Paraná

Artigo | 16 anos depois da histórica ocupação da ALEP, defesa da Copel segue urgente

A história comprova que o povo do Paraná estava certo ao negar abrir mão de sua maior empresa

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Em 15 de agosto de 2005, os paranaense ocuparam a Assembleia Legislativa contra a privatização da Copel
Em 15 de agosto de 2005, os paranaense ocuparam a Assembleia Legislativa contra a privatização da Copel - Arquivo Fórum Popular Contra a Venda da Copel

Neste dia 15 de agosto de 2017, os trabalhadores da Copel alcançam um marco histórico importantíssimo, com o início do enchimento do reservatório da UHE Colider/MT, nossa primeira usina fora do estado do Paraná.

Por meio deste grandioso empreendimento, a Companhia Paranaense de Energia - Copel avança com êxito para continuar entre as mais importantes empresas do setor elétrico nacional, fazendo jus à ousadia e superação que são marcas de uma história dedicada ao interesse público e à soberania energética paranaense e brasileira. É uma conquista permeada por desafios ímpares do ponto de vista ambiental, social, e de engenharia, que foram e seguem sendo enfrentados com maestria por engenheiros, técnicos e profissionais das mais diversas habilitações componentes do quadro da empresa.

Não poderia haver data mais simbólica para uma conquista como esta: hoje, 15 de agosto, completam-se 16 anos de uma das maiores manifestações cívicas da história do povo paranaense, realizada na luta contra a privatização da Copel, na campanha “A Copel é Nossa”.

Em 2001, a venda da maior empresa paranaense era uma obsessão do governo Jaime Lerner (DEM), iniciativa que era tida como certa, inevitável, e indispensável. Àquele período a Copel teve paralisados grande parte de seus investimentos na manutenção do sistema. Foi humilhada como empresa “ineficiente e onerosa”, fatiada e desestruturada para satisfazer interesses externos. Foi ainda desvalorizada a ponto de seu preço de venda - no leilão marcado para outubro daquele ano - ser de escorchantes US$ 2 bilhões, valor considerado “abusivo” pelos grupos interessados na compra. A empresa passou por uma verdadeira campanha de assédio moral contra seus funcionários, de preparação para a desestatização, obrigados a abrir mão de direitos e conquistas - como o anuênio, por exemplo - em troca de acordos e compensações pífias.

Mas se o governo queria vender a Copel a qualquer custo, os sindicatos e associações de profissionais, as entidades estudantis, os partidos populares, a sociedade civil organizada como um todo se levantaram contra aquele processo, reunindo 426 entidades no Fórum Popular Contra a Venda da Copel.

Um abaixo-assinado com mais de 200 mil assinaturas deu origem ao primeiro Projeto de Lei de Iniciativa Popular do Brasil, que tinha como objetivo revogar a autorização da privatização.

Em 15 de agosto daquele ano, a votação dos deputados era acompanhada atentamente por milhares de manifestantes, em uma das sessões mais longas da história da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP). Neste dia, pela primeira vez em sua história, a ALEP foi ocupada pelo povo, em protesto contra as manipulações do governo para derrubar o Projeto de Lei que impediria a venda.

Cinco dias depois, 20 mil paranaenses foram às ruas, em manifestação que demonstrou não apenas o descontentamento com a política entreguista que já havia dilapidado a Telepar e Banestado. Tornou-se um grandioso ato de desagravo, de demonstração da confiança dos paranaenses na competência e seriedade do quadro de trabalhadores da Copel, de reconhecimento da importância do maior patrimônio de nosso Estado, construído ao longo de décadas.

Embora o governo Lerner tenha ganhado a votação do dia 20 de agosto, por 27 votos a 26, a privatização da Copel estava ferida de morte. Nos meses seguintes, os pretensos grupos compradores, um a um, abandonaram a intenção de compra.

Em vários processos impetrados pelos sindicatos - inclusive pelo SENGE-PR -, a Justiça reconheceu a presença de ilegalidades no processo de privatização, suspendendo e paralisando os leilões. A população passou a rechaçar amplamente a proposta de venda, opinião que ficou comprovada por pesquisas realizada à época: mais de 90% dos paranaenses defendia que a Copel continuasse pública.

O desgaste para o grupo político do governo se ampliou, a ponto de o governador Jaime Lerner, no início de 2002, admitir a desistência da tentativa de privatização.

Superada aquela página amarga, a Copel retomou seu rumo de desenvolvimento.

Se hoje é possível celebrar 62 anos de experiência e competência técnica nas áreas de geração, transmissão, distribuição de energia e telecomunicações, e uma expansão que já chega a 10 estados do país, isto se deve, em muito, aos milhares de cidadãos que mobilizaram-se naquele 15 de agosto, 16 anos atrás. Foi uma contundente resistência contra o pressuposto liberal de que o Estado deve se abster de tudo que não seja garantir a supremacia do mercado, inclusive em monopólios naturais como é o caso do setor elétrico.  

Mesmo datando de fins do século XVII, décadas vêm e vão e a ideologia liberal maquia-se de novidade e tenta impor novamente seu receituário, tal qual faz hoje o governo federal ao discutir um novo marco da regulamentação do Setor Elétrico, visando aprofundar os interesses privados na gestão de serviços públicos, como a Energia.

Conquistas como a alcançada pela Copel no dia de hoje, com a UHE Colider, apesar de todas as dificuldades impostas às empresas públicas no contexto atual, demonstram que o povo do Paraná estava certo ao negar abrir mão de sua maior empresa.
 

*Cicero Martins Junior é engenheiro civil, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná, especialista em Liderança com ênfase em Gestão e funcionário da Copel

Edição: Ednubia Ghisi