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Bares de BH

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Os botecos do mercado eram sempre abarrotados de gente em pé, apreciando umas cachaças e/ou cerveja bem gelada, e comendo os tira-gostos “oficiais” - Eduardo Alvarado / Unsplash
Independente do nome oficial do boteco, que nem sei qual é, o apelido é que pegou: seis e um

Faz muito tempo que não vou a Belo Horizonte e fico pensando no que têm feito os seus moradores nestes tempos de confinamento, já que eles são campeões de frequência a botecos.

Bar era a praia de mineiro da capital. Dizia-se que Belo Horizonte era a cidade que tinha mais bares “per capita” do mundo.

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Eu gostava muito de ir aos bares do Mercado Central, onde se tomava as melhores cachaças mineiras por preços bem baratinhos. Há alguns anos já não estavam tão baratas assim, entraram na onda de considerar nossa bebida um produto de luxo.

Os botecos do mercado eram sempre abarrotados de gente em pé, apreciando umas cachaças e/ou cerveja bem gelada, e comendo os tira-gostos “oficiais” dali: fígado com jiló e carne acebolada.

Mas eu aproveitava sempre para dar uma chegada numa parte do mercado em que se vendia artesanatos, como panelas de pedra sabão, e ao setor de venda de animais.

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Frangos, ali, eram vendidos vivos, pois é uma tradição na cidade fazer frango ao molho pardo, e para essa comida é preciso ao matar o frango na hora e recolher o seu sangue numa vasilha com um pouco de vinagre, para que continue líquido.

Muitos dos frequentadores do mercado não têm carro, andam de ônibus. Imagine um deles levando um frango vivo pra casa, de ônibus. Cacarejar não tem problema, mas inevitavelmente o frango faria “sujeira” em outros passageiros, o que poderia acabar em briga.

Então, os vendedores de frango desenvolveram uma técnica muito interessante, de embrulhar o frango vivo em jornal, ficando só com o pescoço de fora, de modo que o bicho poderia “fazer sujeira” à vontade. O embrulho do frango era feito numa rapidez danada, o que para mim era um espetáculo.

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Numa época em que ia muito a Belo Horizonte, procurava sempre “descobrir” bons bares. O que achei mais divertido era um sujinho no andar térreo de um prédio na região central da cidade em que funcionam várias repartições públicas.

O serviço nas repartições ia até às 6h da tarde, e um minuto depois o bar ficava lotado. Seis horas em ponto quase todos desciam, boa parte direto para o bar. Saíam do serviço às 6h, e às 6h01 já estavam lá. Daí, independente do nome oficial do boteco, que nem sei qual é, o apelido é que pegou: "seis e um".

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Daniel Lamir