Sergio Polk e Matías Garfunkel, no início do governo de Maurício Macri.

O salário dos trabalhadores havia deixado de ser pago ainda em 2015, assim como o aluguel do escritório onde funcionava a redação. Os trabalhadores então levaram as suas reivindicações ao Ministério do Trabalho, que passou a atuar como mediador do conflito e convocou os administradores da empresa para informar que, no caso do não cumprimento de suas obrigações trabalhistas, seus cargos ficariam vagos.

“Permanecemos no edifício porque sabíamos que abandonar a redação claramente nos ia levar a perder nosso espaço de trabalho, mas também essas ferramentas fundamentais para poder levá-lo adiante. E assim ficamos até que, em 19 de abril de 2016, a cooperativa se consolidou por meio de uma eleição”, conta Malena Winer.

24 de março, um marco

O 24 de março de 2016, que marcou 50 anos do golpe que instaurou a última ditadura civil e militar na Argentina (1976-1983), foi uma data fundamental para a consolidação da Cooperativa de Trabajo Por Más Tiempo Limitada, que mantém o jornal, por meio da venda de uma edição especial para aquela data.

A impressão foi financiada por outra empresa recuperada, também mantida em cooperativa, a Gráfica Patricios, que forneceu papel, tintas e mão de obra para a impressão da edição especial, distribuída nas ruas.

“Vendemos todos esses exemplares e, com essa arrecadação conseguimos pagar o que devíamos à gráfica e financiar três edições do jornal. Entre 24 de março e 19 de abril conseguimos consolidar a estrutura técnica e administrativa, para no dia 24 de abril de 2016 sair às ruas com o nosso primeiro impresso dominical como cooperativa”, conta Winer.

Edição: Rodrigo Durão Coelho