O presidente do Peru, Pedro Castillo, nomeou seu terceiro gabinete de ministros em apenas sete meses de gestão. Com dez alterações nos Ministérios, agora composto por apenas quatro mulheres em um total de 19, o novo governo será liderado por Héctor Valer Pinto, ex-membro do partido de extrema direita Renovação Popular.
A renovação do gabinete, formado em novembro do ano passado, foi anunciada na última segunda-feira, mas os novos nomes só foram apresentados nesta terça-feira (1).
Além da presidência do Conselho de Ministros, agora com Valer Pinto, Castillo também nomeou um novo chanceler e novos ministros de Defesa, Economia, Interior, Agricultura, Cultura, Ambiente, Energia e Minas e da Mulher.
O presidente peruano indicou um militar reformado, José Luis Gavidia Arrascue, para ocupar a pasta da Defesa e o advogado Aníbal Torres Vásquez para o Interior.
Já César Landa Arroyo, o novo chanceler, tinha sido anteriormente presidente do Tribunal Constitucional e juiz na Corte Interamericana de Direitos Humanos, entre 2003 e 2014.
O economista e ex-diretor do Banco Central de Reservas do Peru, Oscar Miguel Graham Yamahuchi, assume o ministério da Economia.
A nomeação que gerou mais polêmica, no entanto, foi mesmo a de Héctor Valer para chefiar o Conselho de ministros e funcionar com um primeiro-ministro de facto.
Valer foi eleito deputado pelo partido Renovação Popular, mas expulso logo após reconhecer a vitória eleitoral de Castillo. Ele então filiou-se ao partido "Somos Peru", mas acabou rompendo há menos de um mês para lançar sua própria legenda, o "Peru Democrático", com o apoio de outros seis deputados que saíram de seus partidos para a nova bancada.
Durante sua campanha para ocupar uma cadeira no Congresso, ele criticou o "idealismo marxista-leninista" e o que chamou de "ideologia de gênero".
"Este gabinete gerará mais trabalho e estabilidade econômica", afirmou ao assumir o cargo.
Crise anterior
A demora do chefe de Estado peruano em anunciar a mudança do comando da Polícia Nacional (PNP) teria desatado uma crise interna no antigo gabinete de Pedro Castillo.
O ex-ministro do Interior, Avelino Guillén, que foi procurador anticorrupção, havia denunciado que o então comandante da PNP, Javier Gallardo, estaria cobrando subornos entre US$ 25 mil e US$ 40 mil (entre R$ 140 mil e R$ 220 mil) para ascender militares, além de mudar comandos de divisões chaves dentro da instituição militar.
Apesar do pedido de Guillén, o mandatário teria tardado uma semana em mudar o comando policial. Castillo só agiu após a renúncia do então ministro do Interior, que deixou o cargo na última sexta-feira (28).
O caso desatou uma série de outras renúncias e críticas internas ao mandatário.
Mirtha Vásquez deixou a presidência do Conselho de Ministros após três meses no cargo, publicando um comunicado no qual pede a Castillo uma postura mais enfática no combate à corrupção, que considera ser um problema estrutural no Peru. Além disso, ela revela que a discordância sobre o novo ministro do Interior, que iria suceder Avelino Guillén, seria outro fator que contribuiu para que abandonasse o cargo.
"Se as mudanças não acontecerem, ainda mais no próprio entorno do Executivo, não será possível avançar", afirma em carta publicada nesta terça-feira (1).
Ante la imposibilidad de lograr consensos en beneficio del país, informo que hoy presenté mi carta de renuncia al Presidente @PedroCastilloTe, la cual fue aceptada. Reafirmo mi compromiso con el país y los cambios para la justicia social. pic.twitter.com/OseIsX2zo5
— Mirtha Vásquez (@MirtyVas) January 31, 2022
Pedro Francke, ex-ministro de economia, também falou sobre a importância de fortalecer a luta contra a corrupção, "um flagelo que penetra todos os níveis do Estado", pontuou.
O ex-secretário da presidência, Carlos Jaico, publicou sua carta de renúncia denunciando a existência de um gabinete paralelo que orientava as decisões de Castillo e seria "nocivo" para o governo. "A ausência de visão assim como as repentinas mudanças sem justificativa, tanto como coordenação e transparência tornaram minha permanência insustentável", afirmou o Jaico.
Edição: Arturo Hartmann