MEMÓRIA

Seu Raimundo, um herói paraibano da reforma agrária

Membro das ligas camponesas e fundador do Partido dos Trabalhadores na PB, Seu Raimundo nos deixou no último sábado (23)

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Seu Raimundo com o livro “História da Luta pela Terra e o MST”. - Thaís Peregrino

A história de vida de Raimundo Arante Magalhães, conhecido como Seu Raimundo, confunde-se com a história de luta pela reforma agrária na Paraíba e no Brasil. Sua luta durou até o fim de sua vida, no dia 23 de maio de 2020.

Articulador da ocupação do Assentamento Zumbi dos Palmares, localizado no município de Mari (PB), Seu Raimundo também foi fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) na Paraíba. Lutou nas ligas camponesas, sempre participando das marchas, acampamentos e mobilizações locais e nacionais.

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A história do assentamento Zumbi dos Palmares se mistura à história de vida de Seu Raimundo, que “participou desde a ocupação e esteve sempre presente na luta e no processo de organização desde o acampamento até os dias atuais”, como afirma uma nota do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na Paraíba (MST/PB).

O militante sempre participou de lutas nacionais, entre marchas, acampamentos e mobilizações, superando seus limites e colocando sua vida para a luta.

Tinha um apreço especial pela escola do assentamento. Para ele, a reforma agrária não é feita apenas com enxada, como disse a Kamila Karine Wanderley, em pesquisa para a dissertação de mestrado sobre a construção da Educação do Campo na Escola Municipal Zumbi dos Palmares. Ela também faz um apelo aos estudantes para não perder de vista o horizonte de uma sociedade socialista:

“E vocês estudantes eu peço que tenha esse compromisso para o seu conhecimento e tenha a coragem de enfrentar os grandes latifundiários para a desapropriação de suas terras e para o bem-estar da sociedade. A Reforma Agrária não é feita só para enxada, são para muitas outras coisas que são para o autoconhecimento na parte tecnológica. Nós pedimos aos estudantes que não nos abandone na luta, porque já estou velho e cansado e não posso avançar mais. Espero que vocês sigam o caminho socialista de uma maneira justa e humana e façam uma sociedade entre o campo e a cidade, trabalhando pelo bem comum”, diz.

Seu Raimundo, que estava no assentamento desde 2001 na luta pela reforma agrária, ressaltou que, durante o processo, passou “por muitos vexames e algumas dificuldades eram grande”. Apesar de tudo que enfrentou, durante a pesquisa de Kamila Wanderley, relatou entusiasmado o momento atual, sendo grato por todas as conquistas:

"Hoje, estamos na terra! Temos laranja, banana e criamos muitas outras coisas e formamos família. Os meninos que chegaram hoje são casados e mora com a gente aqui no assentamento. Para começar, foi feito 85 casas, hoje tem mais de 130 dos que se casaram. Estamos de parabéns e o nosso assentamento é muito bom e produz bem. Quando nós chegamos aqui, ninguém tinha uma bicicleta. Hoje, todo mundo tem carro, trator, casa de farinha, gado, muita coisa. Tudo melhorou. Nós temos que agradecer a Deus e ao Movimento Sem Terra, que se somou com nós nessa luta, e hoje somos vencedores. Temos muitas coisas para serem resolvida, mas melhorou bastante", relatou ele à pesquisadora.

Fica registrada a memória desse grande homem que tanto lutou e ajudou a construir a história da reforma agrária no Brasil, contribuindo para diminuir as desigualdades e injustiças sociais, sobretudo na Paraíba.

Em vídeo gravado por Kamila Wanderley, Seu Raimundo deixou uma mensagem para seus filhos, netos e as crianças do assentamento: “Coragem, a luta não acabou, apenas começou”.

Seu Raimundo, presente, presente, presente!

*Com informações de Kamila Karine dos Santos Wanderley, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra da Paraíba (MST/PB).

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Heloisa de Sousa e Camila Maciel