ASSASSINATO

Canal "Al Jazeera" denuncia Israel na Corte de Haia por assassinato de jornalista palestina

Emissora afirma que tese de Israel sobre morte de Shireen Abu Akleh após troca de golpes é "infundada" e pede justiça

|
A jornalista palestina Shireen Abu Akleh foi morta pelo exército de Israel em maio de 2021 durante cobertura na Cisjordânia - Menahem Kahana / AFP

A emissora Al Jazeera anunciou nesta terça-feira (06) que denunciou Israel ao Tribunal Penal Internacional de Haia pela morte da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, assassinada em maio passado em Jenin, na Cisjordânia, em confrontos com o Exército.

Segundo a imprensa local, a TV do Catar tem novas evidências que mostram soldados israelenses atirando diretamente contra a jornalista, atingida por um tiro na cabeça em 11 de maio, enquanto fazia sua cobertura usando um colete à prova de balas com a palavra "press" ("imprensa") e capacete.

"A tese de que Shireen foi morta por engano em uma troca de golpes é totalmente infundada", disse a rede, especificando que as novas provas se baseiam em depoimentos inéditos de pessoas no local, na análise de vídeos e provas forenses.

Leia também: Palestina quer investigação independente sobre assassinato de jornalista por operação de Israel

A família de Abu Akleh expressou apoio à decisão da emissora por meio das redes sociais. "Meses após múltiplas solicitações terem sido submetidas ao Tribunal Penal Internacional, o órgão não conseguiu tomar medidas significativas", afirmou a sobrinha da jornalista, Lina Abu Akleh.

"Quando os estados individuais não estão dispostos ou incapazes de investigar as próprias atrocidades - como é o caso de Israel - é responsabilidade da comunidade internacional garantir que os crimes de guerra não fiquem impunes", completou a familiar.

Em 5 de setembro, o Exército de Israel admitiu que existe uma "grande possibilidade" de que a jornalista tenha sido morta por uma bala disparada por um soldado de suas forças. A conclusão consta em um relatório divulgado pelas Forças de Defesa de Israel.

Também nesta terça-feira, após a decisão da emissora, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, sugeriu que "autoridades internacionais e representantes da Al Jazeera investiguem o que está acontecendo com os jornalistas no Irã e nas regiões vizinhas onde a TV opera".

Depois de recordar que "o cenário" dos acontecimentos foi "de guerra e que foi exaustivamente investigado", Gantz ressaltou que "não há outro exército que opere sob padrões morais como o israelense".

Oposição dos Estados Unidos 

Após o anúncio da emissora, os Estados Unidos afirmaram que "se opõem" à à decisão de pedir ao Tribunal Penal Internacional de Haia que investigue Israel e seu exército.

A informação foi divulgada pelo porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em uma coletiva de imprensa. Ele explicou ainda que os EUA acreditam que o Tribunal Penal Internacional "não tem competência para investigar" questões palestinas uma vez que Israel não faz parte da comissão e não reconhece sua jurisdição.