Imigrantes

Comunidade nigeriana em SP faz passeata contra fechamento de seu Consulado

Caso fechado, imigrantes teriam que se deslocar até a Embaixada, em Brasília, para resolver problemas com documentos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ato aconteceu na manhã desta terça-feira (1)
Ato aconteceu na manhã desta terça-feira (1) - Divulgação

Nigerianos que residem em São Paulo realizaram uma passeata contra o fechamento do Consulado-Geral da Nigéria, na manhã desta terça-feira (1). A comunidade, representada por cerca de dez mil imigrantes no estado, recebeu a notícia do fechamento do espaço a partir do próximo mês e argumenta que serão muitas as consequências negativas acarretadas para seus membros. O ato partiu da estação Anhangabaú do metrô e seguiu até o Consulado, localizado na Avenida Brasil, Jardim América, em São Paulo (SP).

No cenário em que o serviço na capital paulista deixe de funcionar, nigerianos e nigerianas teriam que viajar até a capital federal, Brasília, para resolver quaisquer problemas de documentação na Embaixada, por exemplo. De três anos para cá, quando o Consulado passou a funcionar em São Paulo, a vida da comunidade que aqui reside, e vem crescendo, melhorou, segundo o presidente do Centro Cultural Africano, Otunbá Adekunle Aderonmu.

Ele está há 24 anos no Brasil, quando veio para estudar bioquímica na Universidade de São Paulo (USP), em uma parceria entre o governo nigeriano e brasileiro à época. Otunbá fala que o motivo apresentado para o fechamento foi a crise econômica pela qual passa o Estado nigeriano.

Ele explica que, com uma produção diretamente dependente da exportação de petróleo — principal matéria prima do país —, a Nigéria sofre com a queda dos preços do combustível no mercado internacional, o que afeta seu PIB (Produto Interno Bruto). Agora, a nação africana busca outras alternativas para fazer com que o país não seja absolutamente dependente de uma única fonte de renda.

No entanto, isso não deve servir de justificativa para uma ação que prejudicaria tantos migrantes que residem em São Paulo, critica. "O governo tem que fazer com que esse Consulado permaneça, nem que tenha que diminuir o custo de alguma forma. [Com a manifestação], o nosso objetivo é que eles procurem outra maneira, e não o fechem", disse Otunbá. "Esse é um custo adicional que a nossa população não tem", completou o nigeriano ao referir-se à necessidade de ir para a Brasília tratar de assuntos na Embaixada.

Quem reforça a crítica é Emmanuel Oluwatuyi, presidente da Comunidade Nigeriana no Brasil. Durante a manifestação, ao Brasil de Fato, ele lembrou que a parcela de nigerianos residentes em São Paulo representa 85% do total no Brasil. Também acrescentou que o Consulado é importante para que as famílias nigerianas no estado possam regularizar seus documentos. "O fechamento do Consulado traz um prejuízo muito grande. Nós queremos entender o por quê", finalizou.

Porque o Brasil

Além disso, o presidente do Centro Cultural Africano lembra o motivo da vinda de muitos dos imigrantes nigerianos para o país: o estudo. Ele também conta das semelhanças tropicais e culturais entre os dois países. "A maioria acaba escolhendo o Brasil pela proximidade da cultura brasileira, que é muito ligada à da África."

Otunbá finaliza lembrando a importância da integração entre os dois países, que pode ser prejudicada com o fechamento do Consulado. "Depois do estudo, descobri que a gente precisa desenvolver a cultura africana em geral. Descobri que o Brasil tem metade da população afrodescendente, que precisa conhecer sua origem. E desde aquele tempo, em 1999, a gente está desenvolvendo este intercâmbio entre Brasil e África", conta. 
 

Edição: Simone Freire