Luta

Feira | Conheça histórias de assentamentos de onde vieram os feirantes

A luta pela terra é a origem das mais de 300 toneladas de alimentos saudáveis à venda na feira

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Fabíola Pereira mostra os produtos que trouxe do Pará para a Terceira Feira Nacional da Reforma Agrária
Fabíola Pereira mostra os produtos que trouxe do Pará para a Terceira Feira Nacional da Reforma Agrária - Letícia Sepúlveda

Entre as barracas de produtos agrícolas e comidas prontas da 3ª Feira Nacional da Reforma agrária existem muitas histórias de quem lutou e ainda luta pelo seu direito a terra. Uma delas é a trajetória de “Seu” Gervásio Vidal de Brito, conhecido por todos como “Vavá”, integrante do assentamento Vale da Conquista, localizado no Município de Juazeiro, no Estado da Bahia.

“Eu conheci o Movimento dos Sem Terra em 2007. Assim que entrei, passei quatro anos acampado e hoje já faz oito anos que sou assentado. Tivemos muitas dificuldades, passamos por três despejos, mas nós resistimos até o governo aceitar a gente, atualmente temos cerca de 450 famílias assentadas lá.” Ele também conta da importância da produção de alimentos nos assentamentos: “Produzimos manga, maracujá, macaxeira, feijão de corda e também criamos animais, como ovelha, porco, bode e peixe. Tudo que produzimos, a gente investe”.

Gervásio Vidal de Brito - Juazeiro Bahia - Assentamento Vale da conquista. Foto: Letícia Sepúlveda

Adailton Souza Santos, também da região de Juazeiro, integrante do acampamento Abril Vermelho tem uma história um pouco diferente das convencionais. “Cheguei no acampamento por acaso, nunca gostei do movimento. Por um acaso o movimento descobriu que as últimas terras de um lote no Vale do Salitre (no distrito de Junco, zona rural de Juazeiro) seriam entregues à uma empresa que produz cana de açúcar, foi aí que ocuparam essa área”.

Quando o filho de Adaílton se juntou à ocupação ele decidiu conhecer melhor o movimento. “Em uma assembleia ouvi um rapaz falando sobre a ocupação, me interessei, fiz o cadastro e hoje sou acampando do Abril Vermelho há seis anos, minha vida mudou totalmente. Temos no acampamento mais de 400 famílias e também já passamos por despejamentos, estamos esperando que as terras sejam entregues para nós”.

Adailton Souza Santos - Juazeiro, Bahia - Acampamento Abril Vermelho. Foto: Letícia Sepúlveda

O agricultor também reconhece a importância do MST na formação do seu caráter e bagagem cultural. “Melhor do que o acampamento é o movimento como um todo, que nos dá essa possibilidade de viajar, de conhecer pessoas, de conhecer histórias e contar a nossa história. O MST eu não costumo dizer é uma das identidades que eu conquistei, eu costumo dizer que é a identidade que tenho". 

A Rádio Brasil de Fato também entrevistou Fabíola Pereira da Silva, integrante do Assentamento Palmares II, na região de Parauapebas, no Pará. O assentamento foi criado em 1994, desde então passaram por muitas dificuldades até conseguirem se estabelecer nas terras. “Fomos despejados três vezes, até que na quarta vez que nós entramos conseguimos a terra. Tivemos muitas dificuldades, principalmente na questão de alimentação, pedíamos alimentos nas fazendas das regiões. Também tivemos muitas perdas", lembrou.

Atualmente, o assentamento Palmares II é bem desenvolvido, tem escolas, posto de saúde e creche. Cerca de 230 famílias moram na região, produzem diversos tipos de alimentos, na feira é possível encontrar tucupi, castanha do Pará, limão, batata doce, feijão, abóbora e polpa de cupuaçu.

Edição: Mauro Ramos